Consórcio Nordeste usa ciência para combater Covid-19

A iniciativa inédito no Brasil é coordenada pelo neurocientista Miguel Nicolelis.

O renomado neurocientista coordena o comitê l Foto: Reprodução

Os nove governadores que compõem o Consórcio Nordeste estão apostando no método científico para combater o coronavírus. Por isso mesmo chamaram para coordenar a Comissão Científica do Consórcio, o mundialmente renomado neurocientista Miguel Nicolélis.

Nicolélis disse que essa resolução é histórica. “Não me lembro na historia do Brasil recente de uma decisão tão audaciosa”, disse ele sobre a contratação de médicos formados no exterior, estudantes e voluntários para atuarem no combate à pandemia do Covid-19.

“Nós estamos oferecendo, em cada estado do Nordeste, a possibilidade de 15 mil médicos brasileiros e estrangeiros, que estão no Brasil sem poder praticar a medicina, fazerem um processo rigoroso de revalidação do seu diploma em seis meses”, disse à imprensa Nicolélis.

A primeira iniciativa do Consórcio foi criar a Brigada Especial de Saúde com o objetivo de reforçar as equipes de saúde no combate ao novo coronavírus. Para multiplicar o contingente de profissionais em campo, foi feita a contratação temporária, por seis meses, de estudantes, médicos, voluntários para atuarem na prevenção e assistência à população.

Segundo Nicolélis, a estratégia de atuação dos profissionais contratados será feita com base em informações fornecidas pela própria população, por meio do aplicativo “Monitora Covid-19”, desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele afirma que a implantação da medida será imediata.

“Como as pessoas vão poder fornecer seus dados clínicos pelo aplicativo, a gente vai ter uma noção de onde estão os novos focos e onde estão os pacientes que precisam de ajuda imediata”, explica. “A brigada vai ser o braço efetuador dessa estratégia”. Ele diz que a partir das localizações onde estão os focos, a equipe de profissionais de saúde vai agir nos municípios e, caso confirme a infecção pelo coronavírus, vai isolar as pessoas para que não haja a contaminação.

Nicolélis comemora a agilidade dos governadores em aprovar a medida. “Em duas semanas a ideia foi da cabeça da gente para uma resolução aprovada. Tempo recorde. Isso é algo muito importante”, aponta.

Estratégia

O médico sanitarista Hêider Pinto, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e membro do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, ressalta que os médicos contratados atuarão de forma móvel, identificando e se deslocando para os principais centros de atenção à pandemia.

“Você pode ter intercâmbio entre os profissionais. A gente pode imaginar que algumas regiões do interior do Piauí vão começar a ter um pico da pandemia depois de Fortaleza. Então você poderia ter uma situação em que profissionais de Fortaleza possam atuar no interior do Piauí”, explica Hêider.

Antes de ir a campo, os novos profissionais passarão por avaliações e treinamentos para a atuação junto à população. “Nós não vamos cobrar dele nada mais e nada menos do que se cobra dos médicos brasileiros. Muitas vezes, nas avaliações para médicos formados fora do Brasil, se um padrão muito mais alto do que para os médicos brasileiros”, admite Hêider.

O médico sanitarista afirma que uma das principais correções que se busca com a instituição da Brigada de Saúde é a atenção primária – ou seja, a prevenção e contenção da doença logo nos primeiros sintomas. “Já que não se faz intervenção clínica no início e a unidade básica de saúde é um lugar onde as pessoas podem contaminar outras, a atenção primária tem papel fundamental no enfrentamento da pandemia”, afirma.

Ele diz que as medidas coletivas, como o isolamento social, são importantes, mas é possível avançar. “Eu posso mobilizar os profissionais da atenção primária para irem até as pessoas que estão no domicílio, com suspeita, fazer o reforço e tomar medidas”.

Entrevistas

Em duas entrevistas concedidas à GloboNews, registradas pela colunista Miriam Leitão, Miguel Nicolélis falou sobre o trabalho e alertou para dois grandes riscos:

1 – “Esta é uma guerra biológica, uma guerra multidimensional, híbrida, diferente de todas as tradicionais. O front da guerra muda constantemente. E você tem que ter a habilidade de se mover no tempo do vírus. É um inimigo centrado em atingir seu objetivo, que é sobreviver às nossas custas. E nós deveríamos estar centrados no objetivo de eliminar essa invasão a qualquer custo”.

2 – “Havia a hipótese de alguns pesquisadores americanos, que tinham a esperança de que ele [o vírus] não prosperaria da mesma forma em clima quente. Isso não está tendo confirmação. O colapso de Manaus é muito assustador. No Nordeste, o número de mortes com síndromes respiratórias agudas graves é impressionante”.

Por fim, Nicolélis explica que o primeiro passo para vencer esta guerra é conhecer o inimigo: “Para isso a ciência tem que ser colocada em primeiro plano. Tem que ser reconhecida como uma arma mais poderosa que a humanidade tem para sair da defensiva e armar o contra-ataque. Todas as vezes que os políticos bateram de frente com a biologia, a biologia ganhou de goleada”.

Fonte: Brasiliários

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