Engajamento político empresarial mira lucro, não desenvolvimento

O protagonismo empresarial no Congresso Nacional e a presença crescente desse segmento na disputa das eleições é motivo de alerta para o movimento sindical. De acordo com Divanilton Pereira, vice-presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), o papel que o empresariado desempenhou na gestão do ex-presidente Lula na presidência se deveu mais ao interesse em “lucros extraordinários” do que ao compromisso com um projeto de desenvolvimento.

Por Railídia Carvalho

Temer agrada patrões - José Cruz / Agência Brasil

De acordo com dados (ainda parciais) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o mundo dos negócios tem 2.491 candidatos concorrendo às eleições deste ano. Um recorde, que significa mais de 10% do total de candidatos. Em 1998 havia 309 candidatos enquanto em 2006 foram 1.468. 

Em entrevista ao Portal Vermelho, Divanilton enfatizou que o papel desempenhado pelo setor empresarial nas diversas fases da vida brasileira foi motivada pelas condições criadas pelo Estado como principal indutor.

“No ciclo mais recente, nos governos do ex-presidente Lula e da presidenta eleita Dilma Rousseff, foi essa concepção que havia nos anos Vargas. E essa perspectiva repercutiu positivamente sobre a soberania nacional, o crescimento econômico, a mobilidade social e ganhos também para o capital privado e financista”, relembrou Divanilton.

“Mas a grande maioria desse empresariado não atuou nessas gestões por estar convencida de um projeto nacional de desenvolvimento, mas prioritariamente para os ganhos extraordinários. Essa fragilidade colabora também para o nosso padrão de desenvolvimento tardio e dependente no nosso país”, analisou o dirigente da CTB.

Representação política elitista e empresarial

Na opinião de Divanilton, as crises econômicas levaram o empresariado a diminuir a “terceirização” na representação política. “Sempre atento aos cenários políticos, este segmento teve sua influência política. Para tal, financiavam as campanhas eleitorais no país e com isso, garantiam que seus representantes defendessem ou aplicassem suas agendas”.

A crise altera o curso dos planos políticos dos empresários e as regras eleitorais fortalecem a competitividade desses candidatos, observou o sindicalista. “Agora podem utilizar seus próprios vultosos patrimônios para financiar as suas próprias campanhas. A resultante é uma representação distorcida, elitista e empresarial como nunca pelo país afora. Essa desigualdade de condições – propositadamente elaborada – é uma forma de reproduzir no sistema de representação política do país, a primazia de uma classe sobre a outra”.

Os desafios da classe trabalhadora

Divanilton enfatizou que o melhor momento de protagonismo da classe trabalhadora foi através do ex-presidente Lula. “A mais extraordinária, constituída, dentre outros aspectos, sob as bases do fordismo no Brasil, foi a de Lula, a maior liderança popular contemporânea do país. Esse êxito alcançado despertou outras lideranças sindicais a serem também protagonistas pela disputa pelo poder político”.

Ele afirmou que atualmente as regras impõem dificuldades aos projetos eleitorais dos trabalhadores. “Hoje este desafio está na ordem do dia. São centenas de homens e mulheres vinculados ao movimento sindical que estão candidatos pelo país. No que pese o conjunto de reformas aprovadas desvalorizarem o trabalho, são elas próprias, pela dramaticidade de seus efeitos, em especial o desemprego, que alimentam as convicções de combatê-las e revogá-las na esfera legislativa e governamental”.