Preços ao produtor industrial subiram 10,8% em 2020

Dados do IBGE mostram que as altas de preços, que vão onerar o consumidor na ponta da cadeia, não se restringem aos alimentos.

Preços industriais subiram - Foto: Rodrigo Czekalski /DAF Caminhões/ Fotos Públicas

Os preços ao produtor industrial brasileiro subiram 10,8% em 2020, alta acumulada até o mês de agosto. No acumulado de 12 meses, a elevação chegou a 13,74%. Os dados referem-se ao Índice de Preços ao Produtor (IPP) das Indústrias Extrativas e de Transformação, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O IPP mede a evolução dos preços de produtos “na porta de fábrica”, sem impostos e fretes, e abrange informações por atividades e por grandes categorias econômicas, ou seja, bens de capital, bens intermediários e bens de consumo (duráveis e semiduráveis e não duráveis).Em agosto, os preços das 24 atividades pesquisadas pelo IBGE subiram, contra 20 atividades no mês anterior.

As atividades que registraram as maiores altas no acumulado do ano foram as indústrias extrativas (34,91%), outros equipamentos de transporte (21,41%), madeira (20,63%) e metalurgia (20,57%). A indústria alimentícia também houve alta significativa, de 16,51%, a maior observada para agosto e que só encontra uma variação similar em agosto de 2012 (14,41%).

Em agosto, as quatro maiores variações em relação a julho foram nas indústrias extrativas (8,43%), refino de petróleo e produtos de álcool (6,24%), outros produtos químicos (4,13%) e alimentos (4,07%). Os setores de maior influência foram: alimentos (1,00 p.p.), refino de petróleo e produtos de álcool (0,52 p.p.), indústrias extrativas (0,44 p.p.) e outros produtos químicos (0,32 p.p.).

As elevações registradas para os preços industriais mostram que as altas de preços, que vão onerar o consumidor na ponta da cadeia, não se restringem aos alimentos. Há um movimento inflacionário generalizado, e empresários relatam falta de materiais no mercado.

Segundo o economista Altair Garcia, analista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), esse aumento generalizado se deve a uma rede complexa de fatores. Entre eles o dólar alto, que favorece as exportações, e a pandemia do novo coronavírus.

No caso específico da pandemia, muitas questões influem. Uma delas é que outros países priorizaram seus mercados internos e estão exportando menos, o que leva à escassez de alguns produtos. Outro motivo é que, durante os meses de isolamento social, muitas indústrias se desmobilizaram e reduziram seus estoques. Agora, levam algum tempo para refazê-los.

Segundo Altair Garcia, o governo federal sabia que isso aconteceria e poderia ter tomado medidas para reduzir os impactos – entre elas, a priorização do mercado interno a exemplo de outros países, garantindo que não faltassem itens estratégicos e de primeira necessidade.

“Essas questões poderiam mobilizar o governo, tanto do ponto de vista da reconversão industrial, que é você direcionar a produção para o que está faltando, quanto em termos de estratégia de segurança alimentar [há uma redução nos estoques reguladores de alimentos da Conab]. Determinados produtos não podem depender do humor do mercado. Mas isso parece que o governo não entende”, afirmou o economista.

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