Bolsonaro: menos direitos dos trabalhadores e menos universidades

Em sabatina com presidenciáveis promovida pelo jornal Correio Braziliense, nesta quarta-feira (6), o pré-candidato do PSL à presidência, Jair Bolsonaro, demonstrou mais uma vez que não tem ideia de como resolver a questão econômica brasileira e que ainda sim, sua prioridade não é o povo. Para ele os trabalhadores devem abrir mãos dos direitos para terem empregos e as universidades públicas devem ter menos investimentos.

Bolsonaro na sabatina do Correio Braziliense - Reprodução

Ao responder uma questão sobre a redução da alíquota do imposto de renda, que tributa o trabalhador, mas não o lucro das empresas, Bolsonaro soltou a seguinte pérola: "A minha opinião é de não ter imposto sobre grandes fortunas nem de herança e nem tributar mais ainda essa área (lucros de grandes empresas)".

Refutado sobre como faria então para resolver a carga excessiva que pesa sobre os trabalhadores, o pré-candidato disse que há uma "tributação excessiva" e que se depender dele "ninguém vai ser mais tributado".

Num discurso completamente vazio, cheio de frase feitas, mas sem apontar saídas, Bolsonaro seguiu fazendo críticas à tributação. “O que eu tenho visto ao longo dos anos é que não temos imposto de renda, temos redutor de renda", disse.

Ele disse que o mercado não precisa ter medo dele e chegou a afirmar que "esteve com o mercado" e que prometeu que não fará imposto sobre grandes fortunas e nem sobre heranças.

"Essas medidas de tributar mais, tentar tirar de quem está produzindo a duras penas. Se depender de mim, ninguém mais vai ser tributado, muito pelo contrário", afirmou ele, dizendo que se inspira no que foi feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que reduziu o imposto de renda para empresas.

"Se nós conseguirmos fazer isso, podemos até quebrar o Brasil, mas vai quebrar mesmo", declarou, emendando como uma analogia militar que certamente deve deixar o rentismo de cabelo em pé.

"Chama-se risco calculado. Está encurralado num canto, o inimigo deve estar ali. Tem pouco munição, mas atira. Se o inimigo estiver ali, ganha a guerra. Se não tiver, já perdeu mesmo. Então a questão da carga tributária e imposto de renda, acho que devemos começar gradualmente recuperar esse confisco que ocorreu nos últimos anos", filosofou.

Bolsonaro afirmou ainda que parte da sociedade tem antipatia a ele porque tentam relacioná-lo ao regime militar. Disse que as matérias que tratam sobre a corrupção no regime militar é uma tentativa de atacá-lo. "Todo governo teve corrupção, mas não da forma como se viu nos últimos anos", afirmou ele, que até pouco tempo dizia que nos governos militares não houve corrupção.

Bolsonaro, que ao visitar os EUA, bateu continência para a bandeira norte-americana, disse que pretende diminuir a carga tributária e, para repor esse buraco, pretende fazer entrar "dinheiro novo" no Brasil por meio da "exploração de recursos minerais", estímulo ao turismo, aumento da segurança pública e com a desregulamentação do país para incentivar a economia.

Ainda sobre o tema econômico, Bolsonaro afirmou que presidente da República não cria empregos – "a não ser que abra concurso público". Depois afirmou que pretende diminuir o tamanho do Estado para interferir o mínimo possível no dia a dia do setor privado.

"O que os empresários mais pedem é o Estado interferir menos na atividade deles", afirmou ele, reforçando que há "excessos de fiscalização" sobre os empresários, principalmente no meio rural, "porque leva em conta muita subjetividade".

Disse ainda que vai modificar o programa "primeiro emprego" para a “primeira empresa", para mostrar as dificuldades de ser empresário no país.

"É difícil ser empresário no Brasil. Empregado é maioria, dá mais voto, é fácil você jogar patrão contra empregado, mas não vou fazer isso", afirmou.

A postura de Bolsonaro chamou a atenção. Durante toda a entrevista nunca olha para o jornalista enquanto estava fazendo a pergunta. Sentado, olhando para a frente, parecia ignorar as pessoas em sua volta. Em vários momentos demonstrou a sua típica irritação com a pergunta e respondia em tom irônico.

Por vezes se disse vítima do "ataque' da imprensa e reclamou que imputaram uma frase a ele que é dita pelos empresários, mas reafirmou que o "trabalhador terá que decidir um dia ter mais direitos e menos empregos ou mais empregos e menos direitos".

Outra solução para a crise apresentada por ele é a diminuição do tamanho do Estado, que classificou como "Estado necessário". "Não é zerar as estatais. O que puder jogar para a iniciativa privada, você tem que jogar. Em algumas estatais, rever a questão do modelo, como a Embraer fez no passado", disse.

Ao que questionado sobre quais estatais pretende privatizar, Bolsonaro desconversou dizendo que só vai divulgar quando lançar o programa de governo. Mas o economista Paulo Guedes, que prepara o seu plano de governo, defende privatizar todas as estatais para reduzir a dívida pública.

"Dizer que vamos privatizar o Banco do Brasil? Vou estudar. Tem que avaliar uma série de fatores, e aí quem vai subsidiar o crédito agrícola?", despistou.

"Mariquinhas"

Quando foi questionado sobre o que faria, se fosse eleito, para diminuir o clima de ódio, Bolsonaro voltou a dizer que ele é vítima, mas que é preciso deixar o politicamente correto de lado.

Ele disse que tem muita "frescura" nesse debate e que, no seu tempo de criança, chamar alguém de "gordinho" e de "quatro olhos" era normal. "O gordinho ia lá e batia em você. Hoje o gordinho virou mariquinhas", disse.

Segundo ele, “quando alguém faz uma besteira com um terceiro, ele será isolado pelos próprios colega" e que o que chama de "politicamente correto" é coisa dos "radicais de esquerda".

Sobre a educação, Bolsonaro disse que o governo federal deve reduzir os investimentos nas universidades públicas e focar no ensino básico, pois as universidades se transformaram em formadoras de "militantes".

Sem perder o discurso moralista, defendeu o "resgate dos valores familiares", criticando as discussões de diversidade sexual e de igualdade de gêneros, que ele chama de "ideologia de gênero".