Bolsonaro e Sérgio Moro, um casamento de conveniência

Por enquanto, um rompimento não interessa nem ao presidente nem ao ministro

A diretora de Democracia em Vertigem, Petra Costa, fixou-se na cena da despedida do ex-presidente Lula do Palácio do Planalto para mostrar o constrangimento com que a então nova mandatária da República, Dilma Rousseff, lidava com o seu vice-presidente, Michel Temer. A cena retratava um casamento de conveniência entre o PT e o MDB. Sem amor e com uma desconfiança mútua que servia de prenúncio para tudo o que ocorreu depois.

O poder é repleto de casamentos de conveniência. No caso da Presidência da República, deram certo aqueles em que o mandatário do Planalto conseguiu construir uma relação, digamos, amorosa com o cônjuge escolhido. Foi o que aconteceu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu vice, Marco Maciel, e com Lula e o vice, José Alencar. O mesmo não ocorreu com Fernando Collor e Itamar Franco, nem com Dilma e Temer.

O atual presidente Jair Bolsonaro também não vive uma relação amorosa com o vice, o general Hamilton Mourão. E chegou a declarar, no final de 2018, que uma chapa com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, “seria imbatível”. O problema para o casamento entre Bolsonaro e Moro é que falta amor e confiança mútua

O blog confirmou informação revelada pela jornalista Thaís Oyama no livro Tormenta, de que o presidente da República pensou em demitir seu ministro no ano passado. Foi em agosto, quando Moro criticou a manobra sobre o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) feita pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que blindou o senador Flávio Bolsonaro.

O ministro da Justiça foi informado de que o presidente foi demovido pelo general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com a ajuda do general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Segundo Moro foi informado, o general Heleno chegou a dizer ao presidente que a demissão poderia implodir o governo, devido à popularidade do ministro junto à base eleitoral do chefe.

Bolsonaro voltou atrás. Mas, desde então, a relação entre ele e seu ministro da Justiça nunca se recompôs inteiramente. O presidente desconfia de que Moro, na verdade, prepara sua própria candidatura ao Palácio do Planalto. O ministro conta com índices de aprovação nas pesquisas superiores aos do presidente da República. E tem um partido pronto para lançar seu nome em 2022, o Podemos.

Moro, por sua vez, acha que o presidente, assim como acena em abandonar o vice, Hamilton Mourão, poderá jogá-lo às traças assim que for conveniente. Por enquanto, no entanto, não interessa nem a Bolsonaro nem ao ministro um rompimento. Da mesma forma em que podem formar uma “chapa imbatível”, ambos detêm um poder de destruição sobre o outro que não vale a pena ser trazido à tona.

Publicado originalmente no UOL

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