Fracasso de Alckmin joga Bolsonaro nos braços da mídia e do mercado
Apesar de diversos analistas apontarem para o importante papel que as redes sociais – como Whatsapp e Facebook – têm cumprido nessas eleições na formação de opinião do eleitorado, a mídia hegemônica também tem uma participação que não pode ser desconsiderada no cálculo político. Principalmente pelo fato de que há uma articulação inédita entre mídia e judiciário para fortalecer a direita.
Publicado 06/10/2018 13:24
Essa é a opinião do jornalista e professor de comunicação da Universidade Federal de São Paulo, Laurindo Lalo Leal Filho, que deu uma entrevista nesta manhã para a Rádio Brasil de Fato. Para ele, por mais que “os jornais impressos tem caído a leitura e a tiragem”, a “onipresença da televisão, da mídia tradicional continua tendo um papel importante” na formação da opinião pública.
“Nos consultórios médicos, hospitais, bares, sempre está tudo ligado na Globo. Os jornais impressos participam do espaço público com as manchetes – que são mais publicitárias – estampadas nas bancas de revista de todo o país. A pessoa lê a Veja, vê o Jornal Nacional, e acredita, porque não tem outra emissora com o mesmo poder de fogo para fazer o contraponto. A grande mídia tem um papel estrutural na vida brasileira e age como partido político”, analisa.
Segundo Leal Filho, o principal agravante do fortalecimento das ideias conservadoras é “a articulação entre a mídia e parte do judiciário. Isso nunca aconteceu antes no Brasil, não dessa forma, antes era mais encoberto, menos explícito. As decisões da justiça são cronometradas com o processo eleitoral. O juiz Sérgio Moro mesmo declarou, no começo da Lava Jato, que precisava do apoio da opinião pública e da mídia para conseguir avançar”.
Criminalização da política
Esse tipo de articulação, para o professor, fortalece a criminalização da política e a noção de que “nada presta”, e apresenta ao leitor modelos anti-políticos, como João Doria Jr. em 2016, com a imagem do gestor, e agora, Jair Bolsonaro (PSL).
“Ele tá surfando nessa onda, não adianta conversar racionalmente com seus correligionários, explicar o perigo para a democracia, para o bem comum. Isso passa pela emoção, por ser “contra todos e tudo isso que tá aí”.
Além disso, canais como a Record, controlados pela Igreja Universal, têm violado as leis eleitorais e de comunicação, ao darem espaço desproporcional para determinadas candidaturas.
“Esse ano vale tudo. O Bolsonaro já deu seis entrevistas exclusivas, para a Jovem Pan, para o [apresentador José Luís] Datena e para a Record durante o debate presidencial. E fica por isso mesmo!”, protesta.
O perigo disso é conhecido para os brasileiros. O professor cita o caso de 1989, quando a Globo assumidamente editou o debate para dar vitória a Fernando Collor.
“O grande fantasma era o comunismo, o Muro de Berlim não tinha caído, e queriam fazer crer que o Brasil estava sob ameaça. Agora acabarem as grandes potências socialistas e continua esse fantasma do anticomunismo, que agora tem o nome de antipetismo. São slogans, marcas, que desinformam e são usados pela direita para estabelecer marcações. E isso é fascismo”, analisa.
Caso Bolsonaro ganhe, Laurindo é taxativo. “É um pézinho para a ditadura. Se ele ganhar, não resta dúvida que todos direitos civis estarão ameaçados no país. É terrível. A população ainda não se deu conta do passo mal dado que será uma vitória da extrema direita”.