Brasil deveria aprender a gerenciar crise com a China, diz professor

Na China há 12 anos, o cientista político do Rio Grande do Norte José Medeiros da Silva afirma que, no […]

O professor José Medeiros é professor universitário e mora na China há 12 anos l Foto: Acervo pessoal

Na China há 12 anos, o cientista político do Rio Grande do Norte José Medeiros da Silva afirma que, no país asiático, não há pânico em relação ao coronavírus. Na sua avaliação, o governo chinês tem agido de forma exemplar para tratar a população, garantir o abastecimento das cidades e combater a epidemia. Ele condena o alarmismo envolvendo o assunto e aponta uma cobertura equivocada por parte da mídia. Os brasileiros estão com mais medo que os chineses, diz.

Segundo Medeiros, que é casado com uma chinesa e é professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, por lá, há preocupação e cuidado, mas as pessoas estão enfrentando o momento com serenidade e espírito de colaboração. A epidemia, que tem quase 30 mil casos confirmados, já provocou mais de 500 mortes no gigante asiático. Diante das ações que tem visto o governo implementar, o professor conta que se sente seguro e nem cogitou voltar ao Brasil.

Da cidade de Shaoxing – distante 800 km de Wuhan, epicentro do coronavírus -, ele tem esclarecido, em telefonemas, entrevistas e artigos, a real situação do país. “No Brasil, percebi que eles estavam muito mais com medo do que nós que estamos aqui dentro. Acho até que por isso mesmo, porque eles não estão aqui e não sabem o que está sendo feito. Talvez a imprensa não esteja informando de forma adequada. Pouco a pouco as informações mais corretas vão chegando e as pessoas vão ficando tranquilas”, disse, em entrevista à Rádio Internacional da China.

Em Shaoxing a população está mobilizada para combater o novo coronavírus l Foto: José Medeiros

De acordo com o professor, a forma como parte da imprensa brasileira tem feito a cobertura do acontecimento na China faz com que amigos e parentes tenham razão para ficar preocupados. “Nós esclarecemos. É uma situação difícil, mas em que todos estão contribuindo, participando. O governo tem se empenhado de forma exemplar. Não é uma situação para desespero. Para preocupação e cuidado, sim, não para desespero”, afirmou.

Segundo ele, a vida na cidade em que mora não está normal, já que há recomendações para não sair de casa por enquanto ou, se necessário sair, tomar medidas de proteção contra o vírus. Mas todos estão serenos, “usando de prudência, tomando os cuidados necessários e acompanhando o desenvolvimento da situação”.

Pela sua análise, o fato de não terem surgido novos casos na cidade significa que o quadro está sob controle, o que deixa a população mais confiante. “Não existe pânico. O que poderia levar pânico? Se houvesse um descontrole, mas não há descontrole. Ou se houvesse falta de mantimentos, alimentos. Mas o abastecimento está normal. Esses elementos são suficientes para que a população permaneça bem. Com todos contribuindo e seguindo as orientações, o governo está gerenciando essa crise de forma exemplar”, reiterou.

Ele opina que o Brasil poderia até aprender com os chineses sobre como gerenciar crises.  “O Brasil poderia estudar como a China está lidando com este momento, isso poderia realmente servir para amadurecermos mais e nos preparar melhor para o enfrentamento de situações adversas”, disse, em outra entrevista, desta vez ao Agora RN.

“É algo difícil, novo para a China. E o governo não está escondendo nada, está deixando tudo transparente. E está determinando o procedimento necessário para solucionar, conter a expansão do vírus, atender às pessoas. Houve a construção de um hospital em tempo recorde, há todo esse cuidado com abastecimento, produção de máscaras, com os avisos quarteirão a quarteirão, com a população voluntária, as forças armadas, todo mundo contribuindo para primeiro evitar que a epidemia se alastre”, citou.

O professor defende que isolar a cidade de Wuhan foi um passo importante. Ele classificou a medida como “grandiosa” e “corajosa”, sobretudo porque tem impactos econômicos na vida das pessoas. “Mas os dados estão revelando que foi o mais prudente e necessário”, elogiou.

José Medeiros crê que o momento é de cuidar das pessoas, ajudar quem está com a enfermidade, e evitar que a epidemia se propague. “Fazer isso isolando, procurando as pessoas que estão com vírus, fazendo a quarentena, orientando a ficar em casa e, se precisar sair, tomar cuidado, usar máscara, além de tranquilizar as pessoas, porque, se elas entram em pânico sem necessidade, a situação que está sendo resolvida entra em um nível que não sabemos as consequências”, colocou.

Hospital construído em tempo recorde atende pacientes com suspeita de coronavírus l Foto: Agência Xinhua

Ele ressaltou ainda a atuação, bairro a bairro, para transmitir informações e orientações a todos. “Nos quarteirões aqui, se você vai sair em algumas áreas que têm problema maior, tem alguém tomando a temperatura, verificando. Ou seja, a sociedade está engajada nesse combate. Isso é muito impressionante para mim. Porque procurar um vírus… É uma guerra contra essa epidemia, mas é uma guerra em que não se pode machucar as pessoas, que são as vítimas dessa virose. Isso está sendo feito de forma exitosa, na minha avaliação, de quem está aqui dentro”, celebrou.

De acordo com o brasileiro, o foco agora tem que ser cuidar das pessoas, não anunciar medidas econômicas. “Vai ter consequências econômicas? Vai. Mas depois se vê isso. A China vai se recuperar disso rápido. Acredito que vai sair muito mais forte. Nas situações de dificuldade é que se adquire mais experiência, conhecimento novo, para não se descuidar e fazer com que a vida das pessoas melhore cada vez mais. Não vão anunciar nada agora, mas penso que o mundo pode ficar tranquilo”, previu.

O professor encerrou a conversa com a CRI, alertando que, agora, o que a China necessita é de solidariedade. “Nesse momento, é o ser humano em primeiro lugar. Mas eu estou muito confiante. Se tivesse que definir em palavras esse momento, diria cuidado e confiança”.

Fonte: Da redação, com informações da Rádio China Internacional

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