Entidades repudiam golpe contra Evo Morales e a soberania boliviana
Entidades nacionais e mundiais denunciam o golpe de Estado na Bolívia contra o governo Evo Morales. Liderado pelas Forças Armadas bolivianas, a manobra levou à renúncia não só de Evo, que foi reeleito presidente no mês passado – mas também de seu vice, Álvaro Linera, e dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. No Brasil, entidades estudantis e sindicais repudiaram o golpe. O Conselho Mundial da Paz (CMP), presidido pela brasileira Socorro Gomes, também se manifestou.
Publicado 11/11/2019 12:28 | Editado 25/11/2019 18:40
“Entre os avanços e retrocessos da luta do povo latino-americano, o golpe que remove do governo boliviano o presidente Evo Morales é, sem dúvida, um dos mais agressivos retrocessos dos últimos tempos. Por isso, entidades democráticas e da paz em todo o mundo já manifestam sua solidariedade ao povo boliviano na resistência e na luta, para enfrentar com a coragem de sempre, o desenrolar desta trama”, afirmou Socorro, pela CMP.
A entidade acusou a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia (UE) de desrespeitarem a vontade popular, expressa nas eleições de 20 de outubro. Com 47% dos votos válidos, Evo foi eleito para seu quarto mandato presidencial. Mas a UE e a OEA – conforme a nota da CMP – “sentiram-se no direito de demandar um segundo turno, questionando a legitimidade das eleições. Interferiram nos assuntos internos do país enquanto alegavam desempenhar o papel de observadores eleitorais imparciais”.
As três entidades estudantis máximas do País – União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG) – também criticaram a ação armada e inconstitucional na Bolívia. “A democracia, as eleições e a constituição soberana precisam ser respeitadas em qualquer país”, afirmam. “As elites da Bolívia e do imperialismo estrangeiro não aceitaram a decisão soberana das urnas nas últimas eleições e decidiram tomar o poder a qualquer custo, inclusive utilizando da violência nas ruas e da ameaça das forças armadas para implementar seu projeto antipopular e interromper o ciclo de transformações e redução da desigualdade iniciado pelo governo de Evo.”
Segundo as entidades, o país sul-americano, depois de passar por “violentas manifestações orquestradas pela oposição para desestabilizar o país”, agora vive “um processo de perseguição e violência contra governadores aliados ao governo, cidadãos contrários ao golpe e familiares do ex-presidente”.
“A União Nacional dos Estudantes, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e a Associação Nacional dos Pós-Graduandos repudiam qualquer violência, ameaça e golpe de Estado que coloque em xeque a democracia de nossos irmãos latino-americanos. Seguiremos lutando no Brasil e na América Latina, lado a lado com os povos, contra as medidas impopulares impostas pelo neoliberalismo, contra o avanço do imperialismo, por mais democracia, justiça e direitos sociais”, conclui o texto.
No movimento sindical, entidades como a CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) também condenaram o golpe “orquestrado pelas Forças Armadas em conluio com a OEA e o capital financeiro”. Segundo Antonio Neto, presidente da CSB, o golpe interrompe um ciclo de “prosperidade econômica e social na Bolívia”, após “queda de 50% da pobreza, ascensão dos povos indígenas, profunda redução das desigualdades sociais, aumento da renda, melhoria nas condições de trabalho e reindustrialização”.
O país também registrava “as maiores taxas de crescimento econômico na América do Sul”, em meio a um período de retrocesso neoliberal no continente. “Que fique claro, o golpe na Bolívia não foi somente contra o campo progressista ou Evo”, afirmou Neto. “Foi um golpe contra a soberania da América Latina, a democracia e, sobretudo, contra a emancipação do povo boliviano.”