De Olho no Mundo por Ana Prestes

Um resumo diário das principais notícias internacionais.

Ataque a tiros nos EUA
Se reúne amanhã (6), no Peru, o Grupo de Lima. Desta vez o encontro leva um nome: “Encontro Internacional pela Democracia da Venezuela”. São convidados especiais desta edição do encontro representantes dos governos da Rússia e da China, não há notícias se participarão. O encontro debaterá como apertar ainda mais econômica e militarmente a Venezuela. Da parte dos EUA estão confirmadas as presenças de John Bolton, o conselheiro de segurança de Trump e Elliot Abrams, o representante dos EUA para “manejar” os ataques à Venezuela.
 
 
 
O Peru que receberá o Grupo de Lima esta semana vem passando por turbulências políticas há meses. Está na mesa um projeto de reforma constitucional apresentado pelo presidente Martin Vizcarra para adiantar as eleições para 2020. Segundo palavras de Vizcarra, em pronunciamento recente: “(ante a) uma crise política que leva três anos, chegou o momento de dizer basta. Que o povo, assim como elege boas autoridades e prefeitos, também possa eleger bons congressistas e dar uma oportunidade de renovação do executivo. Todos juntos para novamente lançar uma nova etapa”. Vizcarra é presidente do Peru há um ano e quatro meses, com a renúncia de Pedro Pablo Kukzynski de quem era vice. PPP, que está hoje em prisão domiciliar, renunciou no contexto das denúncias por corrupção envolvendo a Odebrecht, que causaram também o suicídio de Alan Garcia e a recente prisão de Alejandro Toledo nos EUA.  
 
 
 
Na Argentina foram divulgados dados do Indec (Instituto Nacional de Estatística y Censos de la República Argentina) que apontam para aumento da pobreza pra 34,1% e da indigência/miséria para 7,1%, quase metade da população assolada pela crise econômica. O crescimento da pobreza foi equivalente a 12 vezes o crescimento da população no mesmo período (entre o terceiro trimeste de 2018 e o primeiro trimestre de 2019 – seis meses). O Indec publica esses dados semestralmente. A pobreza estava na casa dos 25,5% no primeiro trimestre de 2018. O dado que mais choca, no entanto é o da indigência, pessoas que não passavam e agora passam fome, foi de 4,9% no mesmo período em 2018 para 7,1%. Quase um milhão de pessoas. Os números são resultado de uma queda brutal do salário real, aumento do valor da cesta básica e os ajustes impostos pelo FMI para “salvar” a economia argentina.
 
 
 
Ainda sobre a Argentina, no próximo dia 11 realiza-se o PASO 2019 – Primárias abertas, simultâneas e obrigatórias. As primárias existem desde 2009 e são destinadas à definição daqueles que participarão das eleições gerais, este ano em outubro. Como este ano os partidos praticamente já decidiram seus candidatos presidenciais, o PASO passa a ser uma espécie de prévia presidencial. Ocorre que as demais candidaturas são também decididas pela população no PASO. As primárias funcionam com todos os cidadãos argentinos tendo a obrigatoriedade de votar, todos os partidos apresentam seus candidatos para variados cargos, as pessoas não precisam estar filiadas a um partido para votar sobre quem deve ser seu candidato a determinado cargo. Por exemplo, uma pessoa pode votar para definir quem será o candidato ao senado de um partido X e o candidato a deputado de um partido Y. O voto para 2 ou mais candidatos a um mesmo cargo anula o voto. As pessoas que não votam e não justificam a ausência são colocadas em uma lista de “infratores” e devem pagar multa.
 
 
 
O chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, instou a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michele Bachelet, a pronunciar-se sobre as ameaças de bloqueio à Venezuela feitas pelo presidente Trump, dos EUA, nos últimos dias. Segundo o chanceler, a voz de Bachelet é esperaa, pois se trata da pior violação de direitos humanos de 30 milhões de venezuelanos (…) as ações de bloqueio naval, de quarentena, que não possamos trazer medicamentos, é a pior agressão de direitos humanos que já houve contra um país da América Latina, junto com Cuba”.
 
 
 
Uma pesquisa de intenção de voto para as presidenciais na Bolívia feita pela “Mercados y Muestras” divulgada ontem (4) aponta para as seguintes porcentagens para o primeiro turno eleitoral: Evo Morales com 35%, Carlos Mesa, 27% e Oscar Ortiz, 11%. O noticiário boliviano comenta que Mesa caiu e Ortiz (extrema-direita) ascendeu, o que chama atenção pelo fato de Ortiz ter perdido há um mês seu candidato a vice-presidente que decidiu reforçar a candidatura de Mesa. Há uma pressão norte-americana e das elites locais para a concentração da oposição a Evo em apenas uma candidatura, que seria a de Mesa. A pesquisa aponta também para 10% de indecisos e 13% de pessoas que disseram que vão anular ou votar em branco. De forma provocativa, a pesquisa também apresentou a questão: “você crê que a oposição deveria encontrar algum mecanismo para apresentar uma candidatura única para derrotar Evo?”, 74% dos entrevistados responderam “Sim”. As eleições ocorrem em 11 semanas. Evo venceu as três últimas eleições no primeiro turno com 53%, 64% e 61% respectivamente.
 
 
 
A temperatura política segue alta em Hong Kong. Nesta segunda (5) há relatos na imprensa ocidental de caos nos transporte público e cancelamento de vôos. Os protestos contra a chefe do governo local de Hong Kong, Carrie Lam, já duram 2 meses e, segundo pronunciamentos dela no final de semana, causam uma “situação muito perigosa”. Os protestos que foram iniciados como forma de manifestação contrária à aprovação de uma lei de extradição apresentada por Lam, já ultrapassaram em muito a pauta e canalizam a contrariedade de vários setores com a incorporação gradual de Hong Kong ao estado chinês.
 
 
 
Nos EUA, 29 pessoas morreram durante o final de semana em massacres ocorridos no Texas e em Ohio. Trump demorou bastante para aparecer após os ataques. O tiroteio de sábado (3) foi em El Paso, no Texas, e deixou 20 pessoas mortas e o de ontem (4) foi em Dayton, Ohio e vitimou 9. Os EUA tem uma população de 327 milhões de pessoas e há notícias de que mais de 850 milhões de armas de fogo em está em mãos de civis no país. Desde o início de 2019, houve 251 tiroteios massivos no território norteamericano, segundo o Gun Violence Archive, fundado em 2013. Do Brasil, Bolsonaro se pronunciou sobre os ataques ao dizer: “desarmar o povo, não evita ataques”.
 
 
 
No Paraguai, segue a instabilidade política devido à pressão sobre o governo Abdo como consequência da revelação da negociação bilateral com o Brasil para acerto de tarifas sobre excedente de energia produzida pela Itaipu binacional. A Revista Forum trouxe neste domingo (4) matéria sobre o envolvimento do empresário brasileiro Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP) como intermediário da negociação que alterava o acordo de Itaipu e privilegiaria empresas brasileiras que quisessem comprar o excedente de energia de Itaipu, entre ela a empresa Leros de Giordano. O jornal do Paraguai, ABC Color, deu destaque ontem (4) para a revelação de mensagens de um advogado do Paraguai que cita suposta relação da família Bolsonaro com o Grupo Leros. As mensagens são entre o advogado Joselo Rofríguez Gonzáles e Pedro Ferreira, então presidente da Ande (estatal paraguaia da energia). Segundo reportagem do DCM, a Leros também estaria envolvida em negócios com Nióbio, mineral de inconfundível preferência de Bolsonaro. Segundo Joaquim de Carvalho, no DCM: “da mineração, inclusive nióbio, ao acordo do Brasil com o Paraguai em torno de Itaipu, a Leros tem uma pauta que se confunde com a do governo Bolsonaro”.

De Brasília
Ana Prestes