Com Temer e Bolsonaro, indústria de transformação regride 15 anos
Em 2016, às vésperas do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, um dos principais empresários do País declarou que, “encerrado esse capítulo e iniciado o novo ciclo, o Brasil vai ‘bombar’ de novo”. Para o arrogante presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, a mera saída do PT do governo já atrairia investimentos da iniciativa privada: “Seria instantâneo”, disse ele à BBC. Nada disso, porém, ocorreu: os investimentos não voltaram, a economia estagnou e a indústria nacional não para de regredir.
Publicado 02/07/2019 20:26
Reportagem publicada nesta terça-feira pelo site do Valor Econômico mostra uma das evidências mais desoladoras da crise. Passado o golpe de 2016, o governo Michel Temer e os primeiros seis meses da gestão Jair Bolsonaro, a produção industrial se encontra 17,5% abaixo do pico (maio de 2011) e no mesmo nível de 15 anos atrás (entre junho e julho de 2004).
A produção recuou em quatro dos últimos cinco trimestres e em 16 dos últimos 21 trimestres, aponta o economista Alberto Ramos em relatório. A indústria extrativa registrou alta de 9,2% em maio, na comparação mensal ajustada, compensando parte da queda de 25,1% registrada entre fevereiro e abril. Mas a indústria de transformação teve queda de 0,5% na mesma base de comparação.
“A atividade industrial em maio foi contida pela retração em bens de consumo duráveis (-1,4% na comparação mensal ajustada) e não duráveis (-1,6%), mas apoiada por resultados positivos em bens de capital (0,5%) e intermediários (1,3%)”, diz Ramos. Dos 26 segmentos analisados, 18 registraram quedas na produção na margem. Para Ramos, o setor ainda deve continuar a sofrer os efeitos adversos da crise argentina, um importante mercado consumidor para as exportações brasileiras de manufaturados.
Para os economistas do Banco Safra, a queda de 0,2% da produção em maio foi menos intensa que a esperada (de 0,9%), mas “segue revelando a fragilidade do setor industrial, que, após apresentar trajetória contracionista desde a greve dos caminhoneiros em maio de 2018, parece ter se estabilizado em patamar deprimido”. Os insumos típicos da construção civil, importante indicador coincidente do PIB desse setor, também apresentaram queda em maio, de 2,3%, considerando a série dessazonalizada pela equipe do Safra, permanecendo em nível deprimido.
“Em resumo, o resultado da indústria em maio veio acima do esperado, contando com recuperação na produção extrativa”, avaliam os economistas. “A indústria de bens intermediários, por sua vez, parece ter interrompido a trajetória de queda, mas ainda é cedo para dizer se a retomada será consistente nos próximos meses.” O Safra mantém por ora sua estimativa de estabilidade para o PIB do segundo trimestre, na comparação trimestral ajustada.
Já a 4E Consultoria avalia em relatório que a indústria segue refletindo a lentidão da atividade econômica, consequência, principalmente, da falta de confiança dos agentes na economia. Para o ano, a 4E projeta queda de 0,5% para a produção industrial brasileira.
Da Redação, com informações do Valor Econômico