Lula ajuda recompor contraponto de esquerda em momento de pandemia

A deputada Alice Portugal lamentou os mais de dois mil mortos em 24 horas, no dia em que Lula “deu aula de grandeza”. Para ela, o Brasil está em risco de estabilidade de sua soberania nacional

O dia foi repleto de notícias trágicas e momentos épicos. Na quarta-feira, 10, morreram 2.286 doentes de covid-19 de uma vez, o ex-presidente Lula discursou pela primeira vez na TV depois da anulação de suas condenações e a vacina Coronavac se revelou eficaz contra as variantes do coronavírus. No final do dia, a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) revelou ao portal Vermelho um misto de revolta contra a agenda do governo Bolsonaro, com esperança ao ver o campo progressista da política se recompor e os avanços científicos em meio caos sanitário.

A deputada baiana ainda observou que as 2.286 vidas perdidas para a covid-19 em 24 horas e os mais de 270 mil óbitos somados desde o início da pandemia, em março de 2020, precisam considerar a prevalência de subnotificação principalmente no início da pandemia. Para ela, os números podem ser bem mais assustadores que esses.

Para ela, a pauta ultraliberal de Bolsonaro coloca a estabilidade e a soberania brasileira em risco, conforme o Brasil vai se tornando o centro de risco sanitário mundial. Ela se refere ao modo como o país avança sobre Índia e EUA, dois países maiores em população, rumo ao primeiro lugar nos índices diários de contágios, óbitos e total descontrole sobre a pandemia.

“A vacinação ultralenta, por inépcia do ministro da Saúde e do governo do Brasil, coloca o país como centro de risco sanitário mundial. Esse é um fato comentado nos principais jornais internacionais, e nos preocupa sobremaneira pelo risco de estabilidade na nossa soberania. O desatino político de Bolsonaro e seus apoiadores expõe a nação brasileira nas suas entranhas”, declarou.

Ela relatou que participava, no instante da entrevista, de um debate na Câmara dos Deputados, “em que o estado é defenestrado dia após dia” da vida nacional. “A matemática da política está sendo utilizada para impor a pauta ultraliberal”, disse ela, referindo-se às votações que se somam para reduzir e enfraquecer os serviços públicos, privatizar empresas estratégicas para a população, como as de saneamento, eletricidade, correios e petróleo, ou mesmo impedir o controle do governo sobre a política macroeconômica do Banco Central.

“Com a população congelada pelo medo da pandemia, pelo desemprego e a fome crescente, cabe às forças políticas se mobilizarem para chamar a nação brasileira e as forças vivas da nação, para a ação”.

Alice considera que a luta para proteger a população da fome e do desemprego “é grande e tenaz”, mas os sindicatos estão descapitalizados de seus direitos, e a população paralisada e amedrontada pelo vírus e pelo desemprego, o que torna difícil “catalisar com a verdade, a possibilidade de, nas ruas de fora para dentro, a população pressione o Congresso e o governo no sentido da luta para tirar Bolsonaro”.

A feição da esquerda

Para a parlamentar, a presença vitoriosa do ex-presidente Lula no cenário político, forçando um contraponto com Bolsonaro, não deixa dúvida sobre a recomposição do pensamento progressista ignorado pela imprensa em tempos de bolsonarismo. Ela acredita que isso contribui para fortalecer a esquerda e pressionar o desgoverno com manifestações do povo.

Ela diz não ter dúvida de que o discurso de Lula sobre o golpe jurídico que o condenou à prisão ajuda a recompor a alternativa num momento de tanta polarização e silenciamento da esquerda na imprensa.

“Lula foi vítima do partidarismo jurídico de alguns, que precisam ser criminalmente imputados. Ele deu uma aula de grandeza, de cidadania, de coragem e nada paga seus longos dias de cadeia. Nós, comunistas, bem sabemos o quanto vale isso, seu sofrimento familiar, os que viram o Brasil mudar nucleado por um governo de esquerda”, comemorou.

Para ela, isso recoloca uma esperança no cenário. “Não, necessariamente, que seja com o seu nome, mas recompõe a feição da esquerda diante da nação. Prova que aquele tubo de dinheiro que voava toda noite nas grandes redes de televisão, não era uma verdade em si, mas uma campanha política para afastamento de um governo legitimamente eleito pelo povo”, critica.

A rebeldia pela vacina

Alice ficou feliz de saber que a vacina fabricada no Instituto Butantan, de São Paulo, é uma arma na luta contra as novas cepas do coronavírus, segundo pesquisas preliminares. No entanto, ela lamenta o modo como o Ministério da Saúde conduz a campanha de imunização sem garantir a vacina para todos.

“Primeiro, [Bolsonaro] chamou de vachina, vírus chinês, mas está se provando, a cada momento, que a ciência usou todos os recursos que tinha para esse enfrentamento. A resposta dele é tirar recursos da ciência e da tecnologia com a PEC 186”, atacou. A parlamentar conta que já há pedidos exaustivos do presidente da Câmara e do Senado para amainar a crise com o governo chinês, disse ela, referindo-se aos constantes ataques ideológicos do bolsonarismo contra a China, principal parceiro econômico do Brasil e potência industrial responsável por insumos farmacêuticos fundamentais para garantir a vacina no Brasil.

Ela deposita sua confiança nos governadores para garantir a vacinação, para sairmos do colapso em que já mergulhamos. “Precisamos que os entes federados se rebelem e garantam a vacina. A esperança está nos governadores. É em que me agarro no momento”, completou, otimista.