Papa pede perdão por minimizar casos de abusos sexuais no Chile
O papa Francisco admitiu ter cometido erros graves de avaliação sobre o caso de acobertamento de abusos sexuais a menores por parte do bispo chileno Juan Barros Madrid. Em carta enviada aos bispos chilenos nesta quarta-feira (11), o pontífice disse sentir "dor e vergonha".
Publicado 13/04/2018 11:16
"No que diz respeito a mim, reconheço, e assim quero que o transmitam fielmente, que incorri em graves equívocos de avaliação e percepção da situação, especialmente por falta de informações verdadeiras e equilibradas", afirmou o papa, que em janeiro havia defendido o bispo chileno.
A carta foi redigida após Francisco receber o relatório do arcebispo maltês Charles J.Scicluna, enviado ao Chile para ouvir os testemunhos das vítimas dos abusos.
"Agora, após uma leitura pausada das atas da tal 'missão especial', acredito poder afirmar que todos os testemunhos coletados nela falam de modo descarnado, sem aditivos nem edulcorantes, de muitas vidas crucificadas, e lhes confesso que isso me causa dor e vergonha", ressaltou o papa.
Após o relatório, que recolheu 64 testemunhos coletados de vítimas desde Santiago do Chile até Nova York, o papa pediu "colaboração e assistência" da Igreja chilena "no discernimento das medidas que em curto, médio e longo prazo deverão ser adotadas para restabelecer a comunhão eclesial".
Apesar de não revelar na carta as conclusões de Scicluna, o papa afirmou que os bispos precisam agir para "reparar o escândalo sempre que possível e restabelecer a justiça".
Francisco ressaltou sua intenção de convocar o clero chileno a Roma para "dialogar sobre as conclusões" do documento. "Pensei em tal encontro como em um momento fraternal, sem preconceitos nem ideias preconcebidas, com o único objetivo de fazer resplandecer a verdade nas nossas vidas", disse o papa Francisco.
Juan Barros Madrid, nomeado bispo em março de 2015 pelo próprio papa Francisco, foi acusado de acobertar casos de abusos sexuais que teriam sido cometidos por Fernando Karadima quando era pároco da igreja de El Bosque, em Santiago.
Durante sua visita ao Chile em janeiro, o papa expressou apoio a Barros e qualificou as acusações contra o bispo de "calúnias", afirmando que não havia "uma só prova". Em entrevista coletiva no voo de volta ao Vaticano, o papa pediu desculpas às vítimas pelas declarações, consideradas polêmicas, embora tenha insistido na inocência de Barros.
Na carta aos bispos chilenos, Francisco pediu perdão a todos os que se sentiram ofendidos por suas declarações, expressando o desejo de poder fazê-lo pessoalmente nas próximas semanas, em uma série de reuniões que terá com representantes das pessoas ouvidas por Scicluna.