México: violência, fraudes e um sopro de ilusão por mudanças

Faltando poucos dias para que se realizem as eleições federais (Presidência, Senado e Câmera Baixa) e locais no México (governos, chefe do governo da Cidade de México, Congressos locais, câmara de vereadores, juntas municipais e Prefeituras), pode-se falar qualquer coisa menos de normalidade democrática.

Por Ava Gómez e Camila Vollenweider*

Andrés Manuel López Obrador - AP

Em uma campanha que já conta com mais de 400 agressões e 116 assassinatos de políticos e candidatos, vemos como a crise paira sobre um país incapaz de sair da espiral de violência da era Peña Nieto (2012 – atual), do Partido da Revolução Institucional (PRI).

Aos altos níveis de violência somam-se os escândalos de corrupção que se tonaram públicos durante a campanha, com acusações que afetam fundamentalmente os dois candidatos do establishment. Por um lado, José Antonio Meade (Todos por México), que recentemente foi apontado por um desfalque milionário por parte da Odebrecht à Petróleos de México (Pemex) quando foi secretário de Energia e presidente do Conselho de Administração de Pemex, no sexênio de Felipe Calderón(2006-2012). E, por outra parte, a acusação de fraude fiscal que ronda Ricardo Anaya (México à Frente), quase desde o início da contenda.

I

O esgotamento do modelo e o desejo de mudança da sociedade mexicana (80% rechaça o governo do PRI, e reivindica a mudança política — segundo os dados do último levantamento do Latinobarómetro) — permitiram a Andrés Manuel López Obrador (AMLO)manter um crescimento sustentável em intenção de voto para a presidência, com escassas flutuações, desde que começou a campanha eleitoral.

A tendência de preferências cidadãs parece ser clara: Andrés Manuel López Obrador beira 50% desde princípios de junho, enquanto Anaya estancou em 27% e Meade não supera 20%. É sintomático que já não se fale de quem vai ganhar as próximas eleições, mas por quanto AMLO vai ganhá-las.

Também, dentro das eleições federais, a intenção de voto das presidenciais arrasta a tendência do Legislativo, onde se estima que o partido Morena (Movimento de Regeneração Nacional), do candidato López Obrador, será o mais votado.

As pesquisas indicam que atingirá cerca do 40% do sufrágio e sua bancada — somando os votos do Partido Encontro Social (PES) e do Partido do Trabalho (PT) — ocuparia 46% da Câmara dos Deputados. Com esse volume de votos, segundo o sistema eleitoral mexicano, a coalizão poderia obter 260 das 500 cadeiras em disputa. Outra pesquisa recente prevê que a coalizão Morena-PT-ES obteria entre 236 e 298 cadeiras. Em segundo lugar, ficaria a coalizão integrada pelo PAN, com 120 deputados no mínimo e 176 no máximo. No terceiro posto, ficariam o PRI e seus aliados, com o máximo de 105 cadeiras (e um mínimo de 62).

No Senado, a tendência é similar. O total de intenção de voto somado de MORENA, PES e PT é de 46% (obteriam a metade dos senadores), enquanto os partidos PRI e PAN junto com seus aliados atingem 21% e 33%, respectivamente.

II

Nas eleições locais estão em disputa 2.777 cargos na eleição popular. A disputa pela chefia da Cidade de México é uma das mais relevantes (quase 9 milhões de pessoas residem na capital). Ali, a candidata de “Juntos Faremos História” mantém as altas preferências que, a nível nacional, se tem pelos candidatos da mudança. A candidata por esta sigla, Claudia Sheinbaum, tem 38,8%, seguida de Alejandra Barrales, com 23,9%, do “Pela Cidade de México à Frente” (coalizão que, a nível federal, é encabeçada por Ricardo Anaya).

Dos oito estados em jogo, cinco seriam favoráveis a uma vitória dos candidatos de “Juntos Faremos História”: Povoa, Morelos, Chiapas, Tabasco — terra onde nasceu López Obrador — e Veracruz. A coalizão PAN-PRD-MC teria uma vitória contundente em Guanajuato, o PRI em Yucatán e Movimento Cidadão (sem aliança) em Jalisco. Tudo parece indicar que a coalizão liderada por AMLO conseguirá, nestas eleições, mudar de maneira muito significativa o mapa político do país.

III

Ainda que se assista uma mudança política, o passado recente — atravessado pela experiência da fraude nas eleições de 2006 e o escândalo de compra de votos das eleições de 2012 — fazem necessário tomar estes prognósticos com precaução. Não se deve ignorar que as sondagens não contam com o poder das maquinarias no nível territorial. Estas têm um poder que não só se baseia na compra de votos nas zonas mais empobrecidas do país senão, também, na pressão que exercem as bandas parapoliciais e sócias do narcotráfico, que possuem facilidades para a coação do eleitorado. Tudo isso em um país onde a abstenção, historicamente, tem oscilado entre 40% e 60% das pessoas habilitadas para votar. Isto é, na média das taxas de abstenção do México, 45 milhões de pessoas elegem o presidente, em um país de 127,5 milhões.

No entanto, as particularidades destas eleições talvez marquem um antes e um depois na história recente do país do Norte. Um fato sem precedentes é que há 12 milhões de jovens habilitados para votar; para muitos deles é a primeira vez em que se respiram ares reais de mudança. As maquinarias e a violência política são, quiçá duas potentes razões para que, desta vez, a resignação dê lugar à ilusão.