Alcides Amazonas: Lembranças do “baixinho” Haroldo Lima

Haroldo era um grande líder nacional, mas fazia questão de se envolver nas questões locais, cotidianas. Excelente gestor, elogiado por suas virtudes técnicas e políticas, lembrava-nos constantemente de nossas obrigações partidárias

Ex-deputado Haroldo Lima

Haroldo Lima – que morreu hoje (24), de Covid-19 – foi uma figura que se dedicava ao máximo em tudo que se relacionava ao nosso partido, o PCdoB. Ao mesmo tempo, era sempre atencioso com as pessoas ao seu redor – familiares, camaradas e companheiros de luta, amigos e colegas. Embora não fosse tão alto, chamava a todos, carinhosamente, de “baixinho” ou “baixinha”.

Tive o privilégio de conviver mais com ele durante sete anos na ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Haroldo era o diretor-geral da agência, nomeado pelo presidente Lula em 2005. Eu era um dos chefes de Fiscalização da ANP, responsável por seu escritório nos estados de São Paulo e do Paraná.

Embora ficasse sediado no Rio de Janeiro – que abriga o escritório central da ANP –, Haroldo vinha bastante para São Paulo, e eu procurava recebê-lo sempre nessas visitas. Com seu apoio, montei aqui a Força-Tarefa de Combate à Adulteração de Combustíveis, que teve imensa repercussão na grande mídia. Toda vez que ele via notícias da operação na TV, no rádio, na internet ou na imprensa escrita, pegava o telefone para me ligar, parabenizar e incentivar ainda mais nosso trabalho.

Haroldo era um grande líder nacional, mas fazia questão de se envolver nas questões locais, cotidianas. Excelente gestor, elogiado por suas virtudes técnicas e políticas, lembrava-nos constantemente de nossas obrigações partidárias. Volta e meia, chamava os comunistas que atuavam na ANP, nos mais diversos estados, para passar em revista nossa política. Falava e, sobretudo, ouvia. Após essas reuniões, costumávamos almoçar juntos e esticar a conversa.

Trabalhar com Haroldo Lima era gratificante – ele dava liberdade para todos opinarem e demonstrarem seus talentos. E também cobrava, cobrava muito, injetando eficiência e produtividade em tudo que estava sob sua responsabilidade. Foi na gestão dele que a ANP viveu seu auge, sobretudo com a histórica descoberta do pré-sal – a principal via para o Brasil alcançar a autossuficiência no petróleo e a soberania energética.

Haroldo defendeu com brilhantismo o regime de partilha do pré-sal, que garantia ao Estado o controle da produção e atendia, antes de tudo, aos interesses nacionais e populares. Esse regime prevaleceu até o governo golpista e entreguista de Michel Temer, que, ligado aos setores especulativos, trocou a partilha pela concessão. Pela mesma razão – a denúncia do criminoso entreguismo –, Haroldo foi uma das primeiras personalidades a desmascarar publicamente a operação Lava Jato e a política de preços da Petrobras.

Esse seu lado profissional, sério, exigente, combativo, não alterava seu jeito fraterno. No dia do anúncio da descoberta do pré-sal, no Rio de Janeiro, estava tudo muito agitado. Mas, ao cruzar comigo dentro de um elevador, antes de se encontrar com o presidente da República e diversos ministros, Haroldo me chamou até sua sala para perguntar como estavam as coisas lá no Paraná. Parece um dia qualquer – e não o momento em que os meios políticos, econômicos e midiáticos estavam, todos, à espera de respostas de Haroldo sobre o pré-sal.

Este era o “baixinho” Haroldo Lima, nosso camarada, líder e amigo. Vai fazer muita falta!

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