Ato no Tuca abre contagem para eleição: Lula fala em 'arrancar para a vitória'
Ato na noite desta segunda-feira (10) no Teatro da Universidade Católica, o tradicional Tuca, na zona oeste de São Paulo, marca o início de "arrancada" para vencer a eleições, afirmou em carta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por Vitor Nuzzi, da RBA
Publicado 11/09/2018 09:20
"Vamos arrancar para a vitória nessas quatro semanas", disse Lula em mensagem lida às 21h35 pelo ator Sérgio Mamberti, em um teatro abarrotado (confira a carta ao final do texto), com telões colocados na área externa. A plateia também usou máscaras do ex-presidente. O vice Fernando Haddad permaneceu em Curitiba, onde o PT está reunido – a executiva do partido deve fazer pronunciamento na tarde desta terça-feira (11). "A gente vai recuperar a nossa democracia, seja lá como for", afirmou Ana Estela Haddad, que representou o ex-prefeito e coordenador do programa de governo. "A nossa imagem é reconduzir o presidente Lula pela rampa do Planalto."
A companheira de Haddad foi a penúltima oradora do ato, depois de quase três horas. Alguns discursos indicaram uma reta final de campanha com protagonismo para Haddad e Manuela D´Ávila (PCdoB), mas com esforço pela participação de Lula. "Vamos lutar até o último recurso, até o último momento", disse o ex-ministro Aloizio Mercadante. "Vamos com Lula até o final. Mas o Lula escolheu um representante. É Lula livre, é Haddad, é Manuela", acrescentou.
"Estamos aqui para manifestar a confiança em Haddad e Manuela. Sob a liderança e força de Lula", disse o vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino. "Nas próximas semanas, é o único caminho que nós temos. Não podemos tolerar o avanço do obscurantismo", declarou, defendendo "o voto popular, sem interferência, sem tutelas, a não ser pela letra da Constituição, que precisa ser respeitada". Pelo Pros, discursou Carlos Renato, conhecido como Cacá Camargo.
Candidato do PT ao governo paulista, o ex-prefeito e ex-ministro Luiz Marinho voltou a cobrar o Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito de uma definição para o caso de Lula. "Ele tem de dizer se a decisão da ONU vale ou não vale. É inaceitável que o Supremo se esconda atrás da decisão do Tribunal Superior Eleitoral", disse Marinho, que também prestou homenagem aos militantes que fizeram greve de fome pela libertação do ex-presidente. Um deles, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, participou do ato no Tuca.
Já eram 22h30 quando Marinho passou a palavra para Thiago, de 22 anos, neto de Lula. Durante o evento, ele ocupou uma cadeira que simbolizava a ausência do ex-presidente. Thiago falou rapidamente e se emocionou: "A minha família está sofrendo esse golpe. A minha avó morreu por causa desse processo (Marisa Letícia morreu em fevereiro do ano passado, 10 dias depois de sofrer um AVC). São as pessoas que estão nas ruas todos os dias que nos dão esperança", afirmou, até precisar se consolado por Marinho e por Paulo Okamotto,do Instituto Lula. Ele agradeceu e concluiu: "Somos todos a mesma ideia. Lula livre!".
Para Luiz Dulci, também ex-ministro e diretor do Instituto Lula, há mais questões em jogo na eleição. "Essa batalha que estamos travando não só para quem vai governar o país, mas quais os valores que vão prevalecer. Vamos ter ou não liberdade de expressão artística, de reflexão coletiva. Não há democracia sem liberdade intelectual, sem autonomia universitária."
Ele repudiou ação policial na Universidade Federal de Minas Gerais, no final do ano passado, e episódios que façam com que "reitores sejam induzidos ao suicídio, como aconteceu na Universidade Federal de Santa Catarina", referência a Luiz Carlos Cancellier, que se matou há quase um ano depois de investigações que, pelo menos até agora, nada provaram contra ele. "É também um ato em defesa da liberdade intelectual, em defesa da democracia, no sentido mais amplo e mais pleno", completou Dulci sobre o evento no Tuca.
A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias, disse representar uma geração "acostumada com o Brasil que dá certo", referência aos programas sociais do governo Lula. E o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello disse que o ex-presidente "simboliza nosso desejo de vida melhor".
Liberdade e felicidade
Mercadante fez menção, sem citar o nome, ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), que falou em, eleito, entrar no Ministério da Educação com lança-chamas para "tirar Paulo Freire" de lá, falando do Patrono da Educação do Brasil e referência mundial no setor. "Vocês não vão ganhar a eleição. E o Paulo Freire vai continuar sendo o educador da liberdade. Educação é um bem público, é um direito de todos", afirmou o ex-ministro.
Candidato do PT ao Senado, Jilmar Tatto desejou "sucesso nessa nova empreitada" a Haddad e Manuela. O também candidato Eduardo Suplicy, que lidera as pesquisas, puxou um coro de Blowin´ in the wind, canção de Bob Dylan conhecida também na voz da cantora e ativista Joan Baez.
Quase no final, Sérgio Mamberti leu, durante quatro minutos, a carta encaminhada por Lula. O público cantou, acompanhado do trompetista (Fabiano Leitão, de Brasília) que se tornou famoso nas redes sociais por tocar o jingle do ex-presidente em locais públicos. "Alguns dos maiores intelectuais do Brasil não passaram pelo banco da universidade", disse a candidata a vice-governadora de São Paulo pelo PT, a psicóloga e professora Ana Bock.
Manuela D´Ávila lembrou que esteve no Tuca pela primeira vez para assistir a uma montagem de Feliz Ano Velho, baseada no romance de Marcelo Rubens Paiva. "Este é um ato sobretudo pela liberdade. E felicidade. E também em defesa da liberdade de Lula. Lula livre é o Brasil livre", afirmou, destacando a importância da reta final de campanha. "A elite brasileira age com todos os seus esforços para que nós não ganhemos a eleição. Eles fizeram de tudo para que nós não voltássemos ao governo. São cinco meses (desde a prisão de Lula), e a única coisa que acontece é ele crescer na pesquisa."
Em nome do "time de Lula", a representante do PCdoB cobrou reconhecimento, pelo Brasil, de decisões da Organização das Nações Unidas (ONU). "Nestas semanas, independentemente da decisão do STF, temos o desafio de sermos milhares de Lula. A nossa missão é essa. É naquele dia (7 de outubro, data do primeiro turno) que a gente vai valorizar o salário mínimo ou não vai, que a gente vai ter Estado democrático de direito ou não, se a gente defende o direito dos trabalhadores e revogação da reforma trabalhista ou não, se vai ou não revogar a Emenda 95 (de congelamento dos gastos públicos", emendou. "O outro nome da paz é justiça social."
O ato no Tuca também defendeu a ciência e a pesquisa. Quatro livros foram lançados na noite de ontem: Comentários a um acórdão anunciado, Luiz Inácio Luta da Silva, Vontade popular e democracia e Dilma Rousseff – a senhora da democracia. Todos de produção coletiva.