Bayer, Fiat, Volks, Siemens, IBM: os aliados de Hitler e do nazismo
A ideologia do lucro de grandes empresas levou muitas delas a financiar o Estado alemão durante o período nazista. Foram elas que produziram inúmeras tecnologias para os campos de concentração, onde milhões de judeus foram assassinados
Publicado 06/01/2020 23:25

Os campos de concentração alemães puderam funcionar, da maneira que operaram, devido ao gás Zyklon B, que era usado nas câmaras de gás do holocausto. A empresa responsável por sua produção era a IG Farben, atualmente conhecida por outro nome. Hoje, a organização que financiava o gás que matou milhões de judeus se chama Bayer.
Além dela, inúmeras empresas deram suporte financeiro ao nazismo de Adolf Hitler, na Alemanha, e ao fascismo de Benito Mussolini, na Itália. Segundo o livro A Ordem do Dia, do escritor francês Éric Vuillard, BMW, Fiat, Volkswagen, Siemens, IBM, Chase Bank, Hugo Boss, General Electric e outras grandes corporações se estabeleceram e ainda lucraram com o autoritarismo da ideologia nazista, bem como o antissemitismo.
A IBM organizou praticamente todo plano de extermínio judeu. “Com a IBM como parceira, o regime de Hitler pôde substancialmente automatizar e acelerar as seis fases dos 12 anos de Holocausto: identificar, excluir, confiscar, ‘guetizar’, deportar e exterminar”, analisa o jornalista estadunidense Edwin Black no livro Nazi Nexus (Nexo Nazista). A empresa facilitou o processo de identificação dos judeus, e depois disso, também coordenou os sistemas de trens que os levavam para os campos.
Segundo o artigo Aposta em Hitler – O Valor das Conexões Políticas na Alemanha Nazista, de Thomas Ferguson e Hans-Joachim Voth, uma em cada sete empresas aprovava o nazismo no início dos anos 1930. Muitas estavam envolvidas com o regime – e foram muito bem recompensadas por isso. Conforme o artigo, as instituições que apoiaram o movimento de Hitler tiveram uma alta extraordinária e incomum, com retornos avaliados em 5 a 8% entre o período de janeiro e março de 1933.
O livro The Wages of Destruction (Os Salários da Destruição, em tradução livre), de Adam Tooze, fala sobre como o governo nazista fez parcerias com empresas alemãs, que apoiavam seus interesses ideológicos e de guerra para conseguir benefícios, subsídios e uma grande repressão ao movimento sindical alemão. Mas por que os empresários resolveram apoiar o nazismo?
“Quando Hitler subiu ao poder, os industriais não falavam uma língua só. Mas a maioria estava feliz de apoiar nazistas – em vez de comunistas – e dar suporte a um movimento político que prometia limitar, senão esmagar, o crescente poder dos trabalhadores organizados”, diz o historiador da Universidade do Alabama, Jonathan Wiesen.
No Mein Kampf (Minha Luta), Hitler aponta os maiores males que a Alemanha teria de enfrentar. “Nesse tempo, meus olhos se abriram para dois perigos que eu mal conhecia pelos nomes e que, de nenhum modo, se apresentavam nitidamente para mim em sua horrível significação para a existência do povo germânico: marxismo e judaísmo”, afirma.
Segundo o filósofo italiano Antonio Gramsci, o fascismo operou como uma tentativa de superação de uma das muitas crises cíclicas do capitalismo. O regime funcionou “como uma nova forma de reorganização do sistema capitalista sob a lógica de um Estado de Exceção”.
No artigo O Estado Nacional-Socialista na Ótica de Norbert Frei, Marco Pais Neves dos Santos, escritor português da Universidade Nova de Lisboa, destaca os motivos que levaram à ascensão de Hitler: “A degradação econômica e social da Alemanha após a 1ª Guerra Mundial, a crise do capitalismo, a fragilidade social, o antissemitismo, o anticomunismo e o desejo de mudança de alguns setores da sociedade”. Tais pontos seriam, assim, parte da crise cíclica do capitalismo descrita por Gramsci.
“O fascismo é a fase preparatória da restauração do Estado – ou seja, de um recrudescimento da reação capitalista, de um endurecimento da luta capitalista contra as exigências mais vitais da classe proletária”, analisou Gramsci em 1920. Consolidando novamente o sistema capitalista com base na parceria com as grandes empresas alemãs –, o nazismo conseguiu restabelecer sua economia de maneira muito rápida. A custo de milhões de vidas, mas o fez.
Com informações da Aventuras na História