A indústria e o desenvolvimento do Brasil

O Brasil não se desenvolve sem uma indústria pujante e diversificada. O percurso para retomada da indústria exige coordenação, visão estratégica e sobretudo mobilização das forças produtivas.

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O debate sobre o papel da indústria no desenvolvimento do Brasil não é novo, mas assume relevância diante dos inúmeros desafios que se renovam no século XXI, seja no âmbito interno, diante de três décadas de crescimento tímido, seja numa perspectiva internacional, onde toma força o debate sobre a importância da indústria na retomada do desenvolvimento dos países centrais diante da crise econômica em que o mundo mergulhou a partir de 2008.

Depois de um período de intenso crescimento, diversificação e consolidação do parque produtivo integrado (1950-1985) a indústria de transformação ampliou sua participação no PIB (Produto Interno Bruto), chegando a 22%. É importante destacar que esse período também foi marcado por um forte viés “autoritário, excludente, ambientalmente irresponsável e que infelizmente não rompeu com os vínculos de dependência, sobretudo financeira e tecnológica” (1). Contudo os anos 1980 registraram a mudança estrutural expressiva da indústria brasileira, elevando dramaticamente o hiato tecnológico que havia sido reduzido, num esforço brutal nos anos 1970 vis à vis a expansão da indústria mundial sobretudo dos países de industrialização tardia na Ásia.

O ciclo liberal iniciado nos anos 1990, forjou uma profunda mudança estrutural, seja através da liberação comercial abrupta, seja através da desregulamentação, terceirizações e desestatização, a indústria experimentou nesse período ganhos de produtividade através do que se convencionou chamar de “ajuste defensivo” (redução de custos, corte de empregos, importação de insumos e terceirização de atividades (2). Por outro lado, a essa “modernização conservadora” parece não ter conferido à indústria capacidade para competir e retomar o crescimento, pelo contrário, cresceu no período a participação do coeficiente de importação de insumos e bens intermediários, além disso se verificou o rompimento de elos importantes das cadeias produtivas, ou seja, as iniciativas dos anos 1990 acentuaram ainda mais os problemas da indústria.

As políticas industriais implementadas na década 2000 (PITCE(3), PDP, Brasil Maior) tentaram recuperar sem sucesso o protagonismo da indústria, a queda vertiginosa da participação da indústria de transformação na economia que atingiu o fundo do poço, em 2018, 11,3%, menor patamar registrado desde a década de 1940. Em outras palavras, a participação da indústria na geração de riquezas no país hoje é similar à que tínhamos ao final da década de 1940.

Uma breve retrospectiva de 2019 deixa clara a gravidade do problema, a taxa de investimento registrada no 3º trimestre de 2019 de 16,3% é uma das menores do mundo.

São 12 milhões de desocupados e 27 milhões de pessoas subutilizadas. As ocupações que registram crescimento são aquelas por conta própria e sem carteira assinada. No caso da indústria, no início de 2019, as estimativas para produção industrial eram de crescimento de 3,02%, contudo a realidade derrubou as expectativas e o desempenho do setor deve(4) registrar -0,7%.

Os desafios são imensos, mas o Brasil reúne todas as condições para superar essa crise, sobretudo através da recuperação e transformação da indústria que reúne dinamismo e economia de escala para estruturar um grande projeto de desenvolvimento.

O Brasil não se desenvolve sem uma indústria pujante e diversificada. O percurso para retomada da indústria exige coordenação, visão estratégica e sobretudo mobilização das forças produtivas. Os trabalhadores defendem uma indústria forte, com crescimento robusto e sustentável, baseado no diálogo social entre trabalhadores e empresários e governo, na superação de gargalos e demandas urgentes da sociedade brasileira, com agregação de valor e incremento da produtividade, fortalecimento do mercado interno (um dos maiores do planeta) e com ampliação da participação no mercado externo, geração de mais e melhores empregos, tendo em vista que o Brasil não cria vagas acima de dois salários mínimo há 14 anos (5). A produção econômica deve se transformar em desenvolvimento social, pela capacidade política de distribuir os resultados em termos de bem-estar social, qualidade de vida e equilíbrio ambiental.

1 http://www.ihu.unisinos.br/595785-a-manufatura-4-0-tera-efeitos-amplos-nos-proximos-dez-anos-sobre-toda-a-industria-mundial-para-o-brasil-sera-mais-dificil-que-a-era-fordista-entrevista-especial-com-marco-antonio-martins-da-rocha

2 Ver Kupfer. D. 2003. Política Industrial Economia, Rio, v5, n.2, p.91-108 Dez. 2003 Medeiros, Carlos A. Estrutura produtiva e crescimento econômico em economias em desenvolvimento. Economia e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 3 (58), p. 569-598, dez. 2016. Sarti, Fernando; Hirutaka, C. Transformação na estrutura produtiva global, desindustrialização e desenvolvimento industrial no Brasil: uma contribuição ao debate. Texto de Discussão. 255. Junho 2015 IE.- Unicamp

3 Política industrial, Tecnológica e de comércio Exterior – PITCE (2003-2007); Política de Desenvolvimento Industrial – PDP – (2008 – 2010

4 A Pesquisa Industrial/IBGE que afere o desempenho do setor, deve ser divulgado em 04/02/20 5 https://oglobo.globo.com/economia/pais-nao-cria-vagas-com-ganhos-acima-de-2-salarios-minimos-ha-14-anos-24211895

Documento elaborado pelo DIEESE

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