Haroldo Lima: “Ajuda humanitária”, a desfaçatez como forma de agressão
Existe um país que tem uma política externa de agressão e guerra, são os Estados Unidos da América do Norte. Isto não é uma opinião, nem uma crítica, mas um registro estatístico.
Publicado 24/02/2019 10:13
Dados do Serviço Congressual de Pesquisas dos Estados Unidos, divulgados pela Fundação para a Educação Econômica, em estudo de John Glaser, no dia 20 de dezembro de 2017, mostram que os Estados Unidos fizeram 199 intervenções militares entre 1798 e janeiro de 1989 e, desde então, até os dias de hoje, realizaram outras 213 intervenções. Conclui o estudo da Fundação americana que “os Estados Unidos fizeram mais intervenções militares nos últimos 28 anos do que nos 190 anos anteriores de sua existência ". Os Estados Unidos são, assim, um país guerreiro, e faz guerra cada vez mais.
A Rand Corporation registra que “houve apenas um período, breve, – os quatro anos imediatamente posteriores à retirada americana do Vietnã – em que os Estados Unidos não se envolveram em nenhuma intervenção no exterior”. Esse período acabou.
O famoso economista austríaco Joseph Schumpeter, introdutor na ciência econômica do conceito da “destruição criativa”, quando fez um estudo sobre o imperialismo afirmou que “ele, ( o imperialismo) criado pelas guerras, cria as guerras da qual necessita”. Os Estados Unidos são o imperialismo moderno por excelência.
Promovendo suas centenas de guerras e delas se alimentando para apoderar-se de riquezas e territórios, os Estados Unidos nunca se esqueceram de proclamar ao mundo que assim procedem por objetivos nobres, defesa da liberdade, da democracia, da justiça.
Em uma situação chocante, acontecida na guerra do Vietnam, revelou-se a que ponto de estupidez pode chegar um Exército que se orienta por essa falsa concepção “justiceira”. O jornalista neozelandês Peter Arnett, em 07 de fevereiro de 1968, entrevistou um major americano sobre a destruição da cidade de Ben Tre e este lhe disse: "Tivemos de destruir Ben Tre para salvá-la".
Para sustentar suas guerras de agressão com narrativas nobres, os Estados Unidos mentem afrontosamente. Um dos exemplos mais revoltantes foi quando o próprio presidente americano George W. Bush informou ao mundo, solenemente, em rede de televisão, que os serviços de inteligência de seu país e de outros mostravam que “o regime iraquiano continua possuindo e ocultando algumas das armas mais letais jamais inventadas”. Eram as famosas “armas de destruição em massa”.
Com base nisto, os americanos, em 2003, invadiram o Iraque, mataram mais de 106.000 pessoas, entre civis e militares, e perderam mais 4.000 homens. Nenhuma arma de “destruição em massa” foi encontrada. Não existia. Era mentira.
O Trump, mais recentemente, tem se queixado de que as guerras que seu país promove não são em seu exclusivo benefício, mas ajudam também seus aliados. E, portanto, os Estados Unidos devem enviar menos soldados às guerras e dar menos dinheiro, na própria medida em que seus aliados devem mandar mais homens às frentes de batalha e desembolsar mais dinheiro.
Assim, no caso da guerra que o imperialismo americano planeja contra a Venezuela, tropas americanas estarão presentes, sim, mas o Trump quer que seus títeres da Colômbia, do Chile e também do Brasil entrem com mais soldados e mais dinheiro.
O pretexto para a intervenção militar planejada é que “ajudas humanitárias” em alimentos e remédios possam entrar na Venezuela sob o comando do títere local que se autoproclamou presidente da República.
O aparato montado pelo imperialismo, como sempre, é gigantesco e variado. Começa pela criação de uma narrativa para unificar a sua grande mídia e a grande mídia dos “aliados”, como o Brasil. Nessa história absolutamente falsa, o presidente Nicolas Maduro, eleito por duas vezes, em eleição onde houve supervisão estrangeira, é referido o tempo todo como “ditador”, enquanto o títere Juan Guiadó, que se autoproclamou presidente, sem nunca ter se submetido a eleição, é chamado de “presidente”.
Os manejos intervencionistas que se fazem nas fronteiras da Venezuela, sob direção americana, têm revelado contradições no grupo que chegou ao governo do Brasil. O setor do clã Bolsonaro, nisto incluindo o próprio presidente, seus filhos e o incrível ministro do Exterior quer que o Brasil vá como capacho, seguindo que os americanos quiserem. Pelo que se percebe, os militares do primeiro escalão, que tem uma visão estratégica dos problemas brasileiros, não acatam essa submissão. Entre outras coisas sabem que, se o Exército americano entrar naquela região, que é a Amazônia, não vão querer sair de lá tão cedo.