EUA: Democratas vencem na Geórgia e devem ter as rédeas do Senado

Com 98% dos votos apurados, democratas já garantiram uma das duas vagas em disputa no estado e lideram a disputa pela segunda vaga por uma margem mínima de votos

Considerado um tradicional reduto do Partido Republicano, o estado norte-americano da Georgia voltou a “virar voto”. Após dar a vitória a Joe Biden nas eleições presidenciais do ano passado, a Geórgia está a um passo de garantir ao Partido Democrata a hegemonia no Senado.

Com 98% dos votos apurados, segundo levantamento da Associated Press (AP), os democratas já garantiram uma das duas vagas em disputa no estado, com a vitória do reverendo Raphael Warnock, e lideram a disputa pela segunda vaga por uma margem mínima de votos. A disputa pela segunda vaga, ainda de acordo com a projeção da AP, está em aberto.

Aos 51 anos, Warnock é pastor na Igreja Batista Ebenezer – templo religioso que já foi dirigido por Martin Luther King. Ele venceu a senadora republicana Kelly Loeffler, tornando-se o 11º negro a ser eleito senador nos Estados Unidos – e o primeiro pela Geórgia, estado sulista historicamente conservador, de passado escravocrata. Desde 2000, a Geórgia não elegia um candidato democrata ao Senado.

Warnock reivindicou sua vitória já no fim da noite desta terça-feira (05). “Nesta noite, mostramos que, com esperança, trabalho árduo e pessoas ao nosso lado, tudo é possível”, disse ele a seus apoiadores em discurso pelas redes sociais. Sua oponente ainda não admitiu a derrota.

Conforme a projeção da AP, o reverendo venceu a adversária com vantagem de cerca de 50 mil votos. As emissoras CNN, NBC e CBS confirmaram igualmente a vitória com 50,5% a 49,5%. “Geórgia, estou honrado pela confiança que vocês depositaram em mim. Irei ao Senado para trabalhar por todos os georgianos”, disse o reverendo.

Segunda vaga

A disputa pela segunda vaga ao Senado segue mais apertada. Às 06h30 desta quarta-feira (6), a apuração apontava liderança do democrata Jon Ossoff sobre o atual senador David Perdue, que é republicano. A diferença de votos entre eles, contudo, é mínima: 50,1% a 49,9%.

De acordo com a AP, a vantagem de Ossoff é de menos de 13 mil votos. Nem os postulantes ao Senado, nem a mídia norte-americana cravam um vitorioso. É esperado que o resultado saia ainda hoje. Os futuros ocupantes do Senado, bem como o da Casa Branca, tomam posse em 20 de janeiro.

A Geórgia está indo às urnas novamente porque, na disputa de 3 de novembro, nenhum dos quatro candidatos conseguiu obter 50% dos votos dos cidadãos. Mais de 3 milhões de cidadãos votaram de maneira antecipada – cerca de 40% daqueles que têm direito ao voto.

Caso a vitória de Ossoff se confirme, esse seria mais um duro golpe contra o presidente Donald Trump, que perdeu a disputa à reeleição e sequer venceu na Geórgia. Os democratas passariam a ter as rédeas do Senado – hoje controlado pelos republicanos –, o que facilitaria os dois primeiros anos de governo Biden. O partido do presidente eleito já tem maioria na Câmara dos Representantes, presidida pela deputada Nancy Pelosi.

Ao contrário da Câmara, uma vitória dos dois democratas na Geórgia não garantiria ao partido maioria no Senado em número de representantes. No momento, os democratas têm 46 cadeiras, além de dois senadores independentes que geralmente votam com o partido. Já os republicanos têm 50 assentos. Se os democratas ficarem com as duas vagas em jogo na Geórgia, as cem vagas do Senado ficarão divididas meio a meio.

Só que, em caso de empate em alguma votação, o voto de desempate seria da vice-presidente eleita, Kamala Harris. Pela legislação americana, o vice-presidente também ocupa o cargo de presidente do Senado. Assim, Biden teria muito mais facilidade em sua relação com o Legislativo. A vantagem democrata tira dos republicanos a possibilidade de barrar qualquer nome indicado aos gabinetes da presidência, além de facilitar a aprovação de projetos prioritários do governo que necessitem de maioria simples de votos.

Trump

Assim como aconteceu nas eleições presidenciais, o presidente Donald Trump acompanhou o processo de apuração em tempo-real, comentando a evolução da contagem em suas redes sociais. Mais uma vez, Trump atacou, sem provas, a idoneidade do processo eleitoral americano, acusando uma “nova fraude” na Geórgia.

“Aconteceu de encontrarem outras 4 mil cédulas de votação no condado de Fulton. Lá vamos nós”, escreveu o presidente no Twitter. A rede social marcou a publicação de Trump com uma tag de alerta, informando aos usuários que a afirmação não tem base em nenhuma evidência.

No domingo, as acusações de fraude eleitoral do presidente voltaram ao noticiário após a revelação de uma ligação em que Trump pressiona o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, sobre o resultado da eleição presidencial no estado. Na gravação, Trump chega a citar o condado de Fulton, afirmando que teve acesso a informações sobre manipulação de votos no local.

Em comício na Geórgia em apoio aos candidatos republicanos, Trump usou o palco para mais uma vez expressar suas queixas sobre o resultado da eleição presidencial, atacando inclusive a transferência pacífica de poder. Em vez de reforçar as candidaturas de David Perdue e Kelly Loeffler, o presidente transformou o encontro em uma palestra cheia de teorias da conspiração, rumores, afirmações não comprovadas e ataques pessoais contra democratas, a mídia e funcionários republicanos da Geórgia.

A retomada das denúncias de fraude eleitoral por parte de Trump ocorre na reta final de seu mandato, no que parece um último esforço para se manter no poder. Além de tentar evitar a derrota republicana na Geórgia, Trump também espera que o Congresso não confirme a decisão do Colégio Eleitoral que leva Biden à presidência – um ato simbólico, que costuma ocorrer como mera formalidade.

Inflamados pela retórica agressiva do presidente, apoiadores de Trump estão reunidos em Washington nesta quarta-feira, numa tentativa de reverter a derrota nas urnas. Vários grupos se reuniram em um movimento batizado nas redes sociais de “Stop the steal” (parem o roubo, em tradução livre). O Congresso se reúne para a confirmação do resultado eleitoral hoje.

Com informações do Estadão e agências

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