Na Europa, políticos como Bolsonaro não trouxeram finais felizes

Húngria, Polônia e Ucrânia. Esses são alguns países em que políticos e partidos com ideias como aquelas de Jair Bolsonaro (PSL) chegaram ao poder – e o final não foi feliz

Por Alessandra Monterastelli 

Bolsonaro e Orbán

Na Húngria, o candidato ultraconservador Viktor Orbán foi reeleito em abril desse ano, com seu discurso extremamente nacionalista. Em setembro, seu governo foi acusado internacionalmente de tomar decisões que põem em risco as normas do sistema constitucional e eleitoral do país, além de ameaçar e a independência e o funcionamento do poder judicial e outras instituições, principalmente aquelas acadêmicas e não-governamentais. Resultado: o Parlamento Europeu aprovou punições contra a Húngria, que cada vez mais se isola tanto dos outros países europeus, quando do resto do mundo.

Ainda em setembro desse ano, Orbán propôs um novo programa educacional, que defende o fim dos estudos de gênero no meio acadêmico. Em entrevista ao jornal francês Le Monde repercutida pela Carta Capital, a reitora do CEU, Eva Fodor, afirma que “ao colocar a questão da legitimidade acadêmica desses estudos, considerados polêmicos pelos círculos conservadores e religiosos”, este país da Europa Central estaria “na vanguarda dos ataques realizados em todo o continente contra o feminismo e valores que apoiam a emancipação”. “Essas autoridades com certeza pensam que falamos de sexo o dia inteiro”, ironiza Fodor a Le Monde. “A mensagem enviada é de uma submissão das liberdades acadêmicas a critérios políticos”, denuncia a reitora ao jornal francês.

Bolsonaro entrou na mesma cruzada no Brasil contra aquilo que chama, equivocadamente, de "ideologia de gênero", argumentando que o objetivo de tais estudos é "doutrinar" as crianças e "ensiná-las" a ter relações sexuais precocemente ou "confindi-las" sobre a sua sexualidade.

Na realidade, a ultradireita de Bolsonaro usa da desinformação (e da falsa informação) para deturpar a realidade e amedrontar as pessoas: os estudos de gênero nada mais são do que uma ferramenta para combater a submissão das mulheres e o machismo que existe na sociedade, simplesmente explicando para as crianças que meninas devem ter os mesmos direitos e oportunidades que os meninos, e que estes não devem submeter suas colegas a suas vontades.

Orbán, assim como vem fazendo Jair Bolsonaro no Brasil, ganhou mais votos aproveitando-se da crise vivida em seu país. O Fidesz (partido de Órban) encontrou oportunidade para ganhar poder em 2010, momento em que a Húngria vivia um baque sofrido pelas lideranças políticas que administravam o país no momento da crise.

A Polônia, onde a extrema-direita também tomou o poder, não está em um momento positivo. Em dezembro de 2017 foi aprovada a proposta de reforma do sistema judiciário do partido Lei e Justiça, que culminou no aumento do controle político sobre juízes e tribunais; como diversas instituições internacionais apontaram na época, a manobra foi grave, já que coloca em risco a neutralidade da justiça e consequentemente a democracia do país. Além disso, o país ignorou a tentativa da União Européia de seguir com políticas que visam preservar o meio-ambiente e manteve o carvão como sua principal fonte de energia, ignorando as exigências da UE relativas a aumentar as fontes de energia limpa em seu sistema elétrico.

Por fim, em 2014, houve um golpe de Estado na Ucrânia que depôs o então primeiro-ministro Viktor Yanukovich. O novo governo, imposto sem eleições, usando o medo alarmista e irracional do comunismo e levantando a bandeira "anti-comunista" (feito também por Bolsonaro, especialmente no seu plano de governo, no qual utiliza inclusive afirmações falsas), permitiu que grupos paramilitares fascistas tomassem as ações que achassem necessárias. Em 2015, o governo da Ucrânia proibiu toda a atividade dos três partidos comunistas do país e sua participação nos processos eleitorais, medida que fere a democracia e o direito de livre-expressão.

Em setembro deste ano a Ucrânia pediu um novo financiamento ao FMI, o que aumentará a sua dívida externa. Sabe-se que o FMI libera empréstimo em troca de que o país requerente adote certas políticas de austeridade, muitas vezes prejudicando a população menos abastada. Entre as novas condições do acordo estaria, por exemplo, o aumento do preço do gás natural.