Marina Valente- Cai a máscara: Mídia relativiza propriedade do triplex

"Os movimentos expuseram, pela primeira vez, as imagens do triplex, que a grande mídia não havia feito questão de mostrar. Elas transparecem que o local não aparenta ter passado por reforma, muito menos sinais de uma possível instalação de elevador e que é tão pequeno e mal conservado que dificilmente um presidente se entregaria à corrupção por tão pouco”.

Por Marina Valente*

MTST ocupa triplex - Divulgação

Uma ação ousada do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo movimentou a mídia sindical e a grande imprensa na última segunda-feira (16). Os movimentos ocuparam, por volta das 8h30, o triplex do Guarujá, que ocasionou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após processo julgado pelo Juiz Sérgio Moro.

A propriedade do triplex sempre foi questionada pela defesa do ex-presidente e pelo movimento social e sindical do país, além de juristas e políticos tanto do Brasil quanto de outros países. O processo nunca conseguiu efetivamente provar que a propriedade do imóvel era de Lula ou apresentar qualquer outro tipo de prova que envolvesse a liderança política, que lidera as pesquisas eleitorais, em caso de corrupção.

Após a prisão em segunda instância de Lula, desrespeitando a Constituição Federal, ficou mais evidente que o ex-presidente é um preso político. Segundo pesquisa realizada pelo Ipsos, 73% dos brasileiros consideram que os poderosos querem tirar Lula das eleições e 55% acreditam que a Lava Jato (operação que resultou na prisão) faz perseguição política com o ex-presidente.

Neste cenário, a ocupação do triplex pelos movimentos foi fundamental para desmascarar o que está por trás da Lava Jato. Ao ocupar portando a faixa "Se é do Lula, é nosso. Se não é, por que prendeu?", os cerca de 50 manifestantes que entraram no local e os demais que permaneceram na frente do prédio, provocaram uma resposta singular da grande mídia brasileira.

Sem poder confirmar a propriedade, o que impediria a reintegração de posse por parte da OAS (tendo em vista que o mesmo foi colocado à leilão para saldar dívidas da empresa), as manchetes que antes afirmavam categoricamente que a propriedade era de Lula, passaram a utilizar “ atribuído ao ex-presidente”, como mostra o trecho extraído do G1 “que ocuparam o triplex atribuído ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Guarujá, no litoral de São Paulo, na manhã desta segunda-feira (16), desocuparam o local após negociação com a Polícia Militar”. 
Sendo assim, estamos falando de agente externo que atribuiu algo a alguém, e não de uma posse ou propriedade do imóvel.

Além disto, os movimentos expuseram, pela primeira vez, as imagens do triplex, que a grande mídia não havia feito questão de mostrar. Elas transparecem que o local não aparenta ter passado por reforma, muito menos sinais de uma possível instalação de elevador e que é tão pequeno e mal conservado que dificilmente um presidente se entregaria à corrupção por tão pouco. O uso contínuo da palavra triplex, que remete a algo pomposo, em um país onde muitos ainda não têm acesso à moradia, leva à construção de um imaginário de grande luxo, que não corresponde ao local.

*Marina Valente é jornalista sindical.

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