Manoel Fonseca: Lula e a Eleição 2018

“Urge que Lula, num ato de generosidade e sapiência política, opte pela formação de uma chapa eleitoral representativa da união da esquerda. Só Lula terá as condições políticas de criar esta alternativa. Do contrário poderá ocorrer o desastre de duas candidaturas da direita ou extrema direita irem para o segundo turno, com consequências dramática para o povo, a soberania nacional, os direitos humanos e sociais, a liberdade e a democracia”.

Por Manoel Fonseca*

Lula - .

A prisão de Lula era o alvo maior da Lava Jato, numa sequência do golpe contra Dilma, orquestrado pelo capital financeiro e as grandes corporações internacionais e executado por seus feitores do complexo jurídico-parlamentar-midiático. O objetivo era impedir que Lula derrotasse o golpe, elegendo-se, mais uma vez, presidente da República e desse sequência à sua política de redução das desigualdades sociais, de desenvolvimento inclusivo e de fortalecimento da soberania e autonomia nacional.

O sequestro e isolamento de Lula pelo judiciário, ao arrepio e fazendo letra morta da Constituição Brasileira, são o ápice de uma operação seletiva, cirúrgica e abusiva contra o PT e Lula. Ao afrontar a Lei Maior, a resistência democrática e o prestígio internacional de Lula e prendê-lo, a Lava-jato, na pessoa do juiz Sérgio Moro, cumpre o papel para o qual foi contratado, de quebrar a soberania nacional, realinhar o país ao consenso de Washington e sufocar as forças democráticas e libertárias nacionais.

Junto com um parlamento corrupto e inescrupuloso e com o absoluto apoio midiático da Rede Globo et caterva, o judiciário assumiu o papel de carrasco e feitor da maior caçada a um líder popular deste século. Ao conquistar este valioso troféu, as forças do atraso, da submissão internacional e do complexo de vira-lata não abrirão mão dele tão cedo e vão tentar impedi-lo de falar ao povo, de conquistar mentes e corações e de eleger-se, mais uma vez, Presidente da República. E tudo farão para só libertá-lo após as Eleições de 2018, reduzindo sua influência política no próximo pleito eleitoral.

No momento, Lula é inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa, por ter sido condenado por um órgão colegiado da Justiça, o TRF4. E mesmo que obtenha uma liminar para ser candidato, dificilmente conseguirá ser diplomado, se for eleito, pois isto pressupõe que ele seja absolvido e o julgamento pelo TRF4 seja anulado. A atual Justiça brasileira, completamente contaminada, jamais irá julgar Lula com imparcialidade e absolvê-lo.

Diante deste constrangimento, Lula e o PT enfrentam uma encruzilhada histórica: o que fazer, que estratégia de sobrevivência adotar?

Três ações políticas tomadas pelo PT, com apoio de Lula, tiveram êxitos até agora:

1) A resistência temporária de Lula à voz de prisão, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, criou um clima catalisador da militância, reforçado pelo discurso histórico de Lula em que afirmou não ser mais uma pessoa, mas uma ideia e que as ideias não podem ser presas. Ao se entregar, em seguida e espontaneamente, à Policia Federal e não prolongar a resistência ou mesmo ir para o exílio, como defendiamos, Lula reafirma sua natureza de conciliador e de confiança excessiva nas instâncias legais e, em particular, no judiciário. No entanto, reforçou a imagem do mito do herói, perseguido por defender o povo.

2) A segunda ação política foi a resistência democrática do acampamento Lula Livre em Curitiba, que criou um contraponto fortíssimo ao arbítrio inescrupuloso do juiz Sérgio Moro, que paulatinamente vai perdendo a aura de justiceiro, por sua parcialidade, seletividade de ação contra o PT e seus lideres emblemáticos e por descumprir a Constituição.

3) A terceira ação, a nosso ver a mais estratégica, mas que recebeu pouquíssimo envolvimento do PT, pois participou apenas formalmente, indo cuidar depois da sua estratégia exclusiva da candidatura de Lula, foi a constituição da frente dos principais partidos da esquerda brasileira – PT, PCdoB, PSB, PDT, PSOL, PCO e PCB – e o lançamento na última quarta-feira (18), em Brasília, do Manifesto pela Democracia, Soberania Nacional e Direitos do Povo Brasileiro.

Ao persistir na candidatura de Lula, que é inelegível no momento pela Lei da Ficha Limpa, e ao criar publicamente, no acampamento Lula Livre de Curitiba, a Comissão de Coordenação do Plano de Governo de Lula, o PT captura a esquerda, impedindo a formação de uma frente única de consenso para o enfrentamento das eleições de 2018.

Nesta terceira ação política, o PT, por um lado fortalece a liderança de Lula e inclusive o seu poder de transferência de votos, por outro lado paralisa a formação de uma chapa competitiva e a formação real de uma frente única de centro-esquerda, "a geringonça portuguesa" abrasileirada. O PT e Lula ainda têm um tempo de manobra para persistir com a candidatura de Lula, mas este tempo está se esgotando.

Urge que Lula, num ato de generosidade e sapiência política, opte pela formação de uma chapa eleitoral representativa da união da esquerda. Só Lula terá as condições políticas de criar esta alternativa. Do contrário poderá ocorrer o desastre de duas candidaturas da direita ou extrema direita irem para o segundo turno, com consequências dramática para o povo, a soberania nacional, os direitos humanos e sociais, a liberdade e a democracia. "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer".


*Manoel Fonseca é médico e escritor.

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