Negligência: BNDES deixa de investir R$ 100 bi no combate à Covid-19

Montante, estimado recentemente pelo próprio presidente do banco, segue parado mesmo após 20 dias da confirmação da epidemia de Covid-19 no Brasil

Um ousado programa de financiamento público para a infraestrutura de saneamento básico.(Foto: Reprodução)

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pode destinar R$ 100 bilhões para ações de combate ao novo coronavírus no Brasil. Mas o montante, estimado recentemente pelo próprio presidente do banco, Gustavo Montezano, segue parado mesmo após 20 dias da confirmação da epidemia de Covid-19 no território brasileiro.

Segundo a Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES), a paralisia do diante da gravíssima situação de saúde pública pela qual passa a população contrasta com o ocorreu em novembro de 2016, quando o Brasil se deparou com a epidemia de zika. Na época, para ajudar a debelar a doença, o BNDES – por meio do Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico (Funtec) – aprovou apoio não reembolsável de R$ 23 milhões para o plano da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de combate à epidemia.

“Apenas a negligência com que o tema da pandemia do novo coronavírus vinha sendo tratado pelo governo pode explicar por que o BNDES não tenha sido acionado até agora”, alerta o presidente da AFBNDES, o economista Arthur Koblitz. Segundo ele, os recursos do BNDES/Funtec destinados à Fiocruz em 2016 serviram até para a criação de kits de diagnóstico de zika.

Agora, diz Koblitz, a prioridade deve ser “a intervenção direta que o banco poderia ter em apoio ao sistema de saúde. A omissão até agora, vigésimo dia da pandemia, é de indiscutível gravidade. Está claro que a difusão da Covid-19 vai colocar o sistema de saúde brasileiro sob uma pressão inédita”.

Koblitz explica que o BNDES pode atuar de várias formas no combate à crise na saúde e na economia. “Em todas as esferas da saúde em que certamente vai haver um gargalo, o banco pode agir. O BNDES poderia agir, por exemplo, na ampliação da produção de kits de diagnóstico; na ampliação de número de leitos; na ampliação da oferta de equipamentos e insumos essenciais”, afirma.

Entre os insumos, o economista destaca os chamados “respiradores”, que podem escassear nos próximos dias. “Há fabricação nacional por duas empresas que, inclusive, atendem critérios de conteúdo mínimo local – e uma das empresas é apoiada hoje pelo banco”, afirma. Segundo Koblitz, o BNDES pode “agir na expansão das fábricas dessas empresas e, ao mesmo tempo, via Finame (Programa de Financiamento à Produção e Comercialização de Máquinas e Equipamentos), para comercializar seus respiradores para hospitais a taxas incentivadas, talvez à taxa zero”.

Em maio de 2019, ainda sob a gestão Joaquim Levy, o BNDES lançou uma linha de crédito direta para fabricantes da área de saúde, que pode se constituir em outra linha de apoio para o combate ao Covid-19, e um programa de apoio à gestão das Santas Casas (que atravessam há anos uma série crise financeira). Instituições filantrópicas de saúde são responsáveis por quase 60% dos leitos disponíveis para o SUS.

“Mas nem mesmo sobre uma possível extensão destes programas para o contexto atual se ouve falar por parte da diretoria do BNDES. As devoluções bilionárias feitas pelo banco ao Tesouro poderiam ser muito úteis nesse momento tão trágico de pandemia. Mas elas já foram destinadas para o pagamento da dívida pública”, denuncia Koblitz. “É preciso parar imediatamente com tais devoluções para que o dinheiro seja escoado para ajudar no combate à crise.”

Para o economista, o BNDES será capaz de minimizar o impacto da crise com um programa amplo de capital de giro, o alongamento do perfil da dívida das empresas que já têm empréstimos com o banco e a organização de um pacote de investimento de urgência em infraestrutura.

“Que medidas nessa direção sejam anunciadas. Parecem atrasadas, mas o importante é que apareçam logo”, diz Koblitz. “O que não dá para entender é a omissão do banco na área direta da saúde. Essa omissão da atual diretoria do BNDES e do Ministério da Economia não dá para perdoar.”

Com informações da AFBNDES

2 comentários para "Negligência: BNDES deixa de investir R$ 100 bi no combate à Covid-19"

  1. Gostei do assunto de sua publicação, gostaria de ver se é pertinente de divulgar em meu site: link acima.

    Sds.

    Hermes

  2. Sou a Camila da Silva, e quero parabenizar você pelo seu artigo escrito, muito bom vou acompanhar o seus artigos.

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