Congressistas dizem que saída de Teich agrava crise sanitária no país

Parlamentares comentam pedido de demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde. Para eles, Bolsonaro tem compromisso com o erro ao trabalhar contra as normas de saúde e defesa da vida

(Foto: Reprodução)

Em meio à pandemia de Covid-19, que já vitimou mais de 14 mil brasileiros até esta sexta-feira (15), o Brasil perde seu segundo ministro da Saúde. Após reunião com Bolsonaro nesta manhã, a Pasta divulgou nota com o anúncio da demissão de Nelson Teich.

Ele deixa a função antes mesmo de completar um mês no cargo, após discordâncias com o presidente sobre a condução do enfrentamento da crise sanitária.

Nos últimos dias, Bolsonaro e Teich tiveram desentendimentos sobre o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. Bolsonaro quer alterar o protocolo do SUS e permitir a aplicação do remédio desde o início do tratamento, enquanto o Ministério defende seu uso só em casos graves.

Outro desentendimento se deu na edição do decreto que ampliou as atividades essenciais no período da pandemia e incluiu salões de beleza, barbearia e academias de ginástica. Na ocasião, Teich afirmou sequer ter sido informado da decisão do presidente. Além disso, eles também discordaram sobre os detalhes do plano com diretrizes para a saída do isolamento. O presidente defende uma flexibilização mais imediata e ampla.

Para os deputados do PCdoB, Bolsonaro reafirma seu compromisso com o erro e coloca em xeque a vida de milhares de brasileiros.

“Teich não aceitou assumir os atos genocidas de Bolsonaro. Podemos ter uma tragédia ainda maior, caso Bolsonaro nomeie agora alguém que aceite ser guiado por sua mente genocida. Ele não é médico, mas receita a cloroquina na esquina e quer liberar geral, suspendendo isolamento. Ele não se preocupa com a vida das pessoas. Só tem uma coisa em mente: sua reeleição. Por isso, a economia é mais importante do que a vida das pessoas”, afirmou a líder do PCdoB, deputada Perpétua Almeida (AC).

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também comentou a saída do recém-chegado ministro e afirmou que “o governo de Bolsonaro segue a todo custo tentando trabalhar contra as normas de saúde, de defesa da vida, de proteção às famílias e profissionais de saúde”.

O deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) lembrou que pouco antes de sua demissão, Teich já havia informado que “estava difícil conciliar a realidade com os desejos de Bolsonaro”. “Está difícil conciliar os desejos do presidente Jair Bolsonaro — de uso da cloroquina e flexibilização do isolamento — com o que é possível fazer dentro dos recursos disponíveis no país e o que preconiza a ciência”, afirmou Teich.

Após tantos desencontros no enfrentamento da crise, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que a saída de Teich era “pedra cantada” e que Bolsonaro está empenhado em destruir o Brasil. “Bolsonaro é uma usina de crises e está verdadeiramente empenhado em destruir o Brasil e matar milhares de brasileiros com sua irresponsabilidade. Ele precisa da crise para sobreviver. Ele tem compromisso com o erro e adora a morte. Enquanto não arranjar um terraplanista, que aceite sujar as mãos de sangue receitando a cloroquina indiscriminadamente, não vai sossegar”, disse.

Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), Bolsonaro “segue dificultando a luta do povo brasileiro contra o coronavírus “com suas ações e ideias absurdas”.

Com a saída de Teich, o general Eduardo Pazuello, secretário-executivo da Pasta até então, assume o cargo interinamente. Pazuello foi colocado no ministério por sua capacidade de organização logística. Sua nomeação, junto com a de outros militares, levantou suspeitas de que Nelson Teich seria tutorado na Pasta.

O ex-ministro chegou a ser questionado sobre a militarização de seu ministério pela deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) durante videoconferência da comissão externa da Câmara de ações contra o coronavírus. Na ocasião, Teich falou que “estamos em guerra” e que as pessoas nomeadas tinham competência para os cargos. Após a demissão do ministro, a parlamentar apontou o tema novamente.

“Assim como Mandetta, Nelson Teich também apresentou discordâncias com Bolsonaro sobre as medidas para o combate ao coronavírus e o uso da cloroquina. O presidente já convidou um general para ocupar o cargo. O que será que vem por aí?”, questionou.

Após a saída de mais um ministro, a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) usou suas redes para cirticar a postura do governo. “Alguém ainda tem alguma dúvida do total despreparo desse governo para lidar com essa pandemia?! Não possuem nada de técnico e, ainda por cima, há uma mistura de vaidade, arrogância e obsessão no comando”, afirmou.

Num tom otimista, o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) lembrou que a luta de profissionais de saúde aliada às políticas adotadas nos estados por muitos governadores podem ser a resposta à população. Mas como ele lembra, a luta é “dura”. “De um lado Bolsonaro + coronavírus, juntos, atacando a população. De outro lado, médicos, profissionais de saúde, estudiosos, cientistas, governadores, prefeitos defendendo a população. Avante, venceremos esta guerra”, afirmou.

Uso da claroquina

O líder da Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), diz que o Brasil centenas de milhares de mortes pela COVID-19 e Bolsonaro, ao impor o uso da cloroquina ao ministro da Saúde, faz o ministro pedir demissão. “Que destino o Brasil está entregue! Que a democracia nos livre desse mal que é Bolsonaro”, afirmou o líder.

O líder da Oposição, André Figueiredo (PDT-CE), Nelson Teich é mais um ex-ministro que não aguenta a conduta irresponsável de Bolsonaro. “Em plena pandemia iremos para o terceiro ministro da Saúde. Infelizmente isto só acontece no Brasil. Que Deus proteja nosso povo!”, protestou.

O líder do PT, Enio Verri (RS), lembrou que a saída do ministro acontece antes de ele completar um mês no cargo. “A política destrutiva de Bolsonaro, de ser contra todos os protocolos mundiais de proteção e combate à pandemia, se comportando como um aliado do coronavírus, derruba mais um ministro”, disse.

“O pedido de exoneração de Teich, após menos de um mês da demissão de Mandetta e em plena escalada da pandemia, é muito grave. Essa dança de cadeiras é mais uma tentativa do Bolsonaro de tutelar todo e qualquer ministro para impor sua visão obscurantista, autoritária e contra a Ciência”, avaliou a líder do PSOL na Câmara, deputada Fernanda Melchionna (RS).

“Diante das imposições do presidente, só topará ser ministro da Saúde quem não tiver compromisso com a ciência e nem com medicina. O pedido de demissão do ministro demonstrou que ele tem”, afirmou o vice-líder do PL, deputado Marcelo Ramos (AM).

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o Brasil espera que o novo ministro demitido conte as reais razões pelas quais deixa o cargo menos de um mês depois de ter assumido. “Os brasileiros precisam saber em que, desta vez, Bolsonaro tentou criminosamente interferir. É mais um para o rol de crimes de que é acusado”, ironizou.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) avaliou que mais do que caos momentâneo, a queda de dois ministros em menos de um mês, durante uma grave crise de saúde, gera insegurança ao país.

“Bolsonaro prioriza sua política mesquinha, seus acordos com o centrão. Enquanto isso, pessoas morrem! Bolsonaro é o maior aliado do coronavírus!”, criticou o senador.

PCdoB na Câmara

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