De Olho no Mundo, por Ana Prestes
A especialista em relações internacionais Ana Prestes, aborda em suas notas desta segunda-feira (9) a queda do preço do Petróleo, as grandes mobilizações do Dia da Mulher e o coronavírus que se espalha na Itália. Entre outros assuntos:
Publicado 09/03/2020 12:14 | Editado 09/03/2020 13:03
Queda do preço do petróleo chegou a 34% na madrugada que passou, pior baixa desde o final da Guerra do Golfo em 1991. A queda é resultado de uma disputa no âmbito do mercado do petróleo entre a OPEP e a Rússia. Com a crise do coronavírus, a demanda por petróleo aumentou e a preocupação com a superprodução levou a OPEP a propor uma regulação para diminuir a produção mundial. Só que a Rússia (que não é membro da OPEP) não aceitou. Foi aí que os sauditas resolveram lotar o mercado de petróleo, aumentando sobremaneira a oferta e fazendo o preço cair muito. No início desta segunda as bolsas asiáticas já abriram em queda, no Japão a queda foi de 5,1%, em Hong Kong, 4,2% e Shangai 3%. Na Europa a queda foi ainda maior, Londres com 8,52% de perda e Frankfurt 7,5%. (Meio)
O 8 de março foi mais uma vez de grandes mobilizações em todo o mundo, apesar de terem sido menores em países da Europa e da Ásia por conta da epidemia do coronavírus. Na América Latina o grande destaque foi para a marcha das mulheres em Santiago. Uma multidão ocupou as ruas da capital e fala-se em milhões de pessoas nas ruas, superando inclusive os maiores atos do final de 2019 que levou o país à consulta sobre uma nova Constituição a ser realizada no próximo mês de abril.
Na Itália, em 24 horas, o número de mortos por coronavírus aumentou de 233 para 366 e de pessoas infectadas de 5883 para 7375. A escalada nos números aumento a sensação de pânico no país. O primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou o fechamento de escolas, academias, museus, casas de festas, feiras, tudo. Pelo menos até 3 de abril. Viagens também só poderão ser feitas com autorizações especiais. Tudo isso na regiões da Lombardia, Milão, Veneza, Emiglia Romana e Piemonte. Enquanto escrevo, vejo que já são 111.284 casos registrados em todo o mundo e 3892 mortes. Coreia do Sul e Itália estão empatados no segundo lugar em número de casos, depois da China que segue na liderança. O Irã não está muito atrás. Os três países, Coreia do Sul, Itália e Irã estão na casa dos 7 mil casos. Um ou outro artigo circulando nas redes aponta que pode estar havendo subnotificação de casos nos EUA. Muitas matérias também abordam a precariedade do sistema de saúde e laboral para dos EUA para atender a crise. Os trabalhadores americanos não tem cobertura de saúde, o sistema público nessa área não existe e não há previsões legais de licença médica do trabalho. Na Coreia do Norte, diplomatas de vários países foram autorizados a sair e algumas Embaixadas fecharam, após um período de quarentena determinada pelo governo do país.
Enquanto Bolsonaro luxuosamente jantava com Donald Trump em um resort na Flórida, mais brasileiros migrantes eram algemados na fronteira para serem deportados ao Brasil. O voo que trouxe os brasileiros já é o sétimo desde outubro. As algemas não foram retiradas durante a viagem, segundo um dos passageiros relatou em uma reportagem da FSP. Aliás, algemas e correntes, atando os pulsos e também os pés. Entre os deportados há relatos de separação de familiares, apesar de terem sido detidos ao mesmo tempo. “Pai de três filhos, Délcio queria juntar dinheiro para pagar a faculdade da filha mais velha, de 18 anos. (…) Já Danilo planejava dar melhores condições de vida ao filho Gabriel, ainda na barriga da mãe, Bárbara, grávida de seis meses. Trabalhando com pintura e colocação de gesso em imóveis, ele diz que vive de bicos, sem conseguir emprego fixo, há quatro anos.” Esses são alguns dos relatos que encontramos na reportagens.
Fui dar uma olhadinha na imprensa americana sobre a visita de Bolsonaro ao país e em todas aparecia a palavra Venezuela. Bolsonaro não foi convidado por Trump para ir aos EUA, foi para uma agenda regional com os senadores Marco Rubio e Rick Scott, do Partido Republicano, além de empresários e militares com quem assinou acordo na sede do Comando Sul. No entanto, Trump deve ter pensado em aproveitar a presença do colega sul-americano para novamente envolvê-lo no projeto de maior serventia que o Brasil tem hoje para os EUA, atacar a Venezuela. Em uma das reportagens, do “New York Post” a chamada da matéria é a seguinte: “Trump tenta colocar o presidente do Brasil Jair Bolsonaro a bordo de seus planos para a Venezuela”. Dizem que a Huawei e seu 5G que tanto incomodam Trump também esteve no menu do jantar presidencial, mas quando perguntado na conferência à imprensa sobre supertarifação do aço e do ferro brasileiro, Trump desconversou. Do Brasil só quis saber de “venha a mim o vosso reino”.
E Ronadinho Gaúcho, embaixador do turismo do governo Bolsonaro, apareceu em vídeos e fotos no Paraguai com os braços enrolados em um pano. Por baixo estavam algemas. Ele e seu irmão estão presos desde a última sexta (6) na capital Assunção, após terem passaportes (paraguaios) falsos apreendidos. A crise gerou a renúncia do diretor de migração do Paraguai, Alexis Penayo. Um empresário brasileiro que estava com eles, Wilmondes Sousa Lira, também está preso. A prisão preventiva foi pedida pelo promotor Osmar Legal e mantida pela juíza Clara Ruíz Díaz. Na sequencia, uma empresaria do Paraguai, Dalia Lopez, também foi presa. Ela teria sido a responsável pela ida do jogador ao país. Note-se que os passaportes falsos são paraguaios, os números correspondem aos documentos de duas mulheres paraguaias. O jogador e o irmão dizem que achavam que os documentos eram uma cortesia para eles.
Seguem as prévias democratas e depois da superterça com a consulta a 14 estados, vem aí a miniterça, amanhã (10), com a consulta a 6 estados: Idaho, Michigan, Mississipi, Missouri, Dakota do Norte e Washington. Uma nova pesquisa Reuters-Ipsos vem apontando Biden 13 pontos à frente de Sanders. No final de semana, Biden recebeu o apoio da senadora Kamala Harris que também foi pré-candidata e se destacou no início do processo. Outro ex-pré-candidato a apoiá-lo foi Cory Booker, também senador. Dois ex-pré-candidatos apoiaram Sanders, Marianne Willilamson e Bill de Blasio. O apoio de Elizabeth Warren segue como um mistério. E um apoio importante para Sanders foi o de Jesse Jackson, destacado por seu ativismo por direitos civis e grande referencia para a comunidade afro-americana, um dos pontos débeis de Sanders.