Princípios: Artigo desconstrói teses de Agamben sobre pandemia

Assinado por Cristiano Capovilla e Fábio Palácio, o artigo “Visões da pandemia – As teses de Giorgio Agamben como idealizações do Ocidente” critica as formulações do filósofo sobre a pandemia global de covid-19. Agamben minimizou a existência da pandemia e criticou as medidas adotadas por muitos governos como “frenéticas, irracionais e completamente injustificadas”. O pensador italiano sustenta que a pandemia teria sido “fabricada”, aproximando-se assim das posições negacionistas de líderes como Trump e Bolsonaro.

O artigo está disponível na edição 160 da Revista Princípios, que pode ser acessada online ou ter sua versão impressa adquirida no site da Editora Anita Garibaldi.

Os autores estabelecem um debate teórico que expõe conexões entre o “campo pós-moderno — em cujo âmbito Agamben costuma ser situado — e as tendências à chamada pós-verdade. Essas linhas de conexão derivam, entretanto, de dicotomias estabelecidas já nos primórdios da modernidade”, apontam.

Palácio e Capovilla buscam demonstrar ao longo do artigo que as ideias de Agamben “têm como pano de fundo analítico a cisão entre liberdade e conhecimento, estabelecida de modo paradigmático por Immanuel Kant”. Trazem em seguida ao debate a contraposição de Hegel à separação entre entendimento e razão, que dissolve essa dicotomia e “engendra a unidade dialética entre prática e teoria, sujeito e objeto, liberdade e necessidade”.

A partir desse percurso teórico, os autores apontam que é necessário pensar a superação da pandemia pela ação simultânea e correlata do conhecimento científico e do Estado-nação, sendo ambos expressão de uma verdadeira e realista liberdade coletiva. Essa visão se contrapõem à de Agamben, que vê nas medidas adotadas contra a pandemia um pretexto para ampliar governos autoritários e que violam direitos humanos, abrindo caminho para a implantação de estados de exceção, tema central para o pensamento do filósofo italiano.

Em suas conclusões, os autores apontam que “ao negar valor de objetividade à peste em nome de uma liberdade abstrata e a-histórica, Agamben — irmanando-se a Trump e Bolsonaro em suas críticas à ciência e à ação do Estado — escancara o hiato por onde a calamidade irrompe. Assim, pelo menos como vem sendo entendida, a pós-modernidade, embora se afirme como crítica radical dos pressupostos da Ilustração, não chega a constituir autêntica superação da modernidade, sendo no máximo o seu outro lado, que se mantém atado aos mesmos pressupostos de última instância, por mais que os leia com o sinal invertido”.

Serviço
Revista Princípios – edição 160?Acesso online: https://revistaprincipios.emnuvens.com.br/principios/article/view/102/31?
Edição impressa: https://www.livrariaanita.com.br/produto/465032/principios-edicao-160

Do portal Grabois.org.br

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