Funk 'Proibidão do Bolsonaro' é machista, misógino e violento. #EleNão
Estarrecedor, misógino, machista e chulo são alguns dos adjetivos atribuídos ao “funk” Proibidão do Bolsonaro, de autoria do MC Reaça, em cuja letra as feministas “comem ração na tigela” e as mulheres de esquerda são comparadas a “cadelas”. Cantada à exaustão na “Marcha da Família” (sic) realizada domingo (23), no Recife, por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL), a “música” gerou manifestações de repúdio por parte da CTB-PE, OAB-PE e da Assembleia Legislativa do Estado.
Publicado 26/09/2018 15:57 | Editado 04/03/2020 16:55

Em nota, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) de Pernambuco criticou “o tratamento de ódio às mulheres dispensado pela candidatura do PSL, além de todas as demais alusões ao fascismo defendido por seus correligionários. Na letra, a total disseminação do ódio e a comparação das mulheres a animais”. A CTB-PE reforçou ainda o convite para o evento Mulheres Unidas contra Bolsonaro, que acontecerá em todo o Brasil e em vários países do mundo. No Recife a manifestação será na Praça da Democracia, localizada no Derby, às 14h do próximo sábado (29).
Nota da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Pernambuco (OAB-PE), por meio da Comissão da Mulher Advogada (CDMA), também repudiou as ofensas. “Os estarrecedores trechos da música reduzem as mulheres à condição análoga a de seres irracionais e incitam o ódio, a violência e o preconceito contra aquelas que se reconhecem feministas e/ou que têm orientação política diversa do aludido candidato". Leia abaixa a íntegra da nota da OAB-PE.
Não à violência
A Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe) também se manifestou. “A capital pernambucana ganhou destaque nacional neste domingo (23) após ter sido palco de manifestações de ódio contra as mulheres com posicionamento político de esquerda”, afirma nota assinada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alepe.
Em outro trecho da nota, a Comissão destaca que diante do “conteúdo machista, linguajar chulo e violento” (…) se sente na obrigação moral de formalizar seu repúdio à propagação da referida música. “Não há justificativa para tal comportamento. Não há lugar para manifestações políticas machistas e misóginas, seja de que partido ou candidato for. As mulheres não podem ser tratadas como uma piada e exigem respeito. O Brasil – e Pernambuco não foge à regra – já conta com índices absurdos de violência contra as mulheres. Não precisamos de fatos novos com potencial para agravar este cenário já inadmissível”.
O presidente licenciado da CUT/PE, Carlos Veras (PT), também criticou o ‘funk de Bolsonaro’. “Chamar as trabalhadoras e os trabalhadores brasileiros de ‘mortadelas’ e as mulheres de ‘cadelas’ é de um brutal desrespeito que nem mesmo as cidadãs e os cidadãos mais conservadores podem concordar com tamanha afronta à honra, às ideias e aos ideais das pessoas”, avaliou o petista.
Para ele é necessário elevar o nível de debate em torno de propostas que “ajudem a retirar Brasil do abismo onde se encontra e construirmos uma nação cujo nível do debate não seja a quantidade de pelos no corpo de uma mulher, mas o direito da mulher sobre seu próprio corpo; um debate que não se restrinja à mortadela, mas se amplie para o direito de todas as brasileiras e brasileiros à segurança alimentar com mesa farta e alimentos de qualidade”.
“Proibidão do Bolsonaro”
Cristão, gaúcho, comediante, instrutor de boxe. Esse é o perfil de Tales Volpi, o MC Reaça, autor do “funk” que agride as mulheres de esquerda ao compará-las com “cadelas”. Em sua página no Facebook, Tales Volpi faz zoeira com a reação aos insultos às feministas: “Já somos notícia no UOL hahhahah É melhor Jair me censurando ”, faz pouco caso o seguidor obstinado do ex-capitão do Exército. Ele exibe também um vídeo postado em 17 de setembro em que aparece com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (RJ), filho do candidato, que elogia a “música”, como “da melhor qualidade”. A “música”, uma paródia ofensiva do funk “Baile de Favela” (também ofensivo), que exalta Bolsonaro e destila preconceito contra adversários já havia sido compartilhada por outro membro do clã, Flávio, deputado estadual pelo Rio de Janeiro, em abril deste ano.
Em um clipe no Youtube, Tales (foto acima) chama a música de “Proibidão do Bolsonaro” e aparece saudando o militar da reserva, enquanto grava a paródia. Ele usa imagens de Bolsonaro chutando o boneco do ex-presidente Lula, além de criticar várias políticos do campo progressista, como o deputado federal Jean Wyllys, o candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, e a candidata à vice na chapa de Fernando Haddad (PT), Manuela D´Ávila. Ao final, Bolsonaro aparece lendo um papel e gargalhando. “Um forte abraço”, diz o candidato do PSL, antes de fazer o típico gesto mostrando armas com os dedos.
"Mortadela, ração e cadelas"
“Dou para CUT pão com mortadela e para as feministas, ração na tigela. As mina de direita são as top mais belas enquanto as de esquerda têm mais pelos que as cadelas”, diz o principal verso da “música”. As deputadas federais Maria do Rosário (PT), Jandira Feghali (PCdoB) e a ex-deputada federal Luciana Genro (PSOL) são citadas nominalmente na paródia.
Leia abaixo a íntegra da nota da OAB-PE
A Comissão da Mulher Advogada (CDMA) da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Pernambuco, manifesta seu profundo repúdio a uma das músicas cantadas neste domingo (23.09) durante a "Marcha da Família" do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, que aconteceu no bairro de Boa Viagem, na cidade do Recife.
A letra, entoada em coro, afirma que às feministas deve ser dada "ração na tigela" e que as mulheres "de esquerda têm mais pelo que cadela".
Os estarrecedores trechos da música acima transcritos reduzem as mulheres à condição análoga de seres irracionais e incitam o ódio, a violência e o preconceito contra aquelas que se reconhecem feministas e/ou que têm orientação política diversa do aludido candidato.
Em tempos em que, a cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil, segundo dados do Relógios da Violência do Instituto Maria da Penha, não se pode admitir que, sob o manto da liberdade de expressão, qualquer partido político, seja ele de direita ou de esquerda, ofenda publicamente uma coletividade de mulheres, reforçando a cultura machista e misógina que, infelizmente, ainda insiste em matar muitas mulheres todos os dias. Ana Luiza Mousinho /Presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB PE.
Do Recife, Audicéa Rodrigues