Abel Santamaría, o comandante esquecido

Desde logo esclarecemos que a palavra “esquecido” do título não se aplica à memória de Abel em Cuba, onde ela é reverenciada e continua sendo alvo de constantes homenagens, servindo de inspiração às novas gerações. Mas entre os revolucionários latino-americanos este não é um nome comum, apesar de ter sido o segundo na preparação e no comando dos ataques aos Quartéis de Moncada e Céspedes, acontecimentos que nesta quinta-feira (26) completam 65 anos.

Por Wevergton Brito Lima*

Abel Santamaria

 Talvez isto se explique pelo fato de que Abel tinha apenas 25 anos quando morreu em 26 de julho de 1953 (faria 26 anos em outubro deste mesmo ano) e da revolução cubana tenha participado apenas do que é considerado seu ato inaugural. No entanto, sua influência, antes e depois do ataque, parece enorme. Abel, segundo declarou Fidel, era “o mais generoso, querido e intrépido dos nossos jovens“.

A estes atributos também podemos adicionar o de visionário. Em uma manhã, Abel diz, radiante, a sua irmã, Haydée Santamaría: “Yeyé, conheci o homem que vai mudar o destino de Cuba. É Martí em pessoa “. Ele havia acabado de conhecer Fidel Castro. Deste encontro nasceu uma sólida amizade e uma confiança mútua, que vinha também da completa afinidade de ideais. Juntos, começaram a elaborar os planos do ataque que, segundo planejavam, iria assestar um golpe fatal à tirania de Batista.

Quando chegou o momento da ação, Fidel fez um discurso aos companheiros mas Santamaría também usou da palavra:

“É necessário que todos nós tenhamos fé no triunfo; mas se o destino for adverso, somos obrigados a ser corajosos na derrota, porque o que acontecer lá será conhecido algum dia e nossa disposição de morrer pela Pátria será imitada por todos os jovens de Cuba. Nosso exemplo merece o sacrifício e mitiga a dor que possamos causar a nossos pais e a outros entes queridos. Morrer pela pátria é viver!”

Abel – A Alma do Movimento

Quando do início da distribuição de tarefas para o combate, Fidel, que chefiaria o ataque principal, destacou Santamaría para ocupar o Hospital Civil Saturnino Lora, localizado em frente à entrada principal do Regimento. Abel discorda veementemente. Fidel, no entanto, não recua: “Você tem que ir ao Hospital Civil, Abel, porque eu te ordeno; você vai porque eu sou o chefe e eu tenho que ir à frente dos homens, você é o segundo, eu possivelmente não vou regressar com vida”. Abel então revela o motivo de sua oposição: “Nós não vamos fazer como Martí, ir você ao lugar mais perigoso e se imolar quando mais falta fará a todos”. A réplica de Fidel encerrou a discussão: “Eu vou para o quartel e você vai para o hospital, porque você é a alma desse movimento e se eu morrer você vai me substituir”.

O ataque não foi bem sucedido militarmente, embora tenha sido indiscutivelmente uma vitória política e moral dos jovens revolucionários.

Abel foi feito prisioneiro no Hospital, depois que o ataque ao Quartel fracassou. Imediatamente começou a ser torturado, exigindo os verdugos que ele dissesse o nome do líder do ataque, que naquele momento ainda não estava nas mãos dos assassinos.

Queimaram seus braços, vazaram seus olhos, mas ele nada revelou ao inimigo. Sua irmã, aquela mesma a quem ele havia dado a notícia de que conhecera Fidel, ela também uma heroína de Moncada, testemunhou seus últimos instantes e ouviu suas palavras derradeiras: “é melhor saber morrer, para viver para sempre“.