Nilcea Freire – uma mulher inesquecível, por Jandira Feghali

Lutou muito pelas mulheres, pelo povo, pela Universidade pública, mas também por sua vida.

Fui aluna da faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Quando lá cheguei no primeiro ano, como caloura, ainda meio perdida, encontrei uma “veterana” acolhedora, falante, militante e doce, chamada Nilcea. Não tive trote mas referências. 

Os anos se passaram, os caminhos se construindo e fui reencontrando Nilcea pela vida, nas lutas democráticas, pela saúde, pela educação pública, eu já no parlamento e Nilcea é eleita a 1ª mulher reitora da minha Universidade. Quanto orgulho me deu. A UERJ foi a primeira universidade a implantar a cota racial, além de várias outras inovações, que ampliavam acesso e equidade. 

Com o avanço nacional da conjuntura brasileira, Nilcea vai para o Ministério das Mulheres e juntas tivemos uma experiência singular. Eu relatei a Lei Maria da Penha na Câmara dos Deputados e as mudanças coletadas nas audiências públicas que fiz pelo Brasil eram incorporadas e muito bem aceitas por ela, que ao final teria que dar parecer para a sanção da lei. Lembro de sua alegria, quando saiu de dentro da sala do presidente Lula e me disse, não haverá veto! Naquele Ministério criou e colocou em prática muitos programas de defesa da vida das mulheres e de seus avanços políticos e sociais, assumiu posições corajosas dentro e fora do Brasil.

Grande Nilcéa! Lutou muito pelas mulheres, pelo povo, pela Universidade pública, mas também por sua vida. Por vários anos enfrentando seu algoz, um câncer no cérebro que lhe tirou do convívio de quem ela tanto amava e de tantos que a amavam. Mas sua história marcou a história do Brasil, e no atual quadro de obscurantismo, sua ideias e palavras farão muita falta. Nilcea Presente, hoje e sempre.

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