Ítalo Coriolano: Bolsonaro e seus arroubos autoritários

"De uma coisa Bolsonaro precisa ter noção caso seja eleito presidente: terá oposição, como acontece em todas as repúblicas sérias mundo afora. E uma oposição forte, em virtude das ideias polêmicas que defende. Logo, precisará exercitar a tolerância e o diálogo caso não queira mergulhar o Brasil em um caos pior do que o atual”.

Por Ítalo Coriolano*

Jair Bolsonaro - Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Os quase 30 anos de mandatos não foram suficientes para o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, entender o significado da palavra democracia. Durante ato de seus apoiadores na Avenida Paulista, no último domingo, o capitão reformado afirmou que os "vermelhos" terão duas opções: "ou vão para fora ou vão para a cadeia".

De uma coisa Bolsonaro precisa ter noção caso seja eleito presidente: terá oposição, como acontece em todas as repúblicas sérias mundo afora. E uma oposição forte, em virtude das ideias polêmicas que defende. Logo, precisará exercitar a tolerância e o diálogo caso não queira mergulhar o Brasil em um caos pior do que o atual.

A fala, entretanto, não chega a ser surpreendente se levarmos em conta outras declarações do deputado. Há alguns anos, ele já se disse a favor da tortura, destacou que voto não iria mudar nada no País, que precisamos de uma guerra civil que mate ao menos "uns 30 mil", vitimando até inocentes.

Mais recentemente, pediu para militantes "metralharem a petralhada", num claro estímulo ao ódio e à violência. Também não faltaram ataques à imprensa. Como resultado, pessoas sendo agredidas e até mortas nas ruas e jornalistas ameaçados.

A falta de sensibilidade com alguns setores sociais também virou marca do candidato, numa postura que parece não compreender nossa diversidade e necessidades específicas. Depois de já ter afirmado que "porrada" é a cura para um filho gay, que quilombola não serve "nem para procriar" e que não empregaria uma mulher com o mesmo salário de um homem, Bolsonaro declarou que vai acabar com o "coitadismo" do negro, da mulher, do gay, do nordestino.

Por meio da chacota, o candidato não reconhece que existe, sim, um preconceito histórico contra esses segmentos. Resultado do machismo, de anos de escravidão, de homofobia, de nossa pobreza. Aristósteles, ainda no século IV antes de Cristo, afirmava que devemos "tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida da sua desigualdade".

Por isso a necessidade de políticas afirmativas, como cotas para negros, programas de proteção a mulheres e ao público LGBT. Sem essa dimensão que supera qualquer embate esquerda-direita, que preserva marcos civilizatórios, Bolsonaro corre sério risco de fazer um governo autoritário e desumano, o que significa retrocesso e agravamento de tensões. Tudo o que não precisamos no momento.

*Ítalo Coriolano é jornalista.

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.