O acordo com o Irã é essencial para a paz, segundo ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo nesta quinta-feira (3) ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para não desistir do acordo nuclear com o Irã, evocando o perigo de uma guerra iminente. Diante das ameaças de Trump em deixar o pacto, o Irã afirmou que não permanecerá no acordo nuclear assinado em 2015 com as grandes potências caso os Estados Unidos se retirarem

Antonio Guterres

Em entrevista à rede britânica BBC, Guterres chamou o tratado de 2015 de uma "importante vitória diplomática" e disse que o mandatário deveria repensar em mantê-lo. "Não devemos nos desfazer a menos que tenhamos uma alternativa válida para isso", disse ele, acrescentando que vivemos em "tempos muito perigosos".

Trump tem feito diversas críticas ao acordo, no qual o Irã concordou em limitar seu programa nuclear em troca de não receber mais sanções do chamado grupo P5+1 – cinco membros do Conselho de Segurança da ONU – EUA, China, Rússia, França e Reino Unido – mais a Alemanha.

O pacto entrou em vigor em outubro de 2015 e passou a ser aplicado em janeiro de 2016 durante o governo do então presidente democrata Barack Obama.

O pedido de Guterres acontece apenas alguns dias depois de Israel revelar supostos "arquivos secretos", acusando o Irã de ter armas nucleares escondidas. De acordo com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, os documentos forneceram provas de que o acordo nuclear foi "baseado em mentiras". O Irã nega a existência de qualquer arma nuclear oculta.

Por sua vez, aliados europeus, a França, o Reino Unido e a Alemanha concordaram que o atual acordo é a melhor maneira de impedir o desenvolvimento das armas. O presidente francês, Emmanuel Macron, assim como a chanceler alemã, Angela Merkel, também pediram a Trump que reconsiderasse a possibilidade de sair do acordo, durante visitas que fizeram a Washington na semana passada.

"Se os Estados Unidos se retirarem do acordo nuclear, nós também não continuaremos", afirmou um conselheiro do Guia Supremo para Assuntos Internacionais, Ali Akbar Velayati, à televisão estatal iraniana.

Mais cedo, o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, declarou que Teerã não aceitará dialogar novamente sobre o texto. Em um vídeo publicado na plataforma YouTube, ele foi categórico: "Deixem-me dizer claramente uma vez por todas: não iremos subestimar nossa segurança, também não vamos renegociar ou modificar um acordo que já colocamos em prática de boa fé".

Na gravação, o chefe da diplomacia iraniana também afirma que os Estados Unidos "violaram frequentemente o acordo, particularmente intimando os outros [signatários do texto] para que eles não fizessem mais negócios com o Irã". "O tratado não previa renegociações ou mudanças de nenhum lado", reitera.

Segundo Zarif, nos próximos dias Washington deve decidir se vai cumprir suas obrigações previstas no texto. "Caso os Estados Unidos continuarem violando o acordo, ou se saírem dele, vamos exercer nosso direito de resposta (…). Aconselhamos os Estados Unidos a finalmente honrarem suas obrigações ou aceitarem as consequências por não cumpri-las", conclui.