Princípios: Artigo desmascara “anacronismo” das políticas industriais

Artigo mostra como a pandemia explicitou as contradições da divisão do mundo em cadeias globais de valor (CGV), mostrando a importância de fortalecimento das cadeias produtivas internas, demandando políticas nacionais de industrialização, até mesmo em países desenvolvidos.

O xadrez geopolítico entre China e EUA desmascara a ideia de que políticas industriais são desnecessárias

Mais um destaque da nova edição da revista Princípios (160), o artigo de Uallace Moreira discute as “Tendências da dinâmica do comércio mundial pós-covid-19”. Especialista na dinâmica econômica da Coreia do Sul, o autor foi apontado, recentemente, como um dos principais formadores de opinião econômica no Twitter. No texto, ele examina as tendências da economia mundial e dá indicações para o pós-covid, propondo um debate sobre a possibilidade de uma nova configuração do comércio internacional.

Ele observa que o quadro evidenciado durante a pandemia já vinha revelando suas fortes contradições antes de 2020. A dependência simultânea de todo o mundo de cadeias produtivas de equipamentos de proteção individual, respiradores, vacinas e insumos farmacêuticos, todas concentradas em poucos países asiáticos, acabou revelando a dimensão da encrenca em que as economias ocidentais estavam metidas, há um bom tempo. O modo como os conflitos geopolíticos estão se conformando também apontam para uma mudança na mentalidade dos governos sobre políticas industriais.

Moreira observa que cai por terra, de forma estrondosa, a ideologia disseminada de que as políticas nacionais de industrialização são totalmente anacrônicas (Gary Becker, John Williamson, Lawrence Summers), na medida em que o mercado é capaz de eleger competências, e cada país cumprir sua vocação nas CGV. Nem precisava uma pandemia para entender que se tratava de discurso falacioso, bastasse pensar as assimetrias entre as nações e no impacto que as diversas revoluções industriais e tecnológicas causaram no desenvolvimento econômico de cada país.

Nada mais claro que a própria ascensão de Donald Trump, seu protecionismo e suposta política de reindustrialização dos EUA, para mostrar que livre comércio e CGV só serve para países dependentes e subordinados. Assim, a nova tendência da economia internacional será justamente que países mais soberanos começam anunciar políticas industriais e tecnológicas para fortalecer suas estruturas produtivas internas.

Mesmo quem tem uma indústria desatualizada para tecnologias como inteligência artificial, automação, robótica, 3D, tecnologia de informação e digitalização, estão perdendo o bonde das CGV.

Vale a pena acompanhar como o raciocínio de Moreira evolui ao analisar as características das CGV conforme foram idealizadas e como se definiram até o cenário atual, para então mostrar suas contradições e reflexos sobre os países que ficaram a margem, como o Brasil. Os conflitos recentes, novas tendências e oportunidades apontadas, completam o artigo.

O artigo está disponível na edição 160 da Revista Princípios, que pode ser acessada online ou ter sua versão impressa adquirida no site da Editora Anita Garibaldi.

Do portal da Fundação Maurício Grabois

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