OMS começa a projetar controle da pandemia apenas em 2022

Segundo diretora da OMS, “não se pode assentar a esperança na vacina para resolver todos os problemas”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a pôr em dúvida sua própria previsão de que a pior fase da pandemia fosse vencida neste ano. O quadro que a entidade de pintava era o de que em 2021, com a vacinação em massa, a Covid-19 deixasse de ser uma doença causadora de tantas mortes e de tantos casos graves. Mas a disseminação de novas variantes e a dificuldade da maioria das nações em obter doses necessárias de imunizantes estão provocando uma revisão nas avaliações na OMS.

“A intenção neste ano sempre foi acabar com a fase aguda da pandemia – ou seja, impedir que as pessoas morressem por conta desse vírus”, disse ao Valor Econômico a brasileira Mariângela Simão, diretora-geral assistente da OMS. Segundo ela, todas as vacinas disponíveis até hoje têm o efeito de evitar exatamente que a doença se agrave e, consequentemente, que os contaminados morram.

“Todo vírus tem mutações, as variantes – e há algumas mutações com impacto na transmissão. Ou seja, são transmitidas mais facilmente e eventualmente pode ter alguma variante que tenha impacto na eficácia da vacina”, disse ela, de Genebra, onde fica a sede da entidade. Para Mariângela, a mensagem – que vale para o Brasil e para muitos países – é simples e direta: “Não se pode assentar a esperança na vacina para resolver todos os problemas, porque a vacina não vai resolver todos os problemas este ano”.

A OMS aplaude o avanço científico e os investimentos globais que conseguiram em tempo recorde dar ao mundo várias vacinas contra a Covid-19. Além dos imunizantes já aprovados e em uso, existem mais de 200 candidatas à vacina, sendo 82 já na fase de testes em humanos.

Enquanto correm para atender à demanda por vacinas anti-Covid, fabricantes precisam manter a produção de outros imunizantes. “É preciso que as vacinas de rotina continuem sendo produzidas. Não tem como, por exemplo, deixar de produzir vacina contra o sarampo”, diz. “Existe uma capacidade limitada da capacidade produtiva global.” A escassez de insumos necessários à produção da vacina contra a doença é outro complicador. “Grandes produtores têm avisado a quem comprou sobre a redução do suprimento das vacinas por dificuldades na produção.”

E há ainda a desigualdade, imposta pelos Estados Unidos e pela Europa. “Vários países ricos fizeram acordos bilaterais grandes com indústria farmacêutica, muitas vezes comprando adiantado cinco, seis vezes o número de doses de que precisariam. Esses países estão segurando essas doses”, diz Mariângela. “Isso tudo faz parte desse cenário: não tem vacina para todo mundo.”

Outra mensagem simples e direta da diretora da OMS é que governos e famílias mantenham a guarda alta, com máscaras, desinfecção das mãos, distanciamento e – nos momentos de pico – fechamento do comércio. A recomendação é sobretudo para países como o Brasil, que continua a ser visto pela OMS com preocupação – seja pelas mortes, seja por ser a fonte de disseminação da variante P.1 pela América do Sul.

“Há um apelo ao Brasil para que haja uma unicidade nas medidas de prevenção nas três esferas de governo”, disse Mariângela, afirmando informações desencontradas confundem a população. “É importante que as políticas públicas sejam baseadas em evidências científicas”, conclui.

Com informações do Valor Econômico