Esclarecedora reação do “O Globo” à defesa da Embraer

Jornal dos Marinho, em editorial, faz defesa suspeita da empresa brasileira à Boeing.

Boeing Embraer - Ilustração: Bruno Galvão

É sintomática a reação do jornal O Globo à ação dos deputados federais do Partido dos Trabalhadores (PT) Paulo Pimenta (RS), Carlos Zarattini (SP), Nelson Pellegrino (BA) e Vicente Cândido (SP), que conseguiram limitar suspendendo o processo de venda do controle da divisão de aviação comercial da Embraer para a norte-americana Boeing, agora revogada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª região (TRF-3), acolhendo recurso da Advocacia-Geral da União (AGU). A Boeing e a Embraer anunciaram em julho assinatura de memorando de entendimento para uma transação em que a companhia norte-americana assumirá 80% de uma joint venture (nova empresa) a ser criada por meio da separação da divisão de jatos comerciais da Embraer, a principal da companhia brasileira.

O acordo precisa de aprovação do governo brasileiro, que tem direito de veto em assuntos estratégicos da Embraer, mecanismo chamado de "golden share". O memorando de entendimentos entre as empresas avaliou as operações de aviação comercial da Embraer em US$ 4,75 bilhões. Com isso, a Boeing pagará US$ 3,8 bilhões para ficar com os 80% da área civil da fabricante de aviões. A Embraer, terceira maior exportadora do Brasil, ficaria com os 20% restantes. Na liminar, o juiz acatou o pedido dos deputados, alegando que com a venda a União deixará de ter a "golden share", e com isso, não terá poder de veto nas decisões estratégicas da empresa.

Em editorial intitulado “Nova escaramuça política contra privatizações”, O Globo diz que a ação petista antecipa o que haverá no governo Bolsonaro. Se utilizando das emboloradas formulações neoliberais muito ouvidas na época da privatização da Embraer, o jornal dos Marinho diz que a ação é resultado da “empreitada” que se move “por força da ideologia do nacional-populismo da esquerda do pós-guerra, que, entre seus mais fracassados frutos, ostenta a debacle da Venezuela em todos os aspectos — social, econômico e político”.

Demagogia e o embuste

Sem sustentar o que diz, o jornalão pula para os Estados Unidos, dizendo “neste ponto” o “nacional-populismo de esquerda se encontra com a direita de Trump, para combater a globalização”. Para O Globo, a entrega da Embraer é a única condição para a sua sobrevivência “na cada vez mais acirrada concorrência no segmento de aviões comerciais de pequeno e médio portes, depois que a grande rival da Boeing, a europeia Airbus, fez o mesmo com a canadense Bombardier, adquirindo da fábrica a linha dos jatos das Séries C, concorrentes dos Embraer mais modernos”.

Ou seja: para a Embraer sobreviver ela precisa ser engolida pela Boeing. E apela para o alarmismo, alegando que “não haverá chance de a fábrica brasileira sustentar os resultados positivos que tem conseguido nesta concorrência sem o apoio comercial e industrial da empresa americana”. “Mas, como ideologia é cega, isto não importa para os petistas”, provoca o porta-voz do entreguismo, sem sustentar o que se utilizado do recurso mais usual da ideologia neoliberal: a propaganda ideológica obscurantista que foge da essência para impor a aparência. Um recurso bem conhecido por ser desonesto e provocador.

O Globo faz esse gancho para pregar aos incautos que “outro aspecto desta disputa é que a concessão da liminar pelo juiz Victorio Giuzio Neto faz antever as dificuldades, nos campos jurídico e político, que o governo de Jair Bolsonaro enfrentará para executar o necessário programa de privatizações defendido pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, com a finalidade de abater parte da pesada dívida interna”.

E encerra com a velha verborragia de quem não dispõe de argumentos e apela para a demagogia e o embuste. Segundo o jornalão dos Marinho, “move-se, por trás dessas iniciativas, interesses sindicais e de corporações que se sentem ameaçadas pela imprescindível abertura do Brasil ao mundo”. “Vencer estas resistências torna-se crucial para criarem-se empregos de nova geração, a fim de substituir os que desaparecem na esteira do avanço tecnológico. Os sindicatos devem ser protegidos deles mesmos.”

Extinção de 26 mil empregos

Provocações e vigarices à parte, a entrega da Embraer à Boeing se dá pelo que é considerado o filé da companhia brasileira. Como diz o blog do tarimbado jornalista Mauro Santayana, há a possibilidade de que a Embraer transfira a produção dos aviões para os Estados Unidos, como teve que fazer quando foi obrigada pelo governo norte-americano a se associar com a Sierra Nevada da Flórida para vender para a Força Aérea dos Estados Unidos e para seus aliados o caça ligeiro Supertucano.

Segundo a matéria, esse negócio permite que Estados Unidos, tomando controle da área de aviões regionais da Embraer, justamente a parte nobre do negócio, alcance o objetivo estratégico de controlar, de fato, o futuro da indústria aeronáutica brasileira. E em segundo lugar, permite que a Boeing tire do seu caminho um dos únicos concorrentes que tinha condições de, no futuro, se quisesse, passar a produzir aviões maiores, concorrendo diretamente com a própria Boeing e sua “concorrente” a Airbus, que acaba de fazer a mesma coisa com a Bombardier canadense.

De acordo com o procurador Rafael de Araújo Gomes, do Ministério Público do Trabalho, se a nova companhia, chamada NewCo, for criada na condição de joint venture, a falta de poder de decisão estratégica da Embraer e o acordo para que quaisquer ações serão submetidas à justiça estadunidense. Segundo ele, há fortes indícios de que a Boeing pretende levar a produção de aeronaves comerciais do Brasil para o exterior. “Fizemos uma estimativa, e pelo menos 26 mil empregos diretos ou indiretos podem ser extintos se isso acontecer. Não é demissão em massa, seria extinção para sempre”, afirma.