Unegro 32 anos

Ao longo desses 32 anos a Unegro se dedicou integralmente à sua vocação, esteve nas principais lutas populares empreendidas pelo povo brasileiro

Dia 14 de julho completa 32 anos que uma geração indignada com as desigualdades social, econômica e política, com a violência policial que submete e ceifa a vida de jovens negros, com o desemprego que joga ampla maioria da população negra na pobreza, e com o racismo que torna cada mulher e homem negro num alvo preferencial das múltiplas opressões, fundaram, em Salvador, a União de Negras e Negros Pela Igualdade, a Unegro.

A compreensão desse grupo, que sem saber fundava um dos principais instrumentos brasileiro de luta contra o racismo, era que sem o protagonismo de mulheres e homens negros nas ruas mobilizando o povo contra a exploração, o machismo e o racismo não seria possível emancipar o povo brasileiro do legado da escravidão e das ignomínias de uma sociedade violenta e excludente moldada pelos donos do poder.  

Ao longo desses 32 anos a Unegro se dedicou integralmente à sua vocação, esteve nas principais lutas populares empreendidas pelo povo brasileiro: Fora Collor, defesa das riquezas nacionais, contra as privatizações, nas lutas por direitos, em solidariedades aos povos vitimados pelo imperialismo, contra o golpe que jogou o Brasil nessa longa noite sob ameaça neofascista. A Entidade compôs a CMS, esteve na fundação e consolidação das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, compõe a resistência democrática contra Bolsonaro, ou seja, três décadas empunhando as mais justas bandeiras que tremularam em nossa pátria.

Na crise sanitária, econômica, política e civilizacional atual, agravada pelo comportamento irresponsável, genocida e antinacional de Bolsonaro, obrigará a constituição de uma ampla frente em defesa da democracia, dos direitos e do Brasil, compomos essa frente e chamamos a participação de todos.   

 No âmbito da luta contra o racismo perseguimos reiteradamente a construção da necessária unidade do movimento negro: nas plenárias sul / sudeste, norte/nordeste que resultaram no primeiro Encontro nacional de Entidades Negras – I ENEN e na fundação da CONEN; compomos as construção da marcha do Tricentenário de Zumbi dos Palmares em Brasília, em 1995, a Marcha Zumbi +10 em 2005; a Campanha Outros 500 em parceria com os povos indígenas, movimentos populares e trabalhadores; contribuímos com a Construção da Marcha Nacional das Mulheres Negras, além de compor a organização dos três encontros nacionais de mulheres negras.

Fomos as ruas por Mandela e pelo fim do apartheid; compomos o esforço nacional de construção das plenárias e conferências preparatórias a Conferência Mundial Contra o Racismo, realizado pela ONU, em Durban, e estivemos na vitoriosa delegação brasileira na Conferência Mundial na África do Sul. A Unegro participa de experiências de fóruns de entidades negras nos estados e nacional, compôs todo processo de debate com vista à construção da CONNEB, a Convergência Negra e investimos energias na construção da Coalizão Negra por Direitos.  

A Vida sempre foi alvo de preocupação e defesa da Unegro, por isso, denunciamos o extermínio programado da população negra, nos somamos a luta contra grupos de extermínio na campanha Não Matem Nossas Crianças; fomos partícipe da luta que garantiu a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a formação dos conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes e dos conselhos tutelares. Mais recentemente a Unegro introduziu o debate sobre a presença de negras e negros nos espaços de poder e decisão. Consideramos que a batalha institucional é fundamental, considerações as instituições um instrumento importante que pode contribuir com o antirracismo e com a melhoria na qualidade de vida da população negra. Diante disso, a cada ano cresce nosso compromisso e comprometimento com a luta eleitoral, em 2020 não será diferente, nos envolveremos nas eleições em todos os municípios que estamos organizados.

A Unegro participou da experiência da ascensão das forças progressistas, que chegou em Brasília e espraiou Brasil afora. Estivemos linha de frente em todo processo de construção da Igualdade Racial, no âmbito da gestão, do controle social, no debate público, nas elaborações das plataformas antirracismo, nas mobilizações sociais. Defendemos a inclusão de negras e negros nas universidades públicas e privadas, atuamos na aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, nas políticas de proteção aos quilombolas e aos povos tradicionais, reforçamos a implantação da Lei 10.639 em todo país, contribuímos com os múltiplos debates da Educação. Defendemos o SUS, contribuímos com a atualização do Comitê Técnico da Saúde Integral da População Negra.

Participamos de todas as conferências de igualdade racial, além de outras conferências temáticas fundamentais para o desenvolvimento do antirracismo. A UNEGRO esteve no Conselho de Igualdade Racial desde sua fundação, integramos o seleto grupo que estruturou o controle social na igualdade racial, contribuindo com estados e municípios a instituir conselhos.

A Unegro foi contituída em todo país, percorremos centenas e centenas de municípios brasileiros, dialogamos com uma ampla base social, forjamos ao longo de 32 anos quadros para luta política nos partidos, nos movimentos populares e institucional. Nos orgulhamos de ter como membros dessa construção ícones da política, da intelectualidade, cultura, sindical: Olívia Santana e Orlando Silva na fundação da Entidade; Gabriel Nascimento, Richard Santos e Juarez Tadeu, quadros da intelectualidade respeitados em toda América Latina. Benedito Cintra, mestre formador, responsável por boa parte do resultado do Estatuto da Igualdade Racial; Mãe Oyacy Roxinha e Mãe Nilsia sempre zelando por todas as unegrinas e unegrinos. Ubiraci Matildes, Rosa Anacleto e Uiara Lopes, guerreiras que acompanham a Unegro há mais de trinta anos. Mônica Custódio e Jerônimo Silva representaram grande avanço no trabalho de combate ao racismo no mundo sindical. Muitos quadros importantes: Julião Vieira, Claudia Vitalino, Santa Alves, Elis Regina, Denis Denilto, Geovani Machado, Adriana Silva, Wellington Barros, Mônica Custódio, Sergio Pedro, Carlos Alberto, Rodvania Frazão, Beto de Oliveira, Alexandre Magno e Alexandre Braga, Vanderlei Negritude, Elizangela Almeida, Ismar, Eroilton Santos, Thaty Meneses, Andrey Lemos, Jose Pereira, Welligton Lima, Ricardo, dentre tantos que não serão citados por falta de espaço no texto. Outros tombaram, aos quais rendemos homenagens em nome das mais recentes partidas: Ogan Arimatéia, Professora Clarice, Everaldo Metalúrgico, Paulo Sergio Amendoim, Emmanoel Medeiros.

Destaco o crescimento da juventude nas fileiras da Unegro, um importante símbolo desses jovens capazes, talentosos, bem formados, comprometidos com a luta racial é a atual Presidenta Nacional, Ângela Guimarães. Ângela sintetiza a ascensão do protagonismo feminino e jovem em toda Entidade e no movimento negro brasileiro.   

Nesses 32 anos forjados na luta a Unegro teve a capacidade de realizar transições geracionais em suas direções, nacional e nos estados. Diversificou sua presença em vários segmentos da luta antirracismo, ampliou o protagonismo feminino nas direções, foi capaz de atrair lideranças de vários perfis, desde o jovem lgbt da periferia a doutores em atividade nas universidades.

Por fim, só é possível uma instituição como a Unegro existir por 32 anos se produz coisas que se propõe e que atende a sociedade. No terceiro congresso nacional da Unegro, realizado em 206, no Rio de Janeiro, Haroldo Lima disse: “só vive 18 anos, as instituições que prestam”, com a fala do mestre, selamos três décadas e dois anos.

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