Flávio Dino: Frente contra Bolsonaro terá “várias correntes políticas”

Ao Poder em Foco, governador do PCdoB afirmou que a esquerda deve sair do isolamento. “Ou a frente ampla está ao nosso lado, ou ela está contra nós.”

Em entrevista ao programa Poder em Foco, exibida pelo SBT na primeira hora desta segunda-feira (2), o governador Flávio Dino (PCdoB-MA) afirmou que busca aliança com “várias correntes políticas” – inclusive as liberais – para fortalecer a oposição ao bolsonarismo e à extrema-direita. Segundo ele, sem esse diálogo, pode haver, nas eleições presidenciais de 2022, uma nova “frente ampla” contra a esquerda, como ocorreu na eleição 2018.

“Não podemos repetir em 2022 o que tivemos em 2018 – no segundo turno, a esquerda presente e uma frente ampla contra a esquerda. Nós perdemos a eleição”, sintetizou o governador. “Ou a frente ampla está ao nosso lado, ou ela está contra nós. Por isso, é importante dialogar com setores liberais e outras lideranças, empresários, como tenho feito. Eles têm um papel determinante para que a gente possa não só vencer as eleições – [mas] vencer e governar. Ninguém governa sozinho.”

Para Dino, há momentos da luta política em que é possível superar divergências e buscar um consenso mínimo entre correntes distintas. “O governo do Maranhão governa com 16 partidos. Não só venci a eleição com 16 partidos – eu governo meu estado com esses 16 partidos”, exemplifica. Na visão do governador, o maior desafio da esquerda é, além de ir ao segundo turno da disputa presidencial, ter “a capacidade de, estando lá, atrair apoios”.

Dino negou que sua prioridade atual seja viabilizar a própria candidatura à sucessão de Bolsonaro em 2022. “Estamos ainda no alvorecer de 2020, é muito precoce. Seria um enorme equívoco político colocar o carro adiante dos bois”, disse. “Seria um atropelo do principal – o diálogo, a abertura, o programa, conectar a esquerda com população, mostrar que temos a oferecer um mundo melhor. Aí vamos discutir mais adiante.”

Em 18 de janeiro, Flávio Dino se reuniu com Lula na sede da CUT (Central Única dos Trabalhadores), em São Paulo. Indagado a respeito do que foi discutido no encontro, o governador negou que tenha tratado sobre a possibilidade de se filiar ao PT. “Esse diálogo não ocorreu, como já foi esclarecido. Eu componho, inclusive, a Executiva Nacional, a direção nacional do meu partido. Seria uma atitude estranha se houvesse esse tipo de diálogo”, disse.

O governador deixou claro que, ao se encontrar Lula, defendeu a “frente ampla” para enfrentar a direita de Bolsonaro. “Argumentei muito fortemente nessa direção. A esquerda, sozinha, não dá conta da resistência ao bolsonarismo e à reconquista do comando central do País.”

A seu ver, é possível que os partidos de esquerda se unam já em 2020. “Temos muitas conversas entre as lideranças dos partidos e eu acredito, sim, que é um processo em curso de distensionamento – de construção de um novo programa, de uma nova identidade, de uma visão mais prospectiva, de uma visão que dialogue para o futuro a partir, claro, dos problemas reais da população. Acho que há uma alta possibilidade de isso ocorrer já em 2020 e também em 2022.”

Dino afirmou que o cenário político-eleitoral tem melhorado. “Vamos promover a maior convergência possível no primeiro turno – e acho que nós estamos caminhando bem, muito bem, melhor agora do que em 2018, na minha avaliação”, declarou. “Vamos ver quem é possível atrair para uma perspectiva que não seja extremista, uma perspectiva que seja de mediação nacional, um projeto nacional que albergue diferentes visões e que faça também concessões. Nós, da esquerda, não podemos impor o nosso ideário. Temos que respeitar a legitimidade de outros setores sociais também”, disse.

Para ele, é positivo que o apresentador Luciano Huck, da TV Globo, se lance à Presidência à margem do “bolsonarismo” – o que pode ajudar a frente ampla. “Luciano Huck é da esquerda? Claro que não – nem ele pretende. Mas nós podemos conversar com ele, e eu tenho conversado”, disse. “Ele tem se colocado no campo liberal não bolsonarista e tem polarizado setores do PSDB, da academia, economistas importantes. Portanto, ele tem a sua representatividade.”

Do golpe a Bolsonaro

O governador do Maranhão fez críticas à forma como o governo Dilma Rousseff (2011-2016) conduziu a política econômica do País, mas disse que a responsabilidade não é “exclusiva” da ex-presidenta. “Todo mundo reconhece que as desonerações tributárias foram excessivas e equivocadas, porque agonizaram a crise fiscal. E todos que acompanham política sabem que grande parte das desonerações foi feita no Congresso Nacional, com emendas parlamentares de vários partidos. Havia as pautas-bomba.”

Para ele, a crise econômica criou um “ambiente equivocado” e, consequentemente, deu à esquerda a responsabilidade sobre os problemas do país. Essa “culpa”, em conjunto com um “isolamento político”, teria resultado no golpe contra Dilma, em 2016. “Houve uma ideia de uma nova matriz econômica que, infelizmente, acabou sendo mal balanceada, mal graduada no tempo – e ela foi atropelada pela crise política e pelo golpismo que levou ao impeachment inconstitucional.”

O político do PCdoB defendeu que erros do passado balizem a construção de propostas “mais ajustadas” para o futuro. “Nossa agenda hoje tem que ser desemprego, segurança pública, saúde, educação, que o governo atual não está fazendo nada. Essa é a nossa agenda. Para acertar nela, temos que olhar para o passado e aprender com nossos erros”, afirmou. “Mas temos também que socializar os erros, senão fica essa narrativa ficcional, mitológica e equivocada que só a esquerda errou. Foi só a esquerda? Esses métodos de campanha, financiamento, etc., nasceu quando a esquerda chegou ao poder?”

Na visão de Dino, a sequência de fatos políticos, a crise econômica e, principalmente, o golpe contra Dilma resultaram na ascensão da direita e na eleição de Jair Bolsonaro à Presidência em 2018. “Se não tivesse ocorrido o impeachment, não existiria Bolsonaro. A vida é assim”, afirma. “O arranjo da nova República teria continuado de pé. O bolsonarismo é a corrente política da direita, que destrói o pacto político que foi feito, quando da Constituinte – aliás, quando das Diretas Já, antes. Ele rompe com esse pacto. Não teria ocorrido esta ruptura se não tivesse ocorrido a ruptura do impeachment.”

Ao avaliar o governo Bolsonaro, Dino afirma ser “muito difícil” visualizar acertos. O Brasil hoje tem um comando “belicista e extremista”, o que “atrapalha” o desenvolvimento do País. “Sempre olho para o vértice, para o líder. E o líder, infelizmente, não ajuda, porque ele descontrói muito, desarruma muito”, diz.

De acordo com ele, o governo federal deveria adotar medidas na Petrobras, de modo a reduzir o valor do gás de cozinha, da gasolina e do diesel – produtos que, “em larga medida” têm o preço atrelado ao câmbio. “A Petrobras decidiu – na minha visão, erradamente – indexar os preços ao mercado internacional. Quando o dólar dispara, é claro que o gás de cozinha vai a R$ 100. É errado e tem que ser corrigido. Estamos falando de problemas reais do Brasil.”

O governador do Maranhão falou sobre o acordo promulgado pelo Congresso, em 20 de novembro de 2019, que permite uso do Centro Espacial de Alcântara. Além dos Estados Unidos, outros países que fazem uso da tecnologia poderão se beneficiar da base. “O acordo não é para os Estados Unidos usarem a base de Alcântara. É para qualquer empresa do planeta, sendo dos Estados Unidos ou não, seja da Itália ou do Canadá, que use tecnologia americana, poder lança foguete de Alcântara. Como 80% da tecnologia do mercado aeroespacial é americana, é um acordo de propriedade intelectual, de proteção e salvaguardas tecnológicas.”

Educação

Dino reafirmou sua prioridade em valorizar a carreira dois professores da rede estadual do Maranhão. Em 2018, o governo propôs um reajuste salarial com aumento de seis variações diferentes, de 5% a 17%. A medida foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Maranhão em 6 de fevereiro. Pelo texto, o piso para uma jornada de trabalho de 20 horas semanais – que era de R$ 1.200 – passou para R$ 1.400 e com as gratificações, subiu para R$ 2.700. Para a jornada de 40 horas semanais, que era de R$ 2.400, aumentou para R$ 2.800 e pode chegar a R$ 6.500 com as gratificações.

Para os pagamentos, os recursos serão de fontes como o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e o Tesouro. “A Constituição diz que temos que gastar 25% da nossa receita em educação – e nós estamos gastando 30%. A lei do Fundeb diz que você pode pagar 60% do Fundeb com salários e 40% com custeios e investimentos. Eu decidi que 100% do Fundeb é para salários dos professores. Também retiro de outras fontes, do Tesouro, do Fundo Escola Digna, de doações de empresas os recursos necessários para o custeio e o investimento. É uma escolha. Eu escolhi a educação e estou feliz com essa escolha.”

Questionado pelo entrevistador, o governador expressou a opinião de que se faz necessário atualizar identidade visual do PCdoB e admitiu debater o próprio do nome da legenda. Dino afirmou ser “comunista, graças a Deus” e contextualizou o termo. “Por conta dos ecos das ditaduras, difundiram-se muitos preconceitos contra a palavra ‘comunista’. É uma coisa meio curiosa, porque não há base etimológica”, disse.

“Comunista é comunhão, comum, comunidade. A origem etimológica da palavra remete só a coisas boas: comunhão, partilha, comunidade”, afirmou. “Mas, infelizmente, isso foi satanizado por certas atitudes ao longo da história, da ditadura militar e outras. E, infelizmente, atualizadas agora por esse extremismo.”

Com informações do Poder360

Um comentario para "Flávio Dino: Frente contra Bolsonaro terá “várias correntes políticas”"

  1. Flávio Sérgio Henriques Silva disse:

    Gostei muito da entrevista de Dino, mas como a grande imprensa deu grande peso a opinião de nosso governador sobre mudanças no nome e boa símbolos de nosso Partido, gostaria de declarar minha discordância com Dino nesse aspecto, até porque ainda hoje grande parte dos trabalhadores do Brasil e do mundo, seguem sobre a opressão e miséria dignas do século 19. Se existe um preconceito contra o Comunismo devemos combatelo e não captular-mos diante dele. Podemos ter ter manter nosso nome e símbolos e ter e ter marcas alternativas como o M65. Dino, no Congresso que discutirá tais mudanças terá minha oposição e de muitos camaradas COMUNISTAS.

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