“Decisivo na luta de ideias”, Augusto Buonicore é sepultado em SP

Historiador e militante comunista há 40 anos faleceu nesta quarta-feira (11) durante tratamento de um linfoma

O último adeus ao historiador Augusto Buonicore foi marcado por emoção e lembranças de camaradas do Partido Comunista do Brasil, amigos e familiares. Augusto tinha 59 anos e faleceu na quarta-feira (11), após nove meses de tratamento de um linfoma no intestino.

Membro do Comitê Central do PCdoB, Buonicore publicou inúmeros artigos sobre o marxismo. Mesmo em tratamento, continuava a produzir conteúdos para a Fundação Maurício Grabois e já trabalhava em artigos sobre o fundamentalismo e identitarismo, segundo a companheira Sônia. O presidente da Fundação, Renato Rabelo, destacou que será difícil ocupar a lacuna deixada por Buonicore. Para ele, “serão necessárias quatro ou cinco pessoas trabalhando para fazer o que Augusto fazia na Fundação”.

Rabelo também destacou a amplitude do discurso de Augusto, que conversava e ouvia todas as correntes “Um estudioso do marxismo, um grande militante comunista. Ele estava no seu melhor momento como intelectual e fará uma falta enorme, sobretudo nesse momento que mais precisávamos dele. Um participante decisivo na luta de ideias quando a gente busca saídas”.

Em fevereiro, Buonicore publicou, em sua página no facebook, lembranças da militância no PCdoB, que havido completado 40 anos. “Ele foi um dos principais quadros do partido que interpretou com justeza a importância da luta das ideias e implementou métodos para isso”, lembrou Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB e amigo de Buonicore desde o início da militância partidária.

Autor do livro Meu Verbo É Lutar – A Vida e o Pensamento de João Amazonas, biografia do ideólogo e construtor do PCdoB, Augusto era conhecido pela formação teórica no partido. Diversas lideranças partidárias passaram pelas aulas de Augusto, que ajudou a fundar a escola nacional de formação do PCdoB.

“Além da elaboração da escola, a grande contribuição dele era o modo simples e didático que ele trabalhava. Ele exerceu um papel muito além de professor e militante. Além de professor, ele formava professores”, lembrou Nereide Saviani, diretora da Escola Nacional João Amazonas.

Os artigos do historiador nortearam diversas lutas dos comunistas. “Os artigos que ele escreveu sobre a relação da questão racial e o marxismo são referências para quem pensa uma sociedade sem racismo no Brasil”, destacou Edson França, presidente da União de Negros e Negras do Brasil (Unegro).

Amigos de Augusto – que era militante do partido em Campinas, interior de São Paulo – lembraram a postura de homem culto e simples. “Cresci admirando seu conhecimento como historiador e coerência política, mas também o exemplo e legado enquanto ser humano que luta por uma sociedade mais justa”, disse o vereador comunista de Campinas, Gustavo Petta.

Para a presidenta do PCdoB Campinas, Márcia Quintanilha, Buonicore, “com seu trabalho deu visibilidade ao Museu da Imagem e Som (MIS) e ao Museu da Cidade. Intelectualmente, estava no seu melhor momento de elaboração da nossa política, principalmente no que diz respeito à Frente Ampla. Por aqui, continuaremos seu legado de investir na formação política e ideológica dos nossos militantes e construir a unidade política para derrotar o conservadorismo”.

Durante a trajetória na cidade, Buonicore organizou a Associação dos Secundaristas de Campinas (ASC). Depois, participou da reconstrução da União Campineira dos Estudantes Secundaristas (Uces) e, posteriormente, da Upes e da Ubes. Formado em história pela PUC-Campinas, onde atuou no movimento universitário, passou a militar no movimento sindical e participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas (STMC).

Jadirson Tadeu, atual coordenador do sindicato, destacou que Augusto “deixa uma riqueza tremenda para o sindicalismo e o partido”. Riqueza essa destacada pelo presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasill (CTB), Adilson Araújo: “A classe trabalhadora sempre pode nutrir da preocupação de Buonicore pela produção de conteúdo e ideias”.

Sepultado na manhã desta quinta-feira (12), Augusto Buonicore deixou a mãe, Dolores, a esposa, Sônia, e a filha, Clara.

De Campinas,
Henrique Brazão

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