Diplomacia do governo Bolsonaro resvala para o submundo da geopolítica
Perdidos na noite (Midnigth Cowboy, no título original) é um filme de 1969 do premiado diretor John Schlesinger. Joe Buck (Jon Voight) é um jovem texano bronco e inculto, que migra para Nova Iorque e sobrevive como garoto de programa associado a um fracassado e delinquente de nome Rizzo (Dustin Hoffmann) no submundo da noite da metrópole.
Publicado 12/01/2020 20:02 | Editado 12/01/2020 20:15
O remorso de Orestes (1862) Autor: W.A.Bouguereau (1825-1905)
Perdidos na noite: a diplomacia brasileira na era do caos
Francisco Afonso Pereira Torres
No episódio envolvendo o confronto entre Estados Unidos e Irã, o governo brasileiro e o Itamaraty renunciaram aos interesses nacionais e resvalaram para o submundo da geopolítica, a serviço dos objetivos norte-americanos no conflito.
Brasil e Irã mantêm relações desde 1903, adensadas nos últimos governos com visitas de chefes de Estado, trocas de delegações oficiais e intensificação do comércio bilateral.
Em 1965, o presidente Castello Branco recebia a visita oficial do xá Reza Pahlav e sua esposa Farah Diba. A visita foi tratada na mais elevada esfera diplomática, com a assinatura de acordos e direito a selo comemorativo.
Em novembro de 2016, no governo do presidente Michel Temer, durante a visita do ministro da Economia e Finanças iraniano, Ali Taiebnia ao Brasil, o então ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Marcos Pereira, anunciava a projeção em futuro próximo de um comércio de US$ 5 bilhões entre os dois países.
Em 2009, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, visitou o Brasil, gesto retribuído em 2010 pelo presidente Lula em sua celebrada passagem por Teerã, quando tentou arranjar o acordo que reduzisse as expectativas do programa nuclear iraniano.
O Irã é o quarto importador mundial de produtos agrícolas do Brasil. Após o apoio do governo brasileiro ao assassínio do general Qasem Soleimani pelos Estados Unidos, a presidente da Câmara de Comércio Brasil-Irã, Romana Dovganyuk, estimou a redução em até US$ 1 bilhão nas compras de produtos brasileiros por importadores iranianos.
Perdidos na noite da geopolítica mundial, o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro Ernesto Araújo arrastam o Brasil para a irrelevância diplomática, e na prática trabalham para que os competidores do Brasil no agronegócio recebam de graça parceiros comerciais duramente conquistados pelo trabalho árduo de décadas de governos anteriores.
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Fonte: Bonifácio