EUA: pandemia reduz expectativa de vida da população negra em 2,7 anos

A vantagem na expectativa de vida dos brancos em comparação com a dos negros aumentou 46% –, de 4,1 anos para seis anos

A pandemia de Covid-19 provocou uma histórica redução na expectativa de vida nos Estados Unidos. Conforme estimativas divulgadas nesta quinta-feira (18) pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a média de vida ficou um ano menor a partir do primeiro semestre de 2020, recuando a patamares de 2006. Para a população negra, o impacto foi ainda maior: a expectativa caiu 2,7 anos, chegando a 72. É o maior declínio registrado em qualquer grupo.

Embora as estimativas sejam parciais e não reflitam todos os efeitos da pandemia, o CDC afirmou que decidiu pela primeira vez publicar dados provisórios para avaliar o efeito do excesso de mortes registrado em 2020. A expressão “excesso de mortes” corresponde à diferença entre o número de mortes esperadas e o número real contabilizado.

“O declínio na expectativa de vida no primeiro semestre de 2020 é uma aberração em relação às mudanças na expectativa de vida de ano a ano durante as últimas duas décadas”, disse Elizabeth Arias, uma das autoras do relatório. Segundo ela, a queda de um ano foi a maior desde a 2ª Guerra Mundial, quando a expectativa de vida despencou 2,9 anos entre 1942 e 1943, em meio à alta mortalidade gerada pelo conflito.

A expectativa de vida estima o número médio de anos que um bebê viverá com base nas taxas de mortalidade do período especificado – no caso, entre janeiro e junho de 2020. Conforme o relatório, os norte-americanos viverão, em média, 77,8 anos. Em 2019, a taxa era de 78,8 anos.

Mas os números mudam quando analisados grupos específicos da população. Segundo o CDC, as disparidades raciais e étnicas nas taxas de mortalidade pioraram em 2020. Além da queda de 2,7 anos para a população negra, os hispânicos – que tinham uma expectativa de vida de quase 82 anos – sofreram um declínio de 1,9 ano.

Na população branca, a expectativa caiu menos de um ano, para 78 anos. A vantagem na expectativa de vida dos brancos em comparação com a dos negros aumentou 46% –, de 4,1 anos para seis anos – revertendo uma tendência de queda na lacuna entre os dois grupos observada desde 1993. Já a diferença na expectativa de vida entre a população hispânica e a branca diminuiu 37%, de três anos para 1,9 ano, de acordo com a pesquisa.

“O impacto na expectativa de vida vai persistir ou, mais provavelmente, se tornar ainda mais pronunciado à medida que dados do segundo semestre de 2020 forem computados”, disse Marc Gourevitch, presidente do departamento de saúde populacional do centro médico NYU Langone Health, em Nova York. Para Gourevitch, o intenso impacto da pandemia na economia deverá retardar o retorno da expectativa de vida aos níveis pré-pandêmicos.

Com informações da DW