Extrema-direita usa pandemia para ganhar espaço nas ruas

Mmovimentos extremistas aproveitam teorias da conspiração divulgadas online e organizam protestos

Enquanto a mídia europeia noticia uma possível segunda onda da pandemia de Covid-19, as ruas do Velho Continente são palcos de protestos reacionários e violentos. Não por coincidência, as diferentes ações da extrema-direita ocorrem num momento em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para uma “fadiga da pandemia” e contra a politização do coronavírus. É exatamente isso que os ultradireitistas tentam fazer: usar a crise como uma oportunidade política para ganhar espaço nas ruas.

Os “distúrbios” (forma como o noticiário costuma classificar esses atos deliberadamente criminosos) protestam contra as restrições impostas pelos governos para conter a propagação do novo coronavírus. Tanto na Itália quanto na Polônia, manifestantes de extrema-direita provocaram confrontos com a polícia no final de semana. Já na Alemanha, o organismo governamental que gere a pandemia foi atacado com garrafas e líquidos inflamáveis.

O fenômeno não é novo, nem exclusivo desses países. É parte de uma tendência de envolvimento da extrema-direita em ações irresponsáveis contra medidas para a contenção do vírus. Para aumentar sua influência – sobretudo nos grandes centros –, os movimentos extremistas aproveitam teorias da conspiração divulgadas online.

Nesta segunda-feira (26), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, usou a expressão “fadiga da pandemia” para definir uma das causas do crescimento de contágios e do recente aumento da lotação de hospitais. Além da Europa, ele falava também sobre os Estados Unidos, que está a uma semana da eleição presidencial.

“Muitos países do Hemisfério Norte estão vendo um aumento da preocupação com casos e hospitalizações. As unidades de terapia intensiva estão lotando em alguns lugares, particularmente na Europa e na América do Norte”, declarou Tedros a repórteres em Genebra.

Mais de 43 milhões de pessoas em todo o mundo testaram positivo para o novo coronavírus desde o início da pandemia – e mais de 1,1 milhão de pessoas morreram em consequência da Covid-19. Na última semana, o mundo tem registrado mais de 400 mil novos casos por dia.

Para Tedros, as restrições, como os lockdowns, “cansaram” os povos. “Trabalhar em casa, escolarizar as crianças remotamente, não poder comemorar datas com amigos e familiares ou não poder se despedir de entes queridos é difícil. A fadiga é real”, disse o chefe da OMS. “Mas não podemos desistir.”

“À medida que as unidades de terapia intensiva ficam mais cheias, os líderes devem equilibrar a perturbação causada a vidas e meios de subsistência com a necessidade de proteger a saúde de trabalhadores e de sistemas de saúde”, agrega. “Onde tem havido divisão política – onde tem havido desrespeito flagrante pela ciência e por profissionais de saúde –, a confusão se espalhou, casos e mortes aumentaram. É por isso que eu disse repetidamente: parem com a politização da Covid-19.”

Os comentários de Tedros foram feitos após Mark Meadows, chefe de gabinete do presidente Donald Trump, afirmar à CNN que o governo americano não acredita mais que seja possível conter a pandemia. “Não vamos controlar a pandemia. Vamos controlar o fato de termos vacinas, tratamentos e outras mitigações”, disse Meadows, comparando a Covid-19 a uma gripe sazonal.

A Europa passou a ser uma das principais preocupações atuais da OMS. ”Não há dúvidas de que a região europeia seja atualmente um epicentro da doença”, afirmou o diretor para urgências médicas da OMS, Michael Ryan. Somente na semana passada, 46% das infecções mundiais por coronavírus e quase um terço das mortes foram registradas na Europa.

Da Redação, com Público e DW

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