Bolsonaro: “A mais recente ameaça da América Latina”

Sob este título, a revista inglesa The Economist desta semana publica um artigo sobre as próximas eleições presidenciais no Brasil, citando na abertura do texto um filme protagonizado pelo ator Antônio Fagundes e escrito numa parceria de Cacá Diegues e João Ubaldo Ribeiro: "Deus é brasileiro". No filme, Fagundes interpreta Deus, que resolve tirar umas férias e para substituí-lo sai procurando um “santo” no Nordeste do país para ficar em seu lugar.

Bolsonaro

Desta forma a revista procura apresentar o candidato Jair “Messiah” Bolsonaro como uma possibilidade concreta de ser eleito presidente do Brasil – “um populista de extrema-direita” — que se propõe a dar um jeito nas mazelas do maior país da América do Sul, com sua violência urbana, sua alta criminalidade e seus problemas econômicos e finanças públicas em crise endêmica, segundo eles.

Em seguida, a The Economist conceitua que Bolsonaro promete a salvação, mas que na verdade ele é uma ameaça para o Brasil e a América Latina. Compara Bolsonaro a Donald Trump, nos Estados Unidos, Rodrigo Duterte, nas Filipinas, Matteo Salvini, na Itália e vejam só: Andrés Manuel López Obrador, no México. Promove uma grande confusão entre um presidente recém-eleito no México pela centro-esquerda, com o populismo xenófobo e protecionista de Trump, o autoritarismo de Duterte e o ultra-direitistismo de Salvini.

Na argumentação do artigo, a revista inglesa conclama os brasileiros a não se enganarem. Além de sua visão social “não-liberal”, dizem eles, Bolsonaro revela uma admiração preocupante por ditaduras. Neste ponto lembram que ele, como deputado, dedicou seu voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff a um comandante do Exército que foi responsabilizado por mais de 500 casos de tortura e por 40 assassinatos de presos políticos sob seu comando, durante o Regime Militar. Seu vice candidato a presidente, general Hamilton Mourão, diz o texto, quando ainda estava na ativa, no ano passado, declarou que as Forças Armadas deveriam intervir para salvar o Brasil de seus problemas.

Entre outras propostas do candidato Bolsonaro, lembra a revista, para deter o avanço do crime organizado a solução seria matar mais criminosos, dado que em 2016 a polícia brasileira já teria matado mais de 4 mil pessoas. Talvez Bolsonaro não seja capaz de converter seu populismo em uma ditadura do tipo de Pinochet, no Chile, pondera o texto, mas a democracia brasileira ainda é muito jovem, e qualquer flerte com o autoritarismo é preocupante.

Ao final, o artigo chama atenção para outro aspecto importante da realidade do presidencialismo praticado no Brasil, onde segundo eles os presidentes brasileiros precisam estabelecer alianças para conseguirem governar com o Congresso Nacional para aprovar novas leis. E ele é homem de poucos amigos entre os políticos. Para governar, segundo a revista, Bolsonaro teria de degradar ainda mais a política, o que poderia significar a pavimentação de caminhos para lideranças ainda piores do que ele.