Ex-ministros acusam Bolsonaro de desvalorizar e hostilizar a cultura

Um manifesto assinado por cinco ex-ministros da Cultura denuncia com veemência os retrocessos da política cultural do governo Jair Bolsonaro. Segundo o texto, a gestão é marcada pela “desvalorização e hostilização à cultura brasileira”. O manifesto foi divulgado nesta terça-feira (2), em reunião no Institutos de Estudos Avançados da USP, em São Paulo, com a participação de Juca Ferreira, Marcelo Calero, Marta Suplicy, Francisco Weffort e Luiz Roberto Nascimento Silva.

Manifesto dos ex-ministros da Cultura

Esses ex-ministros – que trabalharam em gestões de diferentes presidentes da República – criticam o fim do Ministério da Cultura (MinC), a descontinuidade de projetos e os constantes cortes no orçamento do setor. Alertam também para a “demonização das redes de incentivo, notadamente a Lei Rouanet”. Segundo eles, “a preservação das conquistas institucionais e leis aprovadas pelo Congresso não podem ser ignoradas por quaisquer governos”.

“A extinção do Ministério da Cultura é um erro. A existência do Ministério tem garantido um olhar à altura da relevância da cultura e da arte na vida brasileira”, aponta o manifesto. “Mesmo com recursos limitados, a pasta foi capaz de defender, formular, fomentar, criar e inovar a relação do Estado com a sociedade no plano da cultura, em respeito às tradições brasileiras desde o império.”

Leia abaixo a íntegra do documento


MANIFESTO DE EX-MINISTROS DA CULTURA
Nós, ex-ministros da cultura que servimos ao Brasil em diferentes governos, externamos nossa preocupação com a desvalorização e hostilização à cultura brasileira. Reafirmamos a importância da cultura em três dimensões básicas como expressão da nossa identidade e diversidade, como direito fundamental e como vetor de desenvolvimento econômico, contribuindo decisivamente para a geração de emprego e renda. Criar e usufruir cultura altera a qualidade de vida das pessoas e permite o pleno desenvolvimento humano de todos os brasileiros e brasileiras.

Assim, carece de sentido a redução de recursos de forma contínua para o setor cultural. Isso tem se dado pelo contingenciamento do Fundo Nacional de Cultura e pela demonização das redes de incentivo, notadamente a Lei Rouanet.

O Estado tem responsabilidades intransferíveis para a garantia do desenvolvimento social e cultural do país e para a realização dos direitos culturais do povo brasileiro. Ele proporciona espaços, oportunidades e autonomia para que a cultura se produza. O Estado democrático possibilita as condições necessárias para o acesso de todos às criações culturais. Assistimos, com preocupação, o crescente ambiente antagônico às artes e à cultura, que pretende enfraquecer as conquistas que o Brasil alcançou nestes anos de democracia. A primeira e mais primordial das responsabilidades do Estado é garantir a plena liberdade de expressão.

O passado alimenta o futuro. Por isso, a preservação das conquistas institucionais e leis aprovadas pelo Congresso não podem ser ignoradas por quaisquer governos. A extinção do Ministério da Cultura é um erro. A existência do Ministério tem garantido um olhar à altura da relevância da cultura e da arte na vida brasileira. Mesmo com recursos limitados, a pasta foi capaz de defender, formular, fomentar, criar e inovar a relação do Estado com a sociedade no plano da cultura, em respeito às tradições brasileiras desde o império.

A arte e a cultura brasileira, além de sua relevância interna, têm contribuído para uma imagem positiva do país no exterior. O interesse efetivo por diversas manifestações e criações culturais brasileiras é razão de orgulho e ativo importante da afirmação do país no conjunto das nações.
 

São Paulo, 02 de julho de 2019.
Assinam este documento os ex-ministros da Cultura:

Marta Suplicy
Juca Ferreira
Francisco Weffort
Luiz Roberto Nascimento Silva
Marcelo Calero