Inglaterra: conservadores não perdem, mas não estão mais em alta
A expectativa de que o Partido Trabalhista poderia conseguir algumas das “jóias da coroa” eleitorais do Partido Conservador não foi confirmada nas eleições locais da Inglaterra na quinta-feira (3), e o fato dos Conservadores terem evitado uma derrota deixa a primeira-ministra, Theresa May, menos sujeita a uma revolta dentro do seu partido
Publicado 04/05/2018 18:38

Na média de porcentagem de votos no total de lugares em disputa (mais de 4300 em 150 círculos eleitorais) ambos os partidos obtiveram cerca de 35%. A principal conclusão da eleição, para o jornal Politico, é que dois anos após o referendo, o "Brexit" ainda domina a política britânica, mesmo em eleições locais, e que a forte divisão do país não diminuiu.
Os trabalhistas obtiveram bons resultados em cidades grandes, onde o “não” à sída do Reino Unido da UE foi forte no referendo de 2016. Mas apesar de terem conseguido o seu melhor resultado em Londres desde 1971, não ganharam territórios conservadores, como os municípios de Wandsworth e Westminster, na capital.
“O Labour (trabalhistas) pensou que poderia voltar a ter o controle [de Wandsworth], era uma das suas prioridades e tentaram tudo o que era possível, mas não conseguiram”, congratulou-se Theresa May, de visita a Wandsworth nessa sexta-feira (4).
Os conservadores ganharam sobretudo votos vindos do UKIP, o Partido para a Independência do Reino Unido, que está sofrendo uma crise de liderança após ter conseguido o seu objetivo de um “sim” no referendo ao "Brexit" de 2016.
“Os resultados são um alívio para May e para o Partido Conservador porque sugerem que, apesar do fato dos Conservadores estarem numa guerra civil intermitente por causa do 'Brexit', os problemas do Partido Trabalhista são, possivelmente, piores”, comentou à Reuters Tony Travers, professor na London School of Economics.
O líder do Labour, Jeremy Corbyn, foi muito criticado pelo modo como geriu acusações de anti-semitismo no partido (um inquérito interno avaliou que há “um ambiente por vezes tóxico” de anti-semitismo, e a relatora admitiu que nem todas as recomendações foram concretizadas). Esse foi o motivo visto para o partido perder o círculo de Barnet, norte de Londres, que tem a maior população judaica de um município britânico.
“O Labour terá de conseguir muito, muito melhor do que isto em eleições locais no futuro para poder dizer que está convencendo o eleitorado de um modo mais geral”, comentou ainda Travers.
Já Jeremy Corbyn afirmou que a culpa foi das expectativas altas – na eleição anterior de 2017, antecipada por May, o partido conseguiu muito melhor do que o esperado. Desta vez, aconteceu o contrário. “Ficamos a um fio de conseguir Wandsworth”, notou, e garantiu que o partido está pronto para eleições “em qualquer altura”.
Quanto a May, “ainda que não tenha sido um desastre, estes resultados confirmam que já passou o seu ponto alto, ainda que já soubéssemos disso pelas eleições legislativas”, comentou Faisal Islam, editor de política da Sky News. “Para os tories há um sentimento de alívio, e não de esperança”, resume a editora de política da BBC, Laura Kuenssberg.
Mas, diz Faisal Islam, “a ausência de boas notícias não significa necessariamente que haja boas notícias”, e a preocupação mais imediata para May será agora “que os críticos do plano para o 'Brexit' dentro do partido, que estiveram quietos até depois da votação, deverão agora preparar-se para lutar”.