"Grande mídia tomou a fake news como sua bandeira", diz Inês Nassif

O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé promoveu, na noite desta terça-feira (15), um debate sobre o papel da "mídia monopolista, que pautou, insuflou e vem sustentando a farsa golpista" que colocou Michel Temer na presidência da República.

Paulo Henrique Amorim, Laurindo Lalo Leal e Maria Inês Nassif debatem papel da mídia no golpe que derrubou Dilma Rousseff no Barão de Itararé (16/05/2018) - Reprodução

O encontro marcou o lançamento do livro Enciclopédia do Golpe – Volume 2 – O Papel da Mídia (Editora Praxis), composto por 28 verbetes escritos por jornalistas, acadêmicos, cientistas políticos, filósofos e historiadores.

Participaram da discussão os jornalistas Maria Inês Nassif, Paulo Henrique Amorim e Laurindo Lalo Leal Filho. O diretor da revista Carta Capital, Mino Carta, esperado no evento, não pôde comparecer.

Para Maria Inês, a mídia tradicional participou do processo do golpe que derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff em 2016 com "uma narrativa que fez uso indiscriminado da mentira, a ponto de tirar do caminho qualquer respeito à ética jornalística". "Uma coisa que antecede tudo, nesse golpe da direita, é que a ética jornalística foi para o barro, por água abaixo. Para nós, jornalistas, pesa muito a incorporação da mentira na notícia", disse.

"A grande mídia tomou a fake news como sua bandeira. A narrativa do golpe, do PT corrupto, do Lula que sabia de tudo, a questão do triplex. Toda essa narrativa foi feita pela mídia em cima de fato nenhum. Qualquer jornalista com senso de ética jamais teria escrito", acrescentou.

Lalo Leal apontou o papel da TV Globo e de seu sistema como "estrutural" no processo. "Se o golpe foi político e judiciário, a participação da Globo foi estrutural, porque ela chamou as pessoas para a rua."

Ele lembrou que a emissora da família Marinho chegou a suspender sua telenovela para transmitir uma das manifestações contra Dilma.

"Isso significa que acontecia algo transcendental. Houve uma relação entre a suspensão da novela e o aumento do público na manifestação." Lalo recordou ainda que a TV Globo produziu intensamente chamadas em sua programação em horários nobres, incentivando as pessoas a irem às ruas protestar contra o governo petista de Dilma Rousseff.

Paulo Henrique Amorim abordou o papel da Rede Globo no momento atual, usando o gancho da seleção brasileira, que vai disputar a Copa do Mundo e foi convocada na segunda-feira pelo técnico Tite. "O Jornal Nacional (de segunda-feira) dedicou um minuto e onze segundos à morte de 58 palestinos em protesto realizado em Gaza contra a instalação da embaixada americana em Jerusalém. A notícia sobre a convocação da seleção teve três minutos e dois segundos", afirmou, citando texto publicado em seu blog.

"O momento sublime foi a entrevista ao vivo com o próprio Tite: durou onze minutos e oito segundos", continuou Paulo Henrique. "O importante é que o técnico da seleção nacional do esporte mais querido de um povo seja propriedade de uma empresa privada (e corrupta, segundo os critérios da FIFA) de televisão. A seleção é da Globo. Tite é empregado da Globo."

Ele também apontou responsabilidades dos governos petistas em relação ao tratamento dado à questão das comunicações e verbas publicitárias. "Nenhum governo deu mais dinheiro à Globo do que os governos Lula e Dilma", disse.

Citando Mino Carta, acrescentou: "No governo Dilma, com a chamada mídia técnica, a revista Exame, que sai duas vezes por mês, tinha mais publicidade do governo do que a Carta Capital, que sai uma vez por semana."

Exceção

Lalo Leal começou sua fala dando uma informação, sobre o tema censura, relacionada ao debate do debate do Barão de Itararé. Na segunda-feira (14), estava marcado, no campus de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista (Unesp), um debate sobre democratização dos meios de comunicação. O evento foi cancelado pela diretoria da instituição sem aviso.

A medida da diretoria foi tomada depois de uma denúncia anônima segundo a qual o evento teria caráter político-partidário.