Trabalhadores da Câmara dos Deputados se posicionam contra trabalho presencial

Segundo eles, não há como cumprir medidas protetivas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a fim de evitar a contaminação pelo coronavírus

Plenário virutal da Câmara dos Deputados (Foto: Maryanna Oliveira/Agência Câmara)

Em um abaixo-assinado aos parlamentares, trabalhadores da Câmara dos Deputados se posicionam contra a volta do trabalho presencial, conforme decisão tomada pela Mesa e o plenário da Casa. Segundo eles, não há como cumprir medidas protetivas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a fim de evitar a contaminação pelo coronavírus.

“O ano e a Presidência da Câmara mudaram, mas a pandemia ainda não e, segundo especialistas, está ainda pior, com índices de contaminação altíssimos. A perspectiva de que as novas cepas de Covid-19 sejam ainda mais contagiosas mostram que esse não é o momento para que todas as atividades presenciais sejam retomadas”, diz um trecho do documento.

No documento intitulado Carta à Vida, os trabalhadores sugerem a manutenção das sessões virtuais, pois essa decisão não prejudicaria o bom funcionamento da casa, mas sim, asseguraria saúde para todos, inclusive aos parlamentares, os quais também estarão ainda mais expostos em trabalho presencial. “Já foi provado que o trabalho remoto cumpre o objetivo, afinal, em 2020 milhares de proposições foram discutidas e aprovadas, sem contar na economia gerada ao erário”, diz outro trecho do documento.

Confira a íntegra da Carta:

Trabalhadores e Trabalhadoras da Câmara dos Deputados

Carta à Vida,

Distinto (a) parlamentar

Nesta singela carta, que denominada de Carta à Vida, expressamos nossos sentimentos e angústias acerca do retorno ao trabalho presencial, conforme decisão tomada pela Mesa Diretora e aprovada pelo Plenário da Câmara dos Deputados.

Sabemos da sua posição correta ao longo destes 11 meses em defesa da vida, do distanciamento social, das orientações pela não aglomeração, pelo uso de máscaras e outras medidas que Vossa Excelência atende conforma as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Sabemos que na prática não é possível cumprir as medidas da OMS em trabalhos presenciais na Câmara dos Deputados. As primeiras sessões e reuniões do ano já demonstraram a aglomeração e o descumprimento dos cuidados básicos por grande parte de parlamentares e assessores.

Os números que sabemos via imprensa – e relatos de colegas – apontam para um contágio crescente na Câmara Federal, bem como fora dela.

Temos casos de assessores parlamentares internados em UTI, senadores que já faleceram, deputado internado em UTI, bem como trabalhadores terceirizados que também, por usarem transporte coletivo etc, já foram contaminados e se encontram em frágil situação.

Sendo assim, elencamos, abaixo, mais razões para que continuemos em homeoffice, sem prejuízo ao processo legislativo:

– O ano e a Presidência da Câmara mudaram, mas a pandemia ainda não e, segundo especialistas, está ainda pior, com índices de contaminação altíssimos. A perspectiva de que as novas cepas de Covid-19 sejam ainda mais contagiosas mostram que esse não é o momento para que todas as atividades presenciais sejam retomadas;

– Os espaços físicos da Câmara, que recebem semanalmente, milhares de pessoas de todos os estados do Brasil, e de outros países, não contam com o distanciamento e a ventilação necessárias para que haja um fluxo normal e seguro de trabalho. Muitas salas não contam com janelas (plenários das comissões e plenário geral); Existem dezenas de salas em subsolos em todos os anexos, além de carpetes e falta de ventilação natural em praticamente todas as dependências da Casa;

– Todas e todos nós, deputados (as), assessores, funcionários da casa e visitantes estarão fragilmente expostos ao contato com o coronavírus. A Câmara dos Deputados não conseguirá garantir o uso de máscaras e medidas de distanciamento social (como já verificado por ocasião dos dias de eleição da nova Mesa Diretora e reunião da CMO, por exemplo), deixando-nos desprotegidos em nosso local de trabalho;

Em face deste quadro, os trabalhadores e trabalhadoras da Câmara dos Deputados sugerem a todos os partidos, a manutenção das sessões virtuais, que garantem a saúde de todas e todos, pois esta decisão não prejudicaria o bom funcionamento da casa, mas sim, asseguraria saúde para todos, inclusive aos parlamentares, os quais também estarão ainda mais expostos em trabalho presencial. Já foi provado que o trabalho remoto cumpre o objetivo, afinal, em 2020 milhares de proposições foram discutidas e aprovadas, sem contar na economia gerada ao erário;

Deixamos claro que nosso objetivo é continuarmos nosso trabalho remoto, sem prejuízo algum ao processo legislativo e ao País; mas queremos assegurar o direito  de resguardarmos a saúde, a vida, de milhares de servidores e parlamentares que trabalham nas dependências da Câmara dos Deputados, bem como seus familiares, os quais terão contato com os mesmos ao final do dia laboral.

Assinam:

Trabalhadores e Trabalhadoras da Câmara dos Deputados

Brasília, 16 de fevereiro de 2021

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