Greve na Índia reúne 250 milhões, a maior na história mundial

Trabalhadores e agricultores protestam contra medidas do primeiro-ministro Narendra Modi e melhores condições de vida e trabalho

Mais de 250 milhões de trabalhadores e agricultores entraram em greve na Índia, um novo recorde mundial para a maior paralisação da história. | OIT - Ásia / Pacífico

Na quinta-feira, 26 de novembro, a Índia assistiu a maior greve da história da humanidade. Mais de 250 milhões de trabalhadores e agricultores, com aliados entre estudantes, mulheres e grupos da sociedade civil, participaram da greve. Mais de uma semana depois, os lavradores continuam ocupando a capital Nova Delhi e os líderes trabalhistas prometem que é apenas o começo.

A paralisação coincidiu com o Dia da Constituição da Índia, que comemora a adoção da constituição em 1949, e foi resposta a um ataque sem precedentes aos direitos dos trabalhadores e à proteção dos agricultores pelo governo de direita do primeiro-ministro Narendra Modi.

As consequências econômicas da pandemia da covid-19 empurraram a Índia para uma verdadeira recessão, exacerbando as desigualdades e privações existentes. O produto interno bruto (PIB) apresentou queda recorde de 23,9%, enquanto o desemprego disparou para 27% sem precedentes.

Em meio a uma crise generalizada, o governo de direita liderado pelo Partido Bharatiya Janata implementou novas emendas aos códigos trabalhistas e introduziu projetos de lei agrícolas que reverteram os principais avanços históricos nos direitos dos trabalhadores e proteção agrícola.

“Achhe din (dias felizes)? Este governo nos empurrou para o inferno!” disse o furioso Sukhdev Prasad, um operador de máquina de torno em uma das áreas industriais de Ghaziabad, antes da greve. O desprezo pelo governo Modi e o comentário fulminante sobre a promessa agora esquecida de tempos melhores, feita pelo primeiro-ministro, expressam apenas sua raiva latente.

“Quase não conseguimos sobreviver, esmagados entre os aumentos de preços de um lado e os baixos salários do outro. Agora, eles mudaram as leis trabalhistas para que os patrões estejam sentados em nosso peito”, acrescentou, referindo-se aos novos Códigos do Trabalho que flexibilizaram as regras para demitir trabalhadores, introduziram mais opções de contratos de trabalho por prazo determinado e dificultaram a atividade sindical.

Trabalhadores na capital, Nova Delhi, se juntaram a ondas protestos dos lavradores de estados vizinhos. Eles estão sendo esmagados pela revogação de Modi das proteções de preços para suas safras. Milhares de agricultores romperam o bloqueio policial e marcharam para a cidade nos dias seguintes à greve. A polícia usou repetidamente canhões de água contra eles, mas não conseguiu quebrar seu espírito de luta.

Agora, um impasse intenso entre o governo e os agricultores está em andamento. Na segunda-feira, 30 de novembro, dezenas de milhares de agricultores acamparam em três locais, na fronteira de Nova Delhi. Eles vieram preparados – com meses de suprimentos – e dizem que estão determinados a não voltar até que o governo Modi ceda.

Os agricultores continuam com o protesto indefinido sob a bandeira da Samyukta Kisan Morcha (Frente Unida dos Agricultores) até que as leis agrícolas sejam revogadas. As três leis provavelmente enfraquecerão a regulamentação existente sobre preços básicos para produtos agrícolas e mercados de produtos mediados pelo governo e possibilitarão um papel maior às empresas na agricultura. Muitos criticaram as leis como um pacote neoliberal feito para o setor agrícola que está em crise há quase duas décadas.

Inicialmente, a greve foi organizada por uma coalizão de movimentos de trabalhadores e agricultores, com 10 confederações nacionais e o grupo guarda-chuva All-India Kisan Sangharsh [Luta dos agricultores] Coordination Committee (AIKSCC). A organização consiste em mais de 200 grupos de agricultores em toda a Índia. A greve também recebeu apoio de partidos de esquerda e vários grupos de oposição.

Algumas das principais demandas contidas na carta de 12 pontos apresentada pelos organizadores incluem a revogação das medidas de Modi em relação aos preços agrícolas e também às trabalhistas. A carta propões também uma reversão nas recentes políticas de desinvestimento em grandes empresas estatais, implementação dos esquemas de bem-estar existentes para trabalhadores rurais e a expansão das políticas de bem-estar para ajudar as massas afetadas pelas consequências econômicas da pandemia Covid-19.

Os trabalhadores e lavradores que protestavam enfrentaram uma repressão feroz da polícia em Nova Delhi, que fez uso repetido de bloqueio. As forças do estado também são acusadas do uso de cassetetes e canhões de água para impedir a marcha.

Em confrontos semelhantes com as autoridades, grupos de trabalhadores e agricultores paralisaram grandes cidades metropolitanas como Calcutá e Mumbai, com protestos organizados nas principais rotas de transporte. O cinturão de indústria e de mineração no leste e no centro da Índia também testemunhou uma paralisação virtual.

Os organizadores afirmaram que a greve é ​​uma preparação para mais lutas futuras no país. “Os trabalhadores e camponeses não vão descansar até que as políticas desastrosas e disruptivas do governo do BJP sejam revertidas. Esta greve é ​​apenas o começo. Lutas muito mais intensas virão”, disse Tapan Sen, secretário-geral da Central Indiana de Sindicatos (CITU), uma das confederações sindicais que participam da greve.

Este artigo apresenta material combinado de vários relatórios arquivados pelo People’s Dispatch.

Tradução: José Carlos Ruy

Fonte: People´s World


(*) People’s Dispatch, organização de mídia internacional que traz notícias de movimentos e organizações populares em todo o mundo.

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