Manuela: "Brasil precisa de um governo de coalizão"

Em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta terça-feira (2), a candidata a vice na chapa de Fernando Haddad ao Planalto, Manuela D'Ávila (PCdoB) afirmou o país precisa de "um governo de coalizão nacional" que posso pôr fim à crise política instaurada desde a golpe de 2016, e que promova maior participação popular.

Manuela Capina Grande - Reprodução

"O Brasil precisa acabar com esse ciclo de guerra política iniciada com o impeachment. Precisamos governar com os melhores quadros do país, e eles estão na política institucional e fora dela", enfatizou Manuela, rebatendo a tese de que a eleição está polarizada entre esquerda e direita.
“Talvez a principal polarização seja entre quem acredita em saídas democráticas para a crise e quem não acredita. O que a gente vê nas ruas é uma reação àqueles que dizem que não vão reconhecer o resultado das urnas, que dividem os brasileiros entre homens em uma categoria e mulheres em uma segunda categoria”, afirmou a candidata. “Temos tentado dizer que somos esse lado, que defende a democracia. Para mim, os acenos são a esse campo democrático”, completou.

Questionada sobre como essa coalizão se daria do posto de vista dos partidos que votaram a favor do impeachment, Manuela reafirmou que coalizão não se faz com vingança, muito menos na política. Segundo ela, o programa de governo será a base para aglutinar os diversos setores da sociedade, tendo a retomada do desenvolvimento como compromisso.

“A gente tem um programa claro e é ele que vai nos nortear. O Brasil precisa de um governo de coalizão nacional, abrir um novo ciclo de unidade para sair da crise. Imagina a gravidade que seria ter no comando do país alguém que não tolera opiniões diferentes das suas, que questiona a opinião da maior parte do povo, se for derrotado na eleição”, frisou.

Manuela reforçou que as manifestações ocorridas no último dia 29, demonstram que não é possível governar sozinho no Brasil. “O governo precisa ser profunda e radicalmente democrático. Retomar etapas que avançou lá atrás, de participação popular. A rua é a manifestação de que o povo quer participar dessa construção e essas pessoas não são dos nossos partidos. A gente precisa governar com essas pessoas”, declarou.

Sobre a participação do PDT num eventual governo, Manuela destacou que os governos Lula e Dilma nunca governaram sozinhos. “No sentido partidário, a gente nunca governou sozinho. Como imaginar governar sem o PDT? É um partido que tem um programa com muitos pontos em comum com o nosso”, afirmou.

Ao ser questionada sobre como incluir Ciro Gomes, candidato do PDT, na aliança se ele declarou que não pretende compor com a coligação que o PT integra, Manuela esclareceu que não se refere estritamente ao processo eleitoral. “Só temos um instrumento, que é o programa de governo: lá estão as formas que a gente compreende para o país sair da crise. Assim que a gente aglutinará as pessoas até o fim do primeiro turno, assim que a gente vai vencer as eleições e governar”, disse.

Manuela também rebateu a declaração de Bolsonaro que afirmou que não aceita nenhum resultado que não seja a vitória dele na eleição. “O dia 29/09 é resposta a um conjunto de declarações do nosso adversário, que perderá. As pessoas foram para a rua dizer que defendem a democracia”, enfatizou.

Questionada sobre quais são as propostas do programa de governo para as mulheres, Manuela salientou que há uma visão equivocada de que as pautas das mulheres podem ser colocadas “em uma caixinha do programa”.

“Vamos falar sobre mulher e aí são dois ou três itens sobre a saúde da mulher. Para nós, mulher não é uma caixinha do programa. Quando a gente propõe revogar a reforma trabalhista, pensamos que metade das mulheres, depois da licença maternidade, não consegue vaga no mercado de trabalho. Com a informalidade, as mulheres vão ser mais punidas. Com a revogação do teto dos gastos públicos, a gente vai voltar a investir em creche. Não há saída para a crise que não passe pelas mulheres e por propostas que sejam inversas às do governo Temer. Para mim, o que interessa mais às mulheres hoje é revogar a reforma trabalhista e a PEC do teto de gastos”, argumentou.

Sobre as medidas econômicas, Manuela foi indagada para falar sobre como pretendem corrigir o desequilíbrio nas contas públicas e na Previdência e ainda garantir o crescimento econômico. A candidata lembrou que as projeções dos economistas do mercado apontavam que as medidas do Temer iam diminuir o déficit e o déficit aumentou.

“Ele [Temer] é um case de fracasso. A tradição brasileira é de movimentar a economia a partir do conjunto de investimentos públicos. Retomar as obras públicas, como o Minha Casa, Minha Vida, que faz justiça social, mas gera um volume de emprego muito rápido e, com isso, aquece a economia a partir da retomada do consumo; conceder crédito a juro baixo para que as pessoas paguem suas dívidas e voltem a empreender e a consumir; diminuir a cobrança de impostos de quem recebe até 5 salários mínimos… Sim, a gente já fez isso acontecer em outro período de crise”, defendeu.