Publicado 09/03/2019 19:48
Marta foi eleita a melhor do mundo 6 vezes, enquanto os badalados Cristiano Ronaldo e Messi, foram 5. A expressão “torcedor/a” vem das mulheres, que lá nos primórdios, torciam suas luvas de nervoso durante os jogos. A vice-campeã da Copa de 2018, Croácia, tinha uma mulher à frente de sua comissão técnica: Iva Olivari era a gerente e supervisora da seleção croata. Ainda assim, em pleno século XXI, a mulher no futebol ainda é vista com desconfiança.
Dentro de campo, a modalidade feminina carece de investimento e visibilidade. Muitos clubes sequer têm equipe profissional de mulheres. Os campeonatos não são televisionados, nem na TV fechada e 80% das partidas do Brasileirão feminino 2018 foram disputadas no meio da tarde de um dia de semana. Fora que ainda impera o preconceito: “futebol é coisa para macho”, “mulher não sabe jogar” e suas terríveis variantes.
Na bancada, escalar seu time e explicar a regra do impedimento para provar que entende de futebol é o lugar-comum da cada história de torcedora. Sem falar nas proibições, ofensas, intimidações, assédio, falta de infraestrutura para as mulheres nos estádios, raridade dos uniformes adequados ao corpo feminino mantendo as cores dos clubes – e não o rosa. É preciso muito amor e muita alma para acompanhar o clube sendo uma garota!
Comandando das partidas, então, a situação se torna tenebrosa. Aquela que se arrisca com o apito na boca ou a bandeirinha nas mãos é duplamente penalizada: ora é alvo da cólera desproporcional e insana diante de suas marcações, ora é mira de comentários pervertidos, olhares repugnantes e a inevitável objetificação travestida de elogio: musa. Soma-se a isto a falta de oportunidades: entre os 36 nomes da arbitragem da última Copa do Mundo, nenhum era feminino.
Nas instâncias diretivas dos clubes, a presença feminina é ínfima. Os dois times mais populares do Brasil tiveram, cada um, uma única mulher em seu comando: a ex-nadadora Patrícia Amorim no Flamengo e Marlene Matheus, então esposa do ex-presidente Vicente Matheus que não podia se reeleger, no Corinthians. Muitos clubes, nem isto. E não é só no Brasil, nossos hermanos argentinos, por exemplo, só foram ter uma mulher presidindo uma agremiação na elite em 2018: Lucía Barbuto, no Banfield.
A imprensa esportiva também precisa escalar mais mulheres. São poucas narradoras, comentaristas e integrantes de mesas-redondas, sendo que em muitas vezes são reduzidas a figuras decorativas, se limitando a ler os e-mails do público. Beleza, em via de regra, é pré-requisito. E os torcedores ainda não aprenderam o que é respeito, sendo comuns os beijos forçados e a violação do corpo feminino, de modo que as jornalistas precisaram fazer uma campanha pedindo o óbvio: deixem ela trabalhar.
Mesmo assim, moça, não se deixe intimidar. Não permita que te digam que o futebol não é o seu lugar, porque é. Sempre foi, sempre será. Você, moça, não é intrusa, não está no lugar errado, não precisa pedir desculpas ou suplicar por perdão por gostar de futebol. Teu lugar é na bancada, é dentro das quatro linhas, é treinando, é apitando os jogos, é nas direções dos clubes, é no jornalismo esportivo. Não se esqueça, moça: lugar de mulher é onde a gente quiser.