Alexandre Lucas: Eu vi Lula no espelho

“É preciso reconhecer também que os ataques ao Lula e ao PT se estendem às conquistas democráticas, aos direitos sociais e trabalhistas. É um ataque ao conjunto dos partidos de esquerda, democráticos e progressistas e aos movimentos sociais. É um ataque às periferias, ao povo pobre e negro do nosso país que sofre em escala maior”.

Por Alexandre Lucas*

Lula, Manuela e Boulos - Ricardo Stuckert

Os setores conservadores e reacionários ligados aos segmentos odiosos de algumas igrejas evangélicas, segmentos da Igreja Católica, algumas frações militares, os grandes veículos de comunicação e a elite econômica do país vêm agindo de forma planejada para atacar a democracia e as conquistas da classe trabalhadora. Essa composição ocasionou o golpe iniciado em agosto de 2016, o qual vive uma nova etapa com a prisão do Lula. O golpe arquitetado pelas elites econômicas no país, via judicialização da política e monopólio da mídia, toma uma feição fascista no conteúdo e na forma.

A prisão arbitraria e ilegítima do Lula faz parte deste projeto arquitetônico de acomodação e revezamento das elites no poder. Lula está preso com base em afirmações de criminosos declarados que ganharam em troca ganhos e privilégios da chamada lei da delação premiada.

O governo golpista de Temer amplia os ataques ao povo brasileiro e ao mesmo tempo aumenta a sua rejeição popular, abrindo espaço para uma força política mais atrasada e de extrema direita representada pelo discurso odioso, justiceiro, militarista, fundamentalista e fascista representado pelo criminoso Jair Messias Bolsonaro.

Lula continua sendo a principal liderança das esquerdas no país, do ponto de vista, de aglutinar os mais diversos segmentos da sociedade e de capitanear o maior percentual eleitoral. Lula é o pré-candidato com o maior apoio popular como apontam vários institutos de pesquisa. Lula está preso para ser excluído da disputa eleitoral, esse é o intento dos reacionários e a motivação dos ataques à democracia.

Neste sentido, é preciso reconhecer também que os ataques ao Lula e ao PT se estendem às conquistas democráticas, aos direitos sociais e trabalhistas. É um ataque ao conjunto dos partidos de esquerda, democráticos e progressistas e aos movimentos sociais. É um ataque às periferias, ao povo pobre e negro do nosso país que sofre em escala maior.

A luta por Lula Livre é uma exigência da atual conjuntura política em defesa da democracia e que ultrapassa o viés eleitoral. A disputa nas eleições não está desvinculada também da luta pela democracia, mas são sim partes que se integram na mesma luta pela democratização da sociedade e ocupação dos espaços de poder pelos representantes da classe trabalhadora, leia-se pelos partidos políticos do campo popular, progressista, democrático e de esquerda. Tem muito parlamentar dizendo que defende a classe trabalhadora e estão sempre sentados à direita dos patrões, muitos deles foram responsáveis pelo atual golpe!

Faz-se necessário uma frente ampla neste momento para barrar essa ruptura na democracia que aglutine as esquerdas e suas organizações, os movimentos sociais, coletivos de artes e identitários, os segmentos progressistas do judiciário, dos militares e dos religiosos, a intelectualidade e movimentos de base comunitária, os lutadores e lutadoras do povo brasileiro. Precisamos falar para as multidões e nos organizar entre elas.

A prisão de Lula traz um fato novo: a unidade das esquerdas. A demonstração de convicção e de solidariedade com Lula manifestada pelo PCdoB e o PSOL é de uma grandeza política imensurável e aponta para um realinhamento político e de unidade que deve caracterizar uma frente ampla da classe trabalhadora. Manuela D'Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), ambos candidatos à Presidência da República estão em defesa da liberdade e do direito de Lula ser candidato, essa é a compreensão que está tomando força e reoxigena a unidade das esquerdas no Brasil que se unem contra o fascismo e em defesa da democracia.

Neste momento é tarefa imperativa o esforço individual e coletivo para que cada militante possa ser jornalista da agitação e propaganda na narrativa da democracia e advogado popular denunciando os ataques físicos, simbólicos, difamatórios e caluniosos dos fascistas.

Ocupar todos os espaços: as redes sociais e as ruas, as salas de aulas e os campos de futebol, os bailes funks e as igrejas, as rodas de samba e as óperas, o poder judiciário e os terreiros. Nenhum espaço pode ficar vazio.

Lula assume neste momento o nosso espelho. Somos todos Lula, sem todos serem lulistas ou petistas. Somos todos Lula, porque somos atacados!


*Alexandre Lucas é pedagogo, artista-educador e integrante do Coletivo Camaradas.

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