Unegro e MST: Brasil armado é para eliminar negros e luta no campo

A União de Negros pela Igualdade (Unegro) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) repudiaram a pressão feita pela bancada da bala na Câmara Federal para que entre em votação ainda este ano projetos que facilitam o acesso ao porte de armas. “Armar o Brasil significa radicalizar o genocídio e extermínio programado, pensado e articulado da população negra”, afirmou Edson França, da Unegro.

Por Railídia Carvalho

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A pressão dos parlamentares da Bala tem as bênçãos do candidato Jair Bolsonaro, que disputa o segundo turno das eleições presidenciais. O alvo é o Estatuto do Desarmamento que poderá ser alterado em pontos como a exigência para se comprovar a necessidade do porte, que deve ser retirada pela bancada da Bala, que quer incluir na lei autorização para porte dentro dos limites das propriedades rurais.

Alexandre Conceição, dirigente nacional do MST, afirmou ao Portal Vermelho que o Brasil pode retroceder com essas medidas. “Há 20 anos fizemos uma campanha de desarmamento, a população entregou as armas e a sociedade foi compreendendo que as armas causam mais violência”. 

Intimidar luta pela reforma agrária

Na opinião dele, a retomada do tema na Câmara é para beneficiar as empresas de armas e agradar àqueles que discursam contra os movimentos sociais. “Bolsonaro trouxe ideias retrógradas. Quere liberar as armas para os grandes proprietários e fazendeiros intimidarem a luta pela reforma agrária”.

Bolsonaro tem dito que quer dar "retaguarda jurídica" para que proprietários de terras possam se defender do que ele chama de invasões.

Segundo Conceição, o MST segue os princípios constituições quando realiza uma ocupação de terra. “Eles são ditatoriais e nós somos constitucionalistas. Toda a terra que ocupamos é aquela improdutiva e sem função social e que, portanto, pela Constituição deve ser desapropriada para fins de reforma agrária.”

Mais mães com filhos assassinados

Edson França reiterou que a posição o movimento negro é de defesa do Estatuto do Desarmamento como ele está atualmente. Ele declarou que esse ataque à lei terá resistência por parte do movimento. “É mentira que arma protege. Se colocarmos mais arma em circulação vamos armar o crime”. Ele lembrou que existem grupos organizados para roubar armas. “Ano passado apenas em São Paulo 631 policiais militares tiveram armas furtadas”.

Além de potencializar o extermínio da população negra, Edson lembrou que armar a população está ligada a uma espécie de controle da natalidade. “Facilitar o acesso a armas é uma posição política que serve ao imperialismo estadunidense. O crescimento da população brasileira, em um país imenso como este, pode gerar impacto no imperialismo. Uma situação que eles não querem. Relatório do Henry Kissinger (secretário de Estado dos Estados Unidos) na década de 80 falava sobre isso”.

“Querem matar mais pobre, mais preto, mais trabalhador da periferia. Um dos argumentos que usamos contra a candidatura de Bolsonaro é essa da liberação das armas, que ele defende. O que vai aumentar o número de mães com filhos assassinados, aumentar o medo nas grandes e pequenas metrópoles, potencializar a guerra no campo com uso de fuzil. Bolsonaro já disse que vai tratar o MST e o MTST como terroristas”, enfatizou Edson.

Cultura da violência e armas: Mistura explosiva

Mapa da Violência de 2015 apontou que a maioria dos homicídios do país são motivados por brigas entre vizinhos, parentes, acidentes de trânsito. Em entrevista ao El País, Julio Jacobo, que coordenou o estudo, afirmou que a cultura da violência somada às armas de fogo “é uma mistura explosiva”.

O Estatuto do Desarmamento foi sancionado como lei federal em 2003 durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula. A lei limitou a comercialização, o registro e a posse de armas de fogo e munição.

Ainda segundo o Mapa da Violência, o estatuto salvou 160.063 mil vidas desde que foi sancionado. Também foi responsável por estancar o crescimento dos homicídios que cresceram mais que o dobro de 1983 a 2003 registrando 14 homicídios por 100 mil habitantes (83) e 36,1 homicídios por 100 mil em 2003. Atualmente os números apontam queda para 26,9 homicídios para cada 100 mil habitantes.